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ORIENTE MÉDIO
No Brasil para pedir apoio à investigação sobre morte do pai, líder libanês diz que grupo não é terrorista
Filho de Hariri defende ação do Hizbollah
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
Se recebesse uma ligação do
premiê israelense, Ariel Sharon,
propondo negociações de paz, o
deputado libanês Saad Hariri diria que é engano. A reação, embora dita de forma irônica, mostra
que, mesmo com o fim da presença síria no país em abril, após quase 30 anos, permanece no Líbano
um sentimento de dependência.
Não mais de Damasco, mas do
consenso árabe, que impõe uma
solução coletiva para o conflito
com Israel e apóia a ação de "resistência" de grupos como o Hizbollah, que figura na lista do terror do governo americano. Hariri,
35, veio ao Brasil pedir apoio ao
presidente Lula às investigações
da ONU sobre o assassinato de
seu pai, o premiê Rafik Hariri
(1992-98 e 2000-04), em fevereiro.
Ao contrário da comissão, para a
qual o atentado não seria possível
sem o aval da Síria, Hariri não
aponta o dedo para Damasco,
preferindo a cautela enquanto espera o resultado da investigação.
A seguir, trechos da entrevista
de Hariri à Folha, concedida ontem em São Paulo.
Folha - Quem matou Rafik Hariri e
por que?
Rafik Hariri - Há uma comissão
da ONU encarregada de investigar o assassinato, e eles apontaram suspeitos. Quer aponte culpados libaneses ou sírios, sua conclusão será aceita por mim.
Folha - O relatório joga suspeitas
sobre altos dirigentes do regime.
Que interesse a Síria teria em matar
seu pai?
Hariri - Está além da minha compreensão. Meu pai não incomodava o regime sírio, fazia o que era
melhor para o Líbano. Ele tinha a
sua opinião e a dizia.
Folha - O sr. acha que poderia haver envolvimento do regime sírio
sem o conhecimento do presidente
Bashar al Assad, como ele alega?
Hariri - Não sei. Não sei como
funciona o regime nem como eles
chegariam a uma decisão como
essa. Creio que a investigação da
ONU chegará às respostas certas.
Folha - Por que o sr., diferentemente de EUA, França e Reino Unido, foi contra a aplicação de sanções econômicas contra a Síria?
Hariri - Nós nos preocupamos
com o povo sírio. Os povos sírio e
libanês são parte de uma mesma
cultura.
Folha - O presidente Assad disse
que o relatório é politizado e que
há uma conspiração contra a Síria.
O que o sr. acha disso?
Hariri - Às vezes a verdade dói. E
para encarar a realidade é preciso
coragem. Espero que a Síria coopere, pelo interesse de todos.
Folha - Como fica o envolvimento
da Síria no Líbano?
Hariri - Estamos tentando criar
uma rede de segurança no Líbano, que impeça interferências.
Folha - Houve quem temesse pela
volta da guerra civil após o assassinato de Hariri, o que não ocorreu.
Mas ainda há tensão. Por que?
Hariri - A guerra civil acabou e
não voltaremos a ela. Há algumas
tensões políticas porque o Líbano,
pela primeira vez em 30 anos de
dominação [externa], está se governando.
Folha - Qual é sua opinião sobre o
Hizbollah, que está na lista de grupos terroristas dos EUA? Deveria
ser desarmado?
Hariri - O Hizbollah é um partido libanês. Você tem de entender
que o Hizbollah tem um eleitorado de cerca de 500 mil pessoas.
Sua resistência é necessária. O fato é que temos uma terra ocupada
[por Israel] e que precisa ser libertada. Não somos a favor do desarmamento do Hizbollah por si só.
Precisamos de uma discussão e de
tempo para estabilizar o país.
Folha - Esse diálogo incluiria forças externas, como Israel?
Hariri - Todos os países árabes
querem a paz com Israel. Mas não
seremos os primeiros a assinar
um acordo. Veja a situação dos
palestinos. Por serem fracos, não
conseguem negociar.
Folha - Por que o sr., que era crítico à presença síria no Líbano, se
aliou a grupos ligados a Damasco?
Hariri - O Amal e o Hizbollah representam grande fatia do eleitorado. Não podemos excluí-los.
Folha - Como o sr. vê a política
americana de incentivar a democracia no mundo árabe?
Hariri - Todo povo tem direito de
decidir seu destino, mas cada um
tem seu próprio ritmo. Os EUA
têm boas intenções, mas péssimos meios de implementá-las.
Folha - Se o seu telefone tocasse
agora e fosse Sharon, propondo
negociar a paz, o que o sr. diria?
Hariri - Diria que é engano.
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