São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Equador teme instabilidade após eleição

Segundo turno acontece hoje, e candidatos estão empatados nas pesquisas; teme-se que perdedor não aceite derrota

Troca de insultos e acusação de fraude marcam disputa entre esquerdista Correa e conservador Noboa; existe risco de ingovernabilidade

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cerca de 9 milhões de eleitores equatorianos comparecerão ao segundo turno presidencial hoje bastante divididos e razoavelmente hesitantes entre dois candidatos ideologicamente opostos, mas também temerosos de que possa haver uma "mexicanização" do país, com o candidato derrotado sem aceitar a vitória do adversário sob a alegação de fraude.
A maioria das pesquisas de intenção de voto revela um empate técnico, e um número ainda considerável de eleitores indefinidos deixam o resultado imprevisível. Depois de vencer o primeiro turno e liderar durante quase toda a campanha do segundo (ao todo, seis longas semanas), o milionário Álvaro Noboa, de direita, passou a perder terreno para o esquerdista Rafael Correa, um aliado do venezuelano Hugo Chávez.
Uma pesquisa divulgada na sexta-feira pela empresa Cedatos/Gallup mostrou, pela primeira vez em sua série de levantamentos, uma ligeira vantagem a Correa, embora dentro do empate técnico. O candidato da Alianza País chega a 52%, enquanto Noboa, do Partido Renovador Institucional Ação Nacional (Prian), obtém 48%.
O número de indecisos também é parecido ao de outros levantamentos: surpreendentes 17%. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para cima ou para baixo.
"Há uma incerteza se o suposto empate técnico que as pesquisas mostram ocorrerá da mesma forma nas eleições dado o alto número de indecisos", disse à Folha José Hernandez, analista político e diretor editorial da revista "Vanguardia".

Contestação
Caso a diferença apertada dos levantamentos se mantenha nas urnas, o temor no país politicamente mais instável da região é a contestação dos resultado pela parte derrotada.
"Não é apenas um possível cenário à mexicana. Os dois candidatos colocaram pedras no caminho para justamente poderem se proclamar vencedores. E isso é um cenário perigoso", diz Hernandez.
Correa, que alega ter havido fraude no primeiro turno, disse a milhares de simpatizantes na última quinta-feira para evitar que "roubem" as eleições de hoje. Na votação de 15 de outubro, as acusações do esquerdista ganharam força depois que o consórcio brasileiro E-Vote, contratado pelo governo equatoriano para fazer a apuração, não conseguiu cumprir os prazos estabelecidos e teve o contrato rescindido.
"A oligarquia e a partidocracia dos canais de televisão e dos banqueiros vão tentar uma fraude no domingo e por isso temos de estar vigilantes", disse Correa a 5.000 pessoas, em Quito, onde tem mais apoio.
Já Noboa, que tem sua base eleitoral na relativamente próspera Guayaquil e em outras cidades litorâneas, disse na quinta-feira que ainda lidera as pesquisas e convocou seus simpatizantes a celebrar a vitória nas ruas logo após o fechamento das urnas, mesmo antes de saírem os resultados.
Temendo confrontos, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pediu às redes de TV que não divulguem pesquisas de boca-de-urna se a diferença entre os dois for pequena. A ONG Participação Cidadã, que fará um levantamento paralelo, já disse que não divulgará números se a diferença for menor que 50 mil.
"Faço uma apelo emocionado ao povo do Equador: vocês devem ter a segurança, a tranqüilidade, a paz para esperar pelos resultados oficiais", disse anteontem o presidente do TSE, Xavier Cazar, que previu que os números finais saiam somente na terça-feira.

Estabilidade distante
A troca de insultos entre os candidatos, as acusações de fraude e o Congresso eleito bastante fragmentado têm gerado um forte pessimismo sobre as chances de o Equador sair de dez anos de forte instabilidade política, período em que nenhum dos três presidentes eleitos terminou o mandato.
"Já se pode dizer desde agora que haverá um fracasso de governabilidade", diz Hernandez.
Para o analista, caso Noboa ganhe, terá mais possibilidade de conseguir a maioria no Congresso, mas ele não reúne condições de empreender as reformas políticas e sociais exigidas pela população. Já o maior problema de Correa na Presidência, afirma ele, seria o fato de que seu partido não lançou candidatos ao Congresso.


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