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Equador teme instabilidade após eleição
Segundo turno acontece hoje, e candidatos estão empatados nas pesquisas; teme-se que perdedor não aceite derrota
Troca de insultos e acusação de fraude marcam disputa entre esquerdista Correa e conservador Noboa; existe
risco de ingovernabilidade
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cerca de 9 milhões de eleitores equatorianos comparecerão ao segundo turno presidencial hoje bastante divididos e
razoavelmente hesitantes entre dois candidatos ideologicamente opostos, mas também
temerosos de que possa haver
uma "mexicanização" do país,
com o candidato derrotado sem
aceitar a vitória do adversário
sob a alegação de fraude.
A maioria das pesquisas de
intenção de voto revela um empate técnico, e um número ainda considerável de eleitores indefinidos deixam o resultado
imprevisível. Depois de vencer
o primeiro turno e liderar durante quase toda a campanha
do segundo (ao todo, seis longas semanas), o milionário Álvaro Noboa, de direita, passou a
perder terreno para o esquerdista Rafael Correa, um aliado
do venezuelano Hugo Chávez.
Uma pesquisa divulgada na
sexta-feira pela empresa Cedatos/Gallup mostrou, pela primeira vez em sua série de levantamentos, uma ligeira vantagem a Correa, embora dentro
do empate técnico. O candidato
da Alianza País chega a 52%,
enquanto Noboa, do Partido
Renovador Institucional Ação
Nacional (Prian), obtém 48%.
O número de indecisos também é parecido ao de outros levantamentos: surpreendentes
17%. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para cima ou para baixo.
"Há uma incerteza se o suposto empate técnico que as
pesquisas mostram ocorrerá da
mesma forma nas eleições dado o alto número de indecisos",
disse à Folha José Hernandez,
analista político e diretor editorial da revista "Vanguardia".
Contestação
Caso a diferença apertada
dos levantamentos se mantenha nas urnas, o temor no país
politicamente mais instável da
região é a contestação dos resultado pela parte derrotada.
"Não é apenas um possível
cenário à mexicana. Os dois
candidatos colocaram pedras
no caminho para justamente
poderem se proclamar vencedores. E isso é um cenário perigoso", diz Hernandez.
Correa, que alega ter havido
fraude no primeiro turno, disse
a milhares de simpatizantes na
última quinta-feira para evitar
que "roubem" as eleições de
hoje. Na votação de 15 de outubro, as acusações do esquerdista ganharam força depois que o
consórcio brasileiro E-Vote,
contratado pelo governo equatoriano para fazer a apuração,
não conseguiu cumprir os prazos estabelecidos e teve o contrato rescindido.
"A oligarquia e a partidocracia dos canais de televisão e dos
banqueiros vão tentar uma
fraude no domingo e por isso
temos de estar vigilantes", disse Correa a 5.000 pessoas, em
Quito, onde tem mais apoio.
Já Noboa, que tem sua base
eleitoral na relativamente
próspera Guayaquil e em outras cidades litorâneas, disse na
quinta-feira que ainda lidera as
pesquisas e convocou seus simpatizantes a celebrar a vitória
nas ruas logo após o fechamento das urnas, mesmo antes de
saírem os resultados.
Temendo confrontos, o TSE
(Tribunal Superior Eleitoral)
pediu às redes de TV que não
divulguem pesquisas de boca-de-urna se a diferença entre os
dois for pequena. A ONG Participação Cidadã, que fará um levantamento paralelo, já disse
que não divulgará números se a
diferença for menor que 50 mil.
"Faço uma apelo emocionado ao povo do Equador: vocês
devem ter a segurança, a tranqüilidade, a paz para esperar
pelos resultados oficiais", disse
anteontem o presidente do
TSE, Xavier Cazar, que previu
que os números finais saiam
somente na terça-feira.
Estabilidade distante
A troca de insultos entre os
candidatos, as acusações de
fraude e o Congresso eleito bastante fragmentado têm gerado
um forte pessimismo sobre as
chances de o Equador sair de
dez anos de forte instabilidade
política, período em que nenhum dos três presidentes eleitos terminou o mandato.
"Já se pode dizer desde agora
que haverá um fracasso de governabilidade", diz Hernandez.
Para o analista, caso Noboa
ganhe, terá mais possibilidade
de conseguir a maioria no Congresso, mas ele não reúne condições de empreender as reformas políticas e sociais exigidas
pela população. Já o maior problema de Correa na Presidência, afirma ele, seria o fato de
que seu partido não lançou candidatos ao Congresso.
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