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Na Venezuela de Chávez, petróleo é bênção e maldição
Alta do preço da commodity favorece economia; porém, modelo não é sustentável
Corrupção e segurança pública são pontos baixos após oito anos de mandato; gasto social aumenta, mas pobreza permanece alta
JOÃO CARLOS BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Depois de seguidos recordes
nos preços do petróleo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chega a quase oito anos de
mandato com uma série de resultados positivos na economia
para exibir até as eleições do
próximo domingo, mas tem na
segurança pública e na corrupção os pontos fracos explorados
pela oposição.
Chávez concorre a um terceiro mandato -o segundo sob a
Constituição de 1999, que prevê mandatos de seis anos, com
uma reeleição. Segundo pesquisa do instituto Ipsos e da
agência de notícias Associated
Press, divulgada na última sexta-feira, seu governo tem 63%
de aprovação e ele tem 59% das
intenções de voto, contra 27%
para o candidato único da oposição, Manuel Rosales, governador do Estado de Zulia. A
pesquisa, com 2.500 eleitores,
tem margem de erro de 3 pontos percentuais.
A análise dos indicadores
econômicos e sociais do país
mostra que os anos de 2002 e
2003, quando houve a tentativa
de golpe de Estado e a greve geral de cerca de dois meses, foram os piores. Depois, houve
uma recuperação e a superação
de índices com os quais Chávez
começou seu governo, em 1999.
Para os críticos, porém, o
modelo seguido até agora é insustentável no médio prazo,
mesmo que os preços do petróleo se mantenham altos, e repete erros do passado. Um argumento é que a iniciativa privada tem pouca participação no
avanço da economia e que será
difícil sustentar o nível de gasto
público (leia texto ao lado).
Ao assumir a Presidência,
Chávez recebeu o país com um
índice de crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) de
0,3%. Depois de quedas de
8,9% e 7,7% em 2002 e 2003,
ele chega ao final de 2006 com a
perspectiva de terceiro ano seguido de crescimento acima
dos 9%. No acumulado do mandato, o índice é de 20,13%, com
média de 2,3% ao ano.
A arrecadação tributária,
sem contar a receita proveniente da indústria petrolífera,
teve crescimento de 76,2% em
2004 e de 57% em 2005, contra
22% em 1998, num país com
tradição de sonegação de impostos. A arrecadação ficou sob
o comando de um militar reformado como Chávez e colega na
tentativa de golpe de Estado de
fevereiro de 1992.
Dependência
Com a alta do petróleo no
mercado internacional, Chávez
avançou apenas parcialmente
em tornar a Venezuela menos
dependente desse setor, o principal da economia do país.
O ingresso fiscal não proveniente do petróleo subiu para
50% do total. A participação da
indústria petrolífera no PIB,
que era de 18,7% em 1998, caiu
para 16,2% em 2005, mas o percentual que o setor representa
nas exportações do país cresceu bastante, de 64,3% para
84,9% na comparação entre os
mesmos dois anos.
Na área social, houve redução da taxa de pobreza, que, no
entanto, ainda é alta, segundo
cálculos do INE (Instituto Nacional de Estatísticas) com base na capacidade da família de
prover alimentação e serviços
para seus membros. O índice
caiu de 50,4% no final de 1998
para 39,7% no primeiro semestre de 2006. A pobreza extrema
passou de 20,3% para 12,9%.
Houve elevação do gasto social, tanto na proporção do gasto público total como em percentual do PIB. Os programas
sociais com mais visibilidade
são as missões, como a Robinson, de alfabetização, e a Barrio
Adentro, que fixa médicos -geralmente cubanos- em comunidades carentes.
No quesito desigualdade, um
dos itens registrados pela ONU,
o índice de Gini (a mais difundida medida de distribuição de
renda), caiu no país entre o primeiro ano chavista e 2004.
A segurança pública e o combate à corrupção são as áreas
em que a situação se inverte para Chávez. Por isso, estão entre
os principais assuntos da campanha eleitoral.
A percepção de corrupção,
indicador divulgado anualmente pela ONG Transparência Internacional, está estagnada em
2,3 na Venezuela desde 2004, o
mesmo valor registrado em
1998. Quanto menor o resultado, numa escala de 0 a 10, maior
é a percepção de corrupção. Essa situação é mais significativa
no caso de Chávez, porque ele
se elegeu em 1998 prometendo
renovar as práticas políticas.
Na segurança pública, a taxa
de homicídios para cada 100
mil habitantes mais do que dobrou entre 1998 e 2004, o último ano com dados acessíveis.
Houve aumento também dos
roubos em geral e dos roubos
de carros, na comparação com
2003. Em pesquisa divulgada
recentemente pela Organização dos Estados Ibero-Americanos com 84 países, a Venezuela aparece em segundo no
homicídio de jovens, atrás apenas da Colômbia, e também em
segundo entre 65 países nas
mortes de jovens por armas de
fogo, atrás do Brasil.
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