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Símbolo de San Francisco, Golden Gate deve ganhar esquema anti-suicídios
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Fazia sol em 19 de setembro
de 2000 quando Kevin Hines,
24, foi de ônibus à ponte Golden Gate, em San Francisco.
Ao ouvir vozes interiores, andou até o mirante, subiu no
parapeito e pulou. Sobreviveu.
Desde a inauguração da obra,
em 1937, cerca de 1.600 suicidas se atiraram dos 80 metros
em direção à baía, altura equivalente a um prédio de 26 andares. Até hoje, apenas 12 não
morreram.
Um dos mais importantes
pontos turísticos dos EUA, a
Golden Gate registra hoje o
maior índice de suicídios do
mundo. Para conter a estatística, a prefeitura estuda a
construção de barreiras de
proteção, ao custo de US$ 25
milhões (R$ 54 milhões).
Embora pareça politicamente correto, o projeto gera
discussões e criou uma corrente de moradores, políticos,
engenheiros e médicos contrários. Os argumentos:
1) As grades descaracterizariam a arquitetura Art Déco
original da ponte;
2) Os suicidas migrariam
para outras pontes na região
da baía de São Francisco, como a Bay Bridge;
3) Apenas 3% das pessoas
que se matam na cidade usam
a ponte como método;
4) Os US$ 25 milhões, cuja
origem ainda é desconhecida,
poderiam ser mais bem aplicados, como em programas educativos.
"Garanto que se houvesse
proteção eu não teria tentado
me matar. O acesso é muito fácil, e a vida vale mais do que a
estética", disse Hines à Folha.
Hoje, ele trabalha em campanhas e programas anti-suicídio de ONGs da cidade. Quebrou os tornozelos, seis costelas e deslocou duas vértebras
na queda.
Aerodinâmica
Denis Mulligan, engenheiro
da Highway and Transportation District, agência que administra a Golden Gate, explica que as obras mudariam a
aeração e a aerodinâmica da
ponte, o que prejudicaria a estrutura de 2,7 km.
"As mudanças trariam um
impacto imenso. É como modificar as asas de um avião. Parece nada, mas o desgaste é
enorme", diz.
Só o estudo de impacto ambiental custou US$ 2 milhões
(R$ 4,23 milhões) à concessionária, que calcula US$ 70 milhões (R$ 151 milhões) em custos de manutenção nos próximos cinco anos.
Resultado: pedágio mais caro, fim do serviço de ônibus e
demissão de todos os funcionários que trabalhavam na
ponte. Uma parceria com a
iniciativa privada deve ser
aprovada em troca de publicidade em breve.
Cinema
Os suicídios da Golden Gate
viraram coisa de cinema. Em
2004, o diretor Eric Steel gravou 20 saltos na ponte. O registro é a base do documentário "The Bridge", lançado neste ano. O filme, exibido recentemente na 30ª Mostra Internacional de São Paulo, ouve
depoimentos de familiares e
amigos dos suicidas para tentar entender seus motivos.
Por mês, duas pessoas se jogam da Golden Gate, segundo
a Highway and Transportation District. Em 2005, 23
morreram, e outros 76 foram
impedidos de pular por policiais que faziam vigilância na
região. Dois antigos pontos famosos de suicídio, o Empire
State Building e o Rockefeller
Center, em Nova York, reduziram para zero as mortes instalando barreiras de vidro.
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