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Especialistas vêem aumento da islamofobia no continente
DE LONDRES
Em meio à crescente controvérsia sobre a integração muçulmana e de imigrantes na Europa, a Folha ouviu durante a
última semana um grupo de especialistas para analisar a
questão dos pontos de vista político e social. Leia a seguir suas
principais conclusões.
(MAC)
FOLHA - Os governos europeus estão radicalizando suas políticas contra imigrantes e muçulmanos?
DAUD ABDULLAH, vice-presidente do
Conselho Muçulmano Britânico - É
importante reconhecer que a
islamofobia está se espalhando
rapidamente pela Europa, e isso tem suas raízes no preconceito histórico contra imigrantes. Muitos políticos estão tentando utilizar isso a seu favor
-no Reino Unido, o governo
trabalhista concluiu que não
tem mais o apoio da comunidade muçulmana e começou a
buscar os votos conservadores
e de radicais de direita.
MILENA BUYUM, coordenadora da Assembléia Nacional Contra o Racismo -
As organizações fascistas de extrema-direita estão avançando
na Europa -elas têm representação no Parlamento Europeu
e influenciam políticas de governo em diversos países-, e os
partidos mais ao centro estão
assumindo algumas das bandeiras desses movimentos. Isso
é preocupante, mas há oposição a esse movimento, há políticos dizendo que esse ataque é
inaceitável, que é racismo.
STEPHEN CASTLES, professor da Universidade de Oxford, especialista em
migração internacional e sociedades
multiculturais na Europa - A preocupação com segurança está virando hostilidade em relação
aos imigrantes e muçulmanos,
apesar de a maioria deles não
ter relação nenhuma com extremistas.
FOLHA - O multiculturalismo torna
as sociedades menos integradas?
STEPHEN CASTLES - Esse argumento culpa a vítima. Os imigrantes sofrem com o racismo,
não ganham as condições para
se integrar e acabam sendo excluídos sob o argumento de que
sua cultura não é compatível
com a européia. O medo dos
muçulmanos e das diferenças
culturais é resultado da falha
em conseguir igualdade para os
imigrantes.
TREVOR PHILLIPS, chefe da Comissão
para a Igualdade Racial do governo britânico - O conceito de multiculturalismo está datado. Reconhecer as diferenças é importante, mas não se pode aceitar
tudo por causa disso. Se quisermos obter os benefícios da diversidade, não podemos ser
complacentes. Precisamos integrar essa sociedade multiétnica, ou haverá mais fragmentação.
MILENA BUYUM - Dizer que enfrentamos os problemas atuais
porque valorizamos as diferenças culturais é inverter completamente a questão. O multiculturalismo oferece a melhor solução para uma sociedade coesa, em que as pessoas podem
escolher ser como quiserem,
em vez de serem forçadas a largar suas culturas, línguas e
identidades.
FOLHA - É possível integrar muçulmanos à cultura ocidental?
DAVID EDGAR, dramaturgo e membro
da Sociedade Real de Literatura do Reino Unido - Não creio que a questão possa ser polarizada assim.
Essa idéia de que direitos humanos e das minorias é parte
da tradição ocidental desde o
Iluminismo é um equívoco. Diversos países europeus não têm
um bom registro em termos de
direitos humanos nas últimas
décadas. O argumento de que
temos uma coisa maravilhosa e
imutável chamada civilização
ocidental que está sendo confrontada por outra coisa fixa
chamada de cultura islâmica
não é verdadeira.
DAUD ABDULLAH - Os muçulmanos estão na Europa há mais de
um século, os europeus têm
contato com o islã há mais de
mil anos. Dizer que não podemos viver com os ocidentais é
uma falácia.
STEPHEN CASTLES - Certamente
há valores diferentes. Pode-se
argumentar que os valores muçulmanos são mais conservadores, centrados no núcleo familiar, que vêm de uma sociedade pré-industrial. Numa sociedade democrática, as pessoas devem ter direito de manter sua cultura, além de terem a
oportunidade de participar como cidadãos.
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