São Paulo, Domingo, 26 de Dezembro de 1999


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AMBIENTE
É a 1ª vez em 150 anos que o rio de Londres é habitado por focas; governo quer que região vire área de lazer

Focas mostram que Tâmisa está limpo

FÁBIO ZANINI
de Londres

Pela primeira vez em 150 anos, o rio Tâmisa, que corta a região central de Londres, está sendo habitado por focas.
Nas últimas duas semanas, diversos grupos ambientalistas avistaram uma família de pelo menos quatro focas nadando perto de algumas das construções mais famosas localizadas às margens do rio, como o Parlamento (onde fica o popular Big Ben) e a Torre de Londres.
A notícia mostra que o Tâmisa, que já foi um dos rios mais poluídos da Europa, está praticamente limpo.
E, por uma coincidência que já está sendo capitalizada politicamente pelas autoridades britânicas, o fato ocorre no exato momento em que o governo dá os retoques finais em um ambicioso projeto para mudar radicalmente a cara do rio.
"Se as coisas andarem como planejadas, finalmente os habitantes de Londres terão uma relação próxima com o Tâmisa e deixarão de ver o rio somente como via para transporte de cargas. O fato de o rio estar despoluído aumenta esse apelo junto às pessoas", diz o urbanista Andrew Thornley, professor da London School of Economics.
As margens do Tâmisa -principalmente a margem sul, mais decadente- foram tomadas por obras desde o início do ano.
Vários projetos arquitetônicos voltados para o lazer e a cultura, que funcionariam como catalisadores do processo de revitalização, estão a pleno vapor.
Os dois principais -o Millennium Dome (prédio de formato futurista que abrigará exposições de caráter científico) e o London Eye (o "olho de Londres", a maior roda-gigante do mundo) serão abertos ao público já nos primeiros dias do ano 2000.
Outros destaques são uma nova filial da Tate Gallery (um dos principais museus de arte da cidade), a construção da Millennium Bridge (ponte exclusivamente para pedestres, a primeira a ser erguida sobre o rio em 105 anos) e a ampliação do Globe (réplica do teatro em que William Shakespeare encenou grande parte de suas peças).
"O Tâmisa nunca foi visto como um local em que as pessoas poderiam se divertir e passar seus momentos de lazer, como acontece em Paris, com o rio Sena, por exemplo", diz Genia Leontowitsch, coordenadora do Docklands Forum, grupo que faz campanha por reformas urbanísticas nas regiões que margeiam o rio britânico.
O projeto de revitalização do Tâmisa inclui ainda a construção de ciclovias, a ampliação de parques situados às margens do rio e vias exclusivas para pedestres poderem caminhar próximo ao leito do rio.
O investimento total previsto ultrapassa o equivalente a R$ 3 bilhões e provocou críticas de políticos, órgãos de imprensa e urbanistas ao longo do ano, que o consideraram muito alto.
Mas, se a primeira fase das reformas foi turbulenta, a etapa seguinte promete ser explosiva.
"Agora é que o governo terá de mostrar o que realmente quer fazer com o Tâmisa", diz o urbanista Thornley.
Várias áreas decadentes, com casas malconservadas e terrenos baldios, ainda se localizam às margens do rio, principalmente próximo à região das Docklands (antigo porto que foi recuperado e hoje abriga um centro empresarial).
Demolir essas casas para dar lugar a restaurantes, lojas e praças, algo que o governo cogita fazer em alguns anos, criaria um sério problema habitacional, além de envolver maiores gastos.


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