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AMBIENTE
É a 1ª vez em 150 anos que o rio de Londres é habitado por focas; governo quer que região vire área de lazer
Focas mostram que Tâmisa está limpo
FÁBIO ZANINI
de Londres
Pela primeira vez em 150 anos, o
rio Tâmisa, que corta a região
central de Londres, está sendo habitado por focas.
Nas últimas duas semanas, diversos grupos ambientalistas
avistaram uma família de pelo
menos quatro focas nadando perto de algumas das construções
mais famosas localizadas às margens do rio, como o Parlamento
(onde fica o popular Big Ben) e a
Torre de Londres.
A notícia mostra que o Tâmisa,
que já foi um dos rios mais poluídos da Europa, está praticamente
limpo.
E, por uma coincidência que já
está sendo capitalizada politicamente pelas autoridades britânicas, o fato ocorre no exato momento em que o governo dá os retoques finais em um ambicioso
projeto para mudar radicalmente
a cara do rio.
"Se as coisas andarem como
planejadas, finalmente os habitantes de Londres terão uma relação próxima com o Tâmisa e deixarão de ver o rio somente como
via para transporte de cargas. O
fato de o rio estar despoluído aumenta esse apelo junto às pessoas", diz o urbanista Andrew
Thornley, professor da London
School of Economics.
As margens do Tâmisa -principalmente a margem sul, mais
decadente- foram tomadas por
obras desde o início do ano.
Vários projetos arquitetônicos
voltados para o lazer e a cultura,
que funcionariam como catalisadores do processo de revitalização, estão a pleno vapor.
Os dois principais -o Millennium Dome (prédio de formato
futurista que abrigará exposições
de caráter científico) e o London
Eye (o "olho de Londres", a maior
roda-gigante do mundo) serão
abertos ao público já nos primeiros dias do ano 2000.
Outros destaques são uma nova
filial da Tate Gallery (um dos
principais museus de arte da cidade), a construção da Millennium
Bridge (ponte exclusivamente para pedestres, a primeira a ser erguida sobre o rio em 105 anos) e a
ampliação do Globe (réplica do
teatro em que William Shakespeare encenou grande parte de
suas peças).
"O Tâmisa nunca foi visto como
um local em que as pessoas poderiam se divertir e passar seus momentos de lazer, como acontece
em Paris, com o rio Sena, por
exemplo", diz Genia Leontowitsch, coordenadora do Docklands Forum, grupo que faz
campanha por reformas urbanísticas nas regiões que margeiam o
rio britânico.
O projeto de revitalização do
Tâmisa inclui ainda a construção
de ciclovias, a ampliação de parques situados às margens do rio e
vias exclusivas para pedestres poderem caminhar próximo ao leito
do rio.
O investimento total previsto
ultrapassa o equivalente a R$ 3 bilhões e provocou críticas de políticos, órgãos de imprensa e urbanistas ao longo do ano, que o consideraram muito alto.
Mas, se a primeira fase das reformas foi turbulenta, a etapa seguinte promete ser explosiva.
"Agora é que o governo terá de
mostrar o que realmente quer fazer com o Tâmisa", diz o urbanista Thornley.
Várias áreas decadentes, com
casas malconservadas e terrenos
baldios, ainda se localizam às
margens do rio, principalmente
próximo à região das Docklands
(antigo porto que foi recuperado
e hoje abriga um centro empresarial).
Demolir essas casas para dar lugar a restaurantes, lojas e praças,
algo que o governo cogita fazer
em alguns anos, criaria um sério
problema habitacional, além de
envolver maiores gastos.
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