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VENEZUELA EM CRISE
Para ex-prefeito, Brasil mostra "inclinação" pró-Chávez; "oposição não tem legitimidade", diz enviado de Lula
Ajuda brasileira é "intromissão", diz oposição
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
A possibilidade de o Brasil enviar gasolina à Venezuela, para
minimizar a crise de desabastecimento provocada pela greve geral
iniciada no dia 2, é considerada
pela oposição ao presidente Hugo
Chávez "uma intromissão indevida nos assuntos internos do país".
O pedido de ajuda foi feito por
Chávez na semana passada a
Marco Aurélio Garcia, secretário
municipal da Cultura de São Paulo e enviado especial do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula
da Silva, a Caracas. Na segunda-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que há possibilidade de o pedido ser atendido.
Para o ex-prefeito de Caracas
Antonio Ledezma, a visita de Garcia indicou uma "inclinação em
favor do governo" (leia texto ao
lado). "Isso é uma intromissão
nos assuntos internos do nosso
país", disse à Folha Ledezma,
membro da Coordenação Democrática (associação de partidos e
entidades de oposição) e potencial candidato à Presidência numa eventual eleição antecipada.
Críticas semelhantes foram feitas pelo deputado Timoteo Zambrano, representante da oposição
na mesa de diálogo mediada pela
OEA (Organização dos Estados
Americanos), e pelo presidente da
Fedecámaras (principal associação empresarial do país), Carlos
Fernández. "Esse governo de Lula
pretende ser um fura-greves, e para nós isso é inaceitável", disse
Zambrano à TV venezuelana Globovisión. Para ele, uma possível
ajuda brasileira ao governo da Venezuela seria "uma atitude hostil
com a outra parte do conflito".
"As decisões do povo não podem ser transgredidas por nenhum governo. Já vimos isso com
Cuba e agora com esse senhor
[Garcia", que tenta desprestigiar o
nosso trabalho", disse Fernández.
Garcia contestou as críticas e
disse que "alguns setores da oposição são claramente golpistas,
porque trabalham com uma única hipótese: a derrubada do presidente". "Muitos deles estavam
envolvidos no golpe de abril [que
tirou Chávez da Presidência por
dois dias" e só não foram punidos
por indulgência do presidente,
que preferiu apostar na conciliação", disse ontem à Folha. Para
ele, a exigência de neutralidade
não cabe num conflito entre "um
governo constitucional, eleito democraticamente", e uma oposição "que não tem a legitimidade
internacional que pretende ter".
A oposição exige a renúncia de
Chávez, cujo mandato vai até
2007, ou a convocação de eleições
antecipadas. Eles o acusam de arruinar a economia do país com
suas políticas populistas de esquerda. Chávez se diz vítima de
um complô golpista, com o apoio
dos grandes grupos de mídia do
país, por ter acabado com os privilégios das elites que mandaram
na Venezuela por décadas.
A greve geral promovida pela
oposição tem na indústria petroleira seu principal foco. As exportações de petróleo estão praticamente paralisadas há três semanas, o que já provocou um prejuízo ao país de mais de US$ 1,3 bilhão, segundo o presidente da
PDVSA, a gigante estatal do setor.
A Venezuela é o quinto maior
produtor mundial de petróleo.
Com a maioria das refinarias do
país paralisadas, há uma grave
crise de desabastecimento, com
enormes filas nos postos de gasolina e nos mercados.
Segundo Garcia, a possibilidade
de o Brasil enviar gasolina à Venezuela atende a uma inquietação
do secretário-geral da OEA, César
Gaviria, que há mais de um mês
tenta mediar um diálogo entre o
governo e a oposição. "Ele me disse temer que uma crise aguda de
desabastecimento possa provocar
uma situação de violência incontrolável. A oposição quer forçar
uma crise a partir do desabastecimento", afirmou. Para ele, os
membros da oposição estão "totalmente fora de seu tempo". "Esses cidadãos não estão habituados
à vida democrática", disse.
Apesar da retomada pelo governo, nos últimos dias, de alguns
petroleiros, a normalização da situação no país parece remota. A
oposição diz que manterá a greve
até a renúncia de Chávez.
O cardeal-arcebispo de Caracas,
dom Ignacio Velasco, pediu ontem, em discurso de Natal, que os
venezuelanos "vivam em paz".
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