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Leia a seguir a entrevista concedida ontem à Folha por telefone pelo ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma, um dos principais líderes da oposição a Hugo Chávez.
"Enviado de Lula indicou inclinação a favor de Chávez"
DA REDAÇÃO
Folha - Qual a avaliação da
Coordenação Democrática (CD)
sobre os contatos do próximo
governo brasileiro com o presidente Hugo Chávez e a oferta de
ajuda feita à Venezuela?
Antonio Ledezma - Achamos
que isso é uma intromissão do
governo brasileiro nos assuntos internos do nosso país. Esse
incidente é lamentável, mas esperamos que seja esclarecido,
para o benefício das relações
entre a Venezuela e o Brasil.
Folha - Vocês pretendem fazer
alguma reclamação formal ao
governo brasileiro?
Ledezma - Sim. Vamos enviar
um comunicado ao embaixador do Brasil na Venezuela
condenando a postura assumida pelo senhor [Marco Aurélio" Garcia em sua visita à Venezuela, representando o presidente eleito [Lula". Ele evidenciou uma inclinação na direção
do governo.
Folha - Isso não poderia prejudicar as relações entre os dois
países no futuro, se Chávez renunciar ou convocar eleições e
algum membro da CD vier a ocupar a Presidência?
Ledezma - Não queremos inconvenientes com o governo
ou com o povo brasileiro. Mas
o Brasil precisa compreender
que existe uma crise política na
Venezuela, a qual temos que
resolver os venezuelanos. O
que buscamos é resolver essas
dificuldades no curto prazo.
Folha - E a atuação dos outros
países, como vocês vêem?
Ledezma - Já vimos como, na
OEA [Organização dos Estados
Americanos", se adotou uma
resolução na qual se faz um
chamado aos países amigos para que não tomem partido.
Folha - E vocês acham que os
governos de outros países vizinhos ou dos EUA estão seguindo
essa recomendação?
Ledezma - Claro. Quando os
EUA falaram em adiantamento
de eleições, era uma opinião
que envolvia as duas partes,
mas não tomava partido a favor de nenhuma tendência.
Folha - Mas, se o governo rechaça a possibilidade de adiantar as eleições, eles não estão tomando partido a favor da oposição, que pede justamente isso?
Ledezma - Não, porque quando o governo aceitou integrar a
mesa de negociação, estava claro que tinha como obrigação
fundamental definir uma saída
eleitoral.
Folha - A greve geral vai continuar indefinidamente?
Ledezma - Até que haja uma
saída à crise, com um referendo ou eleições antecipadas.
Folha - O governo propõe um
referendo para agosto. A oposição não poderia esperar até lá?
Ledezma - O referendo revogatório em agosto já está na
Constituição, não tem nenhum
sentido. Se instalamos uma
mesa de negociação para resolver a crise, temos que buscar
saídas "sui generis".(RW)
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