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IRAQUE NA MIRA
Secretário diz em Davos que o "tempo está se esgotando" ;discursando depois, Lula pede solução negociada
Powell diz que EUA podem agir só e rápido
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O secretário de Estado dos EUA,
Colin Powell, aproveitou ontem a
tribuna do encontro anual 2003
do Fórum Econômico Mundial
para emitir a mais clara mensagem, até agora, a respeito da iminência de um ataque ao Iraque,
mesmo que seja unilateral, ou seja, sem o apoio de aliados estratégicos de Washington, como os
países da Europa continental.
"O tempo está se esgotando",
repetiu Powell uma e outra vez.
Depois, disse: "Nós agiremos
mesmo que outros não estejam
preparados para juntar-se a nós".
É uma óbvia alusão à resistência
principalmente de Alemanha e
França, as duas maiores forças européias, a apoiar a pressa norte-americana em tirar do poder o ditador Saddam Hussein.
Powell se disse consciente de
que "americanos e europeus nem
sempre vêem as coisas da mesma
maneira", mas rejeitou a idéia de
que as divergências reflitam a arrogância dos Estados Unidos.
"Diferenças não deveriam ser
equiparadas com unilateralismo
ou arrogância americana. Algumas vezes, diferenças são apenas
isso: diferenças", disse.
É uma alusão ao fato de que, no
Fórum de Davos (Suíça), houve
uma barragem de críticas ao suposto ou real unilateralismo e arrogância norte-americanas, tanto
de parte de dirigentes políticos
como de acadêmicos e representantes da sociedade civil.
"O multilateralismo não pode
se transformar em desculpa para
a inação", devolveu Powell.
Mas as críticas, embora veladas,
ressurgiram nas perguntas formuladas ao secretário de Estado
após o seu discurso.
Irene Khan, da Anistia Internacional, perguntou se a ameaça iraquiana era de fato tão grave e tão
iminente a ponto de justificar como resultado "uma maciça crise
de direitos humanos".
Lorde Carey de Clifton, arcebispo de Canterbury até o ano passado, perguntou se os Estados Unidos não deveriam usar, além do
"poder duro" (as armas), também
o "leve" (as idéias e os valores).
"Chega um momento em que
apenas o poder duro funciona",
respondeu Powell.
É um contraste total com a sua
opinião a respeito da Coréia do
Norte, outro ponto de tensão: "Os
Estados Unidos não têm a intenção de atacar a Coréia do Norte".
O discurso do secretário acabou
sendo também uma espécie de
sermão ao mundo, ensinando a
cada um o que deve fazer.
Aos árabes, pregou "significativas reformas políticas e econômicas". A China "precisa implementar totalmente seus compromissos de abertura de mercado". O
Japão "deveria implementar rapidamente o programa de reformas
do primeiro-ministro Koizumi".
A Europa precisa "pôr em ação
uma agenda pró-crescimento,
que envolva reformas do mercado de trabalho e da regulação (da
economia)".
Lula
Pouco mais de uma hora depois
de Powell deixar o palco, a ele subiu o presidente brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, com mensagem diametralmente oposta.
"Nossa política externa está firmemente orientada pela busca da
paz, pela solução negociada dos
conflitos internacionais e pela defesa intransigente de nossos interesses nacionais", disse Lula.
Completou: "A paz é um imperativo da racionalidade. Por isso,
defendemos que as controvérsias
sejam solucionadas por vias pacíficas e sob a égide das Nações Unidas".
O tema Iraque foi tratado também no encontro de Lula com o
ex-presidente norte-americano
Bill Clinton.
Pelo que Clinton contou depois,
Lula repetiu a tese de que a crise
do Iraque tem de ser tratada no
âmbito da ONU. "Ele espera que a
coisa da ONU ainda funcione, e
eu acho que ainda há uma chance
de que seja assim", afirmou Clinton.
O ex-presidente foi uma das raras vozes em Davos que não apostou na inevitabilidade de uma
guerra. "As pessoas assumem que
sabem o que outras vão fazer e estas não o fazem necessariamente", filosofou o antecessor de
George W. Bush.
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