São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Livro conta formação de guerrilheiro das Farc

Para sociólogo colombiano Jesús Izquierdo, membros do grupo são moldados por disciplina do medo

John Jairo Bonilla-23.jan.2008/Efe
Casal de guerrilheiros que desertou das Farc com 11 colegas


PAULO HENRIQUE RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ângela, aliciada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) aos 12 anos, foi convocada para fuzilar a melhor amiga, Juanita, porque ela desrespeitou uma lei dentro da guerrilha: teve mais de um parceiro sexual. Essa é uma das atrocidades contadas no livro "Meninos Não Choram" pelo sociólogo colombiano Jesús Izquierdo, que entrevistou ex-guerrilheiros em prisões do sul da Colômbia.
Nas Farc, a delação, a deserção e o roubo terminam em pena de morte, diz. O que molda o guerrilheiro do grupo é o medo.
"Sem disciplina, a guerrilha se destruiria", disse à Folha o pesquisador da Universidade Federal do Ceará, por telefone, de Juazeiro do Norte -sua mulher é cearense.
Mestre em teologia, Izquierdo, 38, resolveu estudar as Farc para entender a violência, que, a seu ver, está na "alma do colombiano". O objetivo é analisar o "habitus guerreiro", inspirado no conceito difundido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu: Izquierdo quis entender como alguém se torna guerrilheiro e, principalmente, por que passa a agir como um.
A pobreza dá o primeiro empurrão rumo ao engajamento, segundo o pesquisador. A ausência do Estado na selva ajuda. Mas a visibilidade social também causa adesões. "O camponês isolado na floresta não é ninguém. Mas na guerrilha ele ganha autoridade social", diz Izquierdo.
O pesquisador afirma que o armamento pesado das Farc é conseqüência do fim dos cartéis de drogas colombianos, que abriu espaço na produção de cocaína. Com mais dinheiro -logo, mais armas-, a guerrilha precisou de mais soldados. Foi para dar conta dessa demanda que o seqüestro de jovens se tornou comum.
Além do narcotráfico, o "imposto revolucionário", cobrado de empresários e fazendeiros, sustenta a guerrilha.
Para Izquierdo, a libertação de Clara Rojas e Consuelo González, no último dia 10, foi uma resposta das Farc ao empenho do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e não um sinal de distensão no conflito que levasse à entrega de mais reféns.


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