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DENÚNCIA
Forças Armadas enfrentam a maior série de acusações de abuso sexual desde 1991; Pentágono diz que está investigando
Onda de estupros atinge militares dos EUA
ERIC SCHMITT
DO "NEW YORK TIMES"
As Forças Armadas dos EUA estão enfrentando as mais graves
acusações de má conduta sexual
de que são alvo em anos. Dezenas
de militares americanas afirmaram ter sido vítimas de agressão
sexual ou estupro por parte de outros militares, segundo congressistas e defensores de vítimas.
Oficiais anunciaram anteontem
que, nos últimos 18 meses, foram
recebidas 112 denúncias na área
do Comando Central, que inclui
Iraque, Kuait e Afeganistão. O
Exército relatou 86 incidentes, a
Marinha, 12, a Força Aérea, oito, e
os marines, seis. Os oficiais disseram que a maior parte está sendo
investigada e que já houve medidas disciplinares, mas não deram
informações específicas.
Além disso, cerca de duas dúzias de mulheres na Base Sheppard, da Força Aérea, local de treinamento militar no Texas, disseram que foram atacadas em 2002.
A Academia da Força Aérea em
Colorado ainda não se recuperou
da revelação, feita em 2003, de
mais de 50 casos relatados de
agressão sexual ou estupro nos últimos dez anos.
As acusações mais recentes
constituem o maior conjunto desde o incidente Tailhook, envolvendo a Marinha, em 1991.
Em resposta, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, ordenou
neste mês um inquérito sobre os
casos relatados no Iraque e no
Kuait e sobre como as Forças Armadas tratam as vítimas. O Exército e a Força Aérea abriram inquéritos semelhantes.
A questão foi tratada durante
uma audiência acalorada no Congresso, anteontem, quando senadores democratas e republicanos
interrogaram o mais alto funcionário de pessoal do Pentágono e
quatro oficiais de quatro estrelas
em torno do que, segundo os parlamentares, foram lapsos na capacidade das Forças Armadas de
proteger as militares de agressões
sexuais, fornecer assistência médica e psicológica às vítimas de
ataques e punir os responsáveis.
"Nenhuma guerra deixa de ter
custos, mas esses custos devem
nascer do conflito com o inimigo,
e não de violações flagrantes por
parte de integrantes de nossas
próprias forças", disse a senadora
republicana Susan Collins.
O chefe de pessoal do Pentágono, David S.C. Chu, disse aos parlamentares que o Departamento
da Defesa está tratando a questão
com muita seriedade e que todas
as políticas possíveis serão discutidas durante a revisão do tema,
prevista para durar 90 dias, cujas
descobertas e recomendações devem ser divulgadas até 30 de abril.
Para rebater as críticas, o Pentágono adiantou a divulgação de
uma pesquisa ordenada pelo
Congresso e conduzida em 2001 e
2002 -período anterior à onda
mais recente de denúncias-, que
constatou que o número de militares mulheres que denunciaram
ter sofrido agressões sexuais caiu
de 6%, em 1995, ano da pesquisa
anterior, para 3%.
Mas alguns senadores questionaram a metodologia e o "timing" da pesquisa. "Por que a
pesquisa levou dois anos para ser
feita?", perguntou o senador John
Warner, da Virgínia.
Os escândalos mais recentes de
agressão sexual vieram a público
em boa parte graças a uma série
recente de reportagens publicadas pelo jornal "Denver Post".
Mas o número de agressões relatadas excede o âmbito do que foi
descrito pelo "Denver Post".
Christine Hansen, diretora-executiva da Fundação Miles, grupo
de defesa de vítimas, disse aos senadores na audiência que sua organização recebeu relatos sobre
68 casos de agressão sexual, principalmente de mulheres que serviam no Iraque e no Kuait.
As queixas das mulheres abrangem desde a falta de atendimento
médico de emergência para vítimas de estupro até investigação
criminal incompleta, passando
pela retaliação sofrida de seus pares quando denunciam uma
agressão. "É possível que estejamos apenas começando a enxergar o problema", disse Hansen.
Tradução de Clara Allain
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