São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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DENÚNCIA

Forças Armadas enfrentam a maior série de acusações de abuso sexual desde 1991; Pentágono diz que está investigando

Onda de estupros atinge militares dos EUA

ERIC SCHMITT
DO "NEW YORK TIMES"

As Forças Armadas dos EUA estão enfrentando as mais graves acusações de má conduta sexual de que são alvo em anos. Dezenas de militares americanas afirmaram ter sido vítimas de agressão sexual ou estupro por parte de outros militares, segundo congressistas e defensores de vítimas.
Oficiais anunciaram anteontem que, nos últimos 18 meses, foram recebidas 112 denúncias na área do Comando Central, que inclui Iraque, Kuait e Afeganistão. O Exército relatou 86 incidentes, a Marinha, 12, a Força Aérea, oito, e os marines, seis. Os oficiais disseram que a maior parte está sendo investigada e que já houve medidas disciplinares, mas não deram informações específicas.
Além disso, cerca de duas dúzias de mulheres na Base Sheppard, da Força Aérea, local de treinamento militar no Texas, disseram que foram atacadas em 2002.
A Academia da Força Aérea em Colorado ainda não se recuperou da revelação, feita em 2003, de mais de 50 casos relatados de agressão sexual ou estupro nos últimos dez anos.
As acusações mais recentes constituem o maior conjunto desde o incidente Tailhook, envolvendo a Marinha, em 1991.
Em resposta, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, ordenou neste mês um inquérito sobre os casos relatados no Iraque e no Kuait e sobre como as Forças Armadas tratam as vítimas. O Exército e a Força Aérea abriram inquéritos semelhantes.
A questão foi tratada durante uma audiência acalorada no Congresso, anteontem, quando senadores democratas e republicanos interrogaram o mais alto funcionário de pessoal do Pentágono e quatro oficiais de quatro estrelas em torno do que, segundo os parlamentares, foram lapsos na capacidade das Forças Armadas de proteger as militares de agressões sexuais, fornecer assistência médica e psicológica às vítimas de ataques e punir os responsáveis.
"Nenhuma guerra deixa de ter custos, mas esses custos devem nascer do conflito com o inimigo, e não de violações flagrantes por parte de integrantes de nossas próprias forças", disse a senadora republicana Susan Collins.
O chefe de pessoal do Pentágono, David S.C. Chu, disse aos parlamentares que o Departamento da Defesa está tratando a questão com muita seriedade e que todas as políticas possíveis serão discutidas durante a revisão do tema, prevista para durar 90 dias, cujas descobertas e recomendações devem ser divulgadas até 30 de abril.
Para rebater as críticas, o Pentágono adiantou a divulgação de uma pesquisa ordenada pelo Congresso e conduzida em 2001 e 2002 -período anterior à onda mais recente de denúncias-, que constatou que o número de militares mulheres que denunciaram ter sofrido agressões sexuais caiu de 6%, em 1995, ano da pesquisa anterior, para 3%.
Mas alguns senadores questionaram a metodologia e o "timing" da pesquisa. "Por que a pesquisa levou dois anos para ser feita?", perguntou o senador John Warner, da Virgínia.
Os escândalos mais recentes de agressão sexual vieram a público em boa parte graças a uma série recente de reportagens publicadas pelo jornal "Denver Post".
Mas o número de agressões relatadas excede o âmbito do que foi descrito pelo "Denver Post". Christine Hansen, diretora-executiva da Fundação Miles, grupo de defesa de vítimas, disse aos senadores na audiência que sua organização recebeu relatos sobre 68 casos de agressão sexual, principalmente de mulheres que serviam no Iraque e no Kuait.
As queixas das mulheres abrangem desde a falta de atendimento médico de emergência para vítimas de estupro até investigação criminal incompleta, passando pela retaliação sofrida de seus pares quando denunciam uma agressão. "É possível que estejamos apenas começando a enxergar o problema", disse Hansen.


Tradução de Clara Allain


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