São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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ONU esboça novo pacote de sanções contra o Irã

Produção de combustível nuclear leva Conselho de Segurança a deliberações

Ahmadinejad, o presidente do Irã, é criticado por líderes xiitas por ter optado pelo confronto com ocidentais e exposto o país a punições


DA REDAÇÃO

Um segundo pacote de sanções da ONU contra o Irã poderá incluir a suspensão de US$ 25 bilhões em linhas de crédito de países europeus e a ampliação do número de empresas e cidadãos com depósitos congelados em bancos ocidentais.
A questão foi levantada ontem, em Londres, por diretores dos ministérios do Exterior dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, em reunião consultiva da qual também participou a Alemanha.
Esses países -Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China- acreditam que o regime iraniano queira produzir a bomba atômica. O grupo prosseguirá consultas durante a semana, antes de agendar em Nova York, em data ainda indefinida, reunião do conselho em que o texto será votado.
Uma primeira resolução, de 23 de dezembro, vetou a venda de tecnologia ou componentes de reatores, construção de mísseis ou que possam ser usados no enriquecimento de urânio.
Mas o Irã não interrompeu sua produção de combustível nuclear, com o qual diz que produzirá apenas eletricidade. E pior: segundo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica, publicado na semana passada em Viena, acelerou suas atividades atômicas.

Ameaça americana
A reunião de Londres teve como pano de fundo o plano atribuído ao governo americano de bombardear o Irã e destruir suas instalações. Washington nega ser essa a idéia.
O ministro do Exterior russo, Serguey Lavrov, disse em Moscou que previsões de ações militares tornaram-se mais freqüentes, "o que nos causa preocupação". Citou declaração do vice-presidente, Dick Cheney, para quem todas as possibilidades estão sobre a mesa.
Lavrov não chegou a citar reportagem da revista "New Yorker", que revela um plano de intervenção americana no Irã, país xiita. O plano teria o financiamento da Arábia Saudita, maior potência petrolífera e financeira do mundo sunita.
A Rússia e a China, com direito a veto no Conselho de Segurança, não querem que seus projetos no Irã sejam comprometidos por sanções da ONU.
É provável, em razão disso, que apóiem um anteprojeto de resolução em que os europeus, e suas linhas de crédito, façam o grande sacrifício. Não estava ontem claro se Berlim, Paris e Londres endossam com entusiasmo esse roteiro.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse que as novas sanções poderiam atingir as importações iranianas de armas. A resolução votada em dezembro, disse ele, teve o mérito de despertar discussões entre os iranianos sobre a insensatez do confronto com a comunidade internacional.

Posição de Ahmadinejad
A propósito, a Associated Press relata de Teerã que o presidente Mahmoud Ahmadinejad está em discreta rota de colisão com o líder supremo, aiatolá Khamenei, que provavelmente discorda de sua reiterada retórica de confronto.
Ahmadinejad não foi convidado por Khamenei para encontros no último dia 19 com autoridades do governo civil. Ao mesmo tempo, a hierarquia xiita tem prestigiado o aiatolá Rafsansjani, derrotado pelo atual presidente nas eleições de 2005, e para quem a disputa com o Ocidente deve ser resolvida "com diálogo e sabedoria".
Na África do Sul, onde se encontra, o principal negociador nuclear do Irã, Ali Larijani, disse que seu país está disposto "positivamente" a negociar a questão com os americanos, mas rejeita que a interrupção do enriquecimento de urânio seja uma precondição.
Em Nova York, o sueco Hans Blix, ex-chefe dos inspetores da ONU que procuraram armas de destruição em massa no Iraque, acusou os americanos de procurarem "humilhar" o Irã. Argumentou que a administração Bush não promete nada em troca, caso o país cesse a produção de combustível nuclear.

"Armas iranianas"
O "New York Times" atribui ao comando militar americano no Iraque a informação de que um arsenal, descoberto na cidade de Hilla traria provas "contundentes" da ingerência iraniana nos atentados contra soldados dos Estados Unidos.
Entre os dispositivos encontrados há sensores infravermelhos e de mira eletrônica. O jornal diz, no entanto, que alguns especialistas acreditam que esses equipamentos podem ter como origem outros países do Oriente Médio.


Com agências internacionais

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