São Paulo, quinta, 27 de março de 1997.

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EUA
Empresa faz acordo com funcionários
Texaco paga US$ 176 mi por racismo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

A Texaco, uma das principais empresas petrolíferas dos EUA, vai pagar US$ 176,1 milhões a todos os funcionários negros da companhia e de suas subsidiárias empregados entre 23 de março de 1991 e 15 de novembro de 1996, por causa de comentários racistas de alguns de seus mais importantes executivos e gravados em fita.
Cada pessoa vai receber entre US$ 60 mil e US$ 80 mil, segundo os cálculos dos advogados que processaram a Texaco.
O juiz federal Charles Brieant, que oficializou o acordo, ainda não estabeleceu quanto a companhia terá de pagar aos advogados vitoriosos, que querem US$ 44 milhões, o equivalente a 25% do total da indenização.
Além da soma em dinheiro, a Texaco ainda implantou programas para aumentar o recrutamento de minorias étnicas para seus quadros, escolher mais fornecedores entre empresas que pertençam a negros, hispânicos e mulheres e dar mais oportunidades de promoção funcional aos seus funcionários negros e hispânicos.
Os grupos de defesa dos direitos civis que lideraram a ação coletiva contra a Texaco saudaram a decisão do juiz Brieant como um avanço no respeito a minorias nas grandes corporações dos EUA.
O reverendo negro Jesse Jackson, que no fim do ano passado comandou um boicote contra os produtos da Texaco, também se disse satisfeito. Logo após o anúncio do boicote liderado por Jackson, duas vezes aspirante à Presidência dos EUA, a Texaco fechou o acordo, consagrado ontem.
Pelo acordo, a Texaco nega que tenha cometido qualquer crime, e os funcionários abrem mão em definitivo do direito de acusá-la de discriminação racial.
Mas a empresa ainda não se livrou do estigma. Um engenheiro a está processando por não ter sido escolhido para uma vaga aberta na Texaco. Segundo o acusador, a empresa não o contratou apenas pelo fato de ele ser negro.
Os executivos que tiveram suas vozes gravadas em uma fita de áudio na qual eles se referem a negros de maneira depreciativa foram demitidos. A gravação das conversas entre eles também indica que os executivos pretendiam destruir evidências da Justiça, que examinava a ação coletiva por discriminação racial iniciada em 1994.
As fitas foram entregues aos advogados dos funcionários pelo ex-diretor de recursos humanos da empresa Richard Lundwall, que foi indiciado por obstrução da Justiça mesmo depois de ter resolvido cooperar com os empregados negros. Lundwall foi o único dos executivos envolvidos processado.
Todos os funcionários negros da Texaco aceitaram o acordo. Brieant decidiu que, embora um funcionário pudesse receber indenização maior se acionasse a Texaco individualmente, o acordo atende à Justiça por dar rapidez e praticidade à decisão e devido à sua alta carga simbólica em função das cifras da indenização.

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