São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2000


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MISTÉRIO
Vencedor dá poucas pistas sobre governo

do enviado especial

Qual será a Rússia que emerge das eleições? O governo Putin vai trilhar o caminho de uma democracia com livre mercado ou o de uma "ditadura da lei" com monopólios privados?
Provavelmente um pouco dos dois, mas isso terá de ser respondido pelo próprio Putin, que até hoje deu poucas pistas do que pretende fazer quando tirar o "em exercício" de seu título.
A oposição teme que Putin acabe com as eleições para os governos locais. "Seria um choque, mas é possível", disse Oksana Antonenko, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.
Outra medida é esperada, mas sem tanta apreensão: um referendo para expandir de quatro para sete anos o mandato presidencial que começa em maio.
Até agora, a única política concreta de Putin, desde que assumiu como premiê, diz respeito ao Cáucaso. Resumiu-a em entrevista no começo do ano: "Vamos caçar os bandidos tchetchenos, nem que seja no banheiro".
E assim foi. Ontem ainda havia combates na República separatista, e provavelmente haverá luta por diversas semanas.
A "ditadura da lei", suspeita- se, irá fazer o governo apontar também para o crime organizado. Para a revista britânica "The Economist", a Rússia é a "maior cleptocracia do mundo".
Putin tem como reprimir o crime organizado em suas esferas mais baixas. Para isso, basta usar a força que usou na Tchetchênia -os EUA irão protestar, a União Européia irá emitir notas condenatórias, mas, no fim do dia, todos sentarão à mesa para os brindes e evitarão falar no "assunto interno russo".
Mas Putin será testado mesmo quando confrontado ao topo da economia russa, os oligarcas. A eles são associados todos os tipos de crime, sem provas evidentes.
Em entrevista ao jornal russo "Vedemosti", o oligarca-modelo, Boris Berezovski, hoje membro do Parlamento, foi claro sobre o que pensa das declarações de Putin de que os oligarcas seriam "cidadãos comuns" em seu governo. "Nunca vai acontecer. Suas palavras são corretas. Para eleitores."
Sobre economia, Putin parece ser um reformista mais moderado. "Os ultraliberais tiveram sua chance e não aproveitaram", afirma Antonenko, que descarta retrocesso econômico.
A relação com o Ocidente deverá melhorar, embora algumas tensões devido à busca de uma nova identidade russa devam ocorrer. Quanto à suposta "KGBização" do futuro governo Putin, há a já famosa declaração de que seus antigos colegas o ajudarão a combater o crime.
Como escreveu recentemente o jornal "Financial Times", Putin parece ter uma visão bolchevista de resolução imediata, à força, dos problemas. Como a Rússia de hoje, disse o "FT", é "o pior dos pesadelos de Karl Marx" em termos de capitalismo selvagem, fica o temor sobre quais meios ele usará para lidar com o desafio. (IG)


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