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Saiba quem é o vencedor da eleição
do enviado especial
De obscuro agente secreto da
KGB a líder do maior país do
mundo em extensão, Vladimir
Putin carrega em sua trajetória a
marca de ser o homem certo no
lugar certo em diversas ocasiões.
Dono de um estilo regrado,
oposto ao de Boris Ieltsin, ele fala
pouco sobre sua vida pessoal. É
casado com Ludmila (a "Luda") e
tem duas filhas, Katia e Masha.
As diferenças com seu antecessor são várias: fala outra língua, o
alemão, não fuma e, principalmente, bebe pouco. Esportista,
caminha com frequência e é faixa
preta em judô. Nascido em 7 de
outubro de 1952 em Leningrado,
hoje São Petersburgo, Vladimir
Vladimirovitch Putin viveu infância e adolescência simples.
Sua vida pública começa em
1975, quando se formou em direito pela Universidade de Leningrado -já recrutado pela KGB. Foi
enviado a Dresden, na então Alemanha Oriental, posto prestigioso para um jovem espião. Oficialmente, para manter "contatos
com assuntos alemães-orientais".
Mas havia uma grande batalha
da Guerra Fria, a que determinou
o fim da União Soviética, em curso. Era a batalha econômica.
A era de Leonid Brejnev morria
com seu líder, em 1982, e os oficiais soviéticos perceberam que
todo o bloco oriental não acompanhava mais o passo tecnológico
e militar do Ocidente.
É notório que toda a KGB se
empenhou em tentar reverter o
quadro com espionagem econômica. Com a União Soviética sob
o comando de Iuri Andropov, ex-chefe dos espiões e frequentemente elogiado por Putin, toda a
elite do sistema se engajou no
processo de reestruturação da
economia -que viraria a perestroika de Mikhail Gorbatchov.
Dresden era estratégica por ser
uma das cinco cidades do bloco
soviético com indústria de alta
tecnologia.
Segundo a Stratfor Intelligence
Service, uma empresa de serviços
de inteligência dos EUA, Putin teria roubado segredos industriais
para a Robotron, empresa alemã-oriental que fornecia material de
informática para todo o mundo
comunista. Não há provas disso.
Com a inevitável derrota na
Guerra Fria, a KGB mandou Putin de volta para Leningrado em
1989. Também segundo a Stratfor, sua missão teria sido a de monitorar a movimentação dos reformistas locais -como em 1917,
a cidade era o berço de idéias radicais contra o sistema.
Oficialmente, ele voltou para a
universidade como pró-reitor de
relações internacionais e se aposentou da KGB. Restabeleceu
contato com Anatoli Sobchak,
que fora seu professor na década
de 70 e na época era chefe do soviete de Leningrado. Sobchak,
que morreu de infarto no mês
passado, era um dos líderes pró-democracia locais. Nomeou Putin
como assessor para assuntos internacionais.
Em junho de 91, Sobchak foi
eleito prefeito e trouxe Putin para
ser seu adjunto. Delegou diversas
tarefas econômicas a Putin, como
celebrar um contrato com a empresa de consultoria KPMG para
atrair bancos e empresas.
Data desse período o único escândalo associado ao nome de
Putin. Em 1992, procuradores de
São Petersburgo acusaram o então prefeito-adjunto de desaparecer com US$ 120 milhões em produtos que seriam trocados por
comida na Europa. Putin culpou a
burocracia pelo desvio, mas a
Procuradoria sugeriu seu afastamento. Sobchak não aceitou.
Em 1996, Putin coordenou a
campanha do chefe à reeleição.
Falhou e perdeu para Vladimir Iakovlev, que o convidou para ficar.
Ele não aceitou. Então Putin entrou no Kremlin como assistente
de Pavel Borodin, que ocupava
cargo equivalente ao de chefe da
Casa Civil no Brasil. Depois, em
97, foi promovido a adjunto de
Borodin e a chefe do Departamento de Controle -a poderosa
função de checar se as ordens de
Boris Ieltsin eram cumpridas.
Nessa época, segundo relata a
Stratfor, ele começou a elaborar
dossiês sobre tudo e todos na administração federal.
Em março de 98, Putin começou a trazer seus amigos da KGB
para o poder. Nikolai Patruchev,
colega dos tempos de Leningrado, o sucedeu quando virou chefe-adjunto da administração.
Em julho do mesmo ano, sua
posição se consolidou quando
Ieltsin o apontou para comandar
o FSB (Serviço de Segurança Federal), o principal órgão resultante do desmembramento da
KGB em três, ocorrido em 1993.
Foi quando um grupo íntimo
de antigos colegas, os mesmos
que agora ele diz que vai trazer
para combater a corrupção, foi
trazido para o FSB: Patruchev,
Sergei Ivanov, Viktor Tcherkesov e Alexander Grigoriev.
Nessa época, ele acabou sendo
bombardeado nos bastidores pelo então premiê, Ievguêni Primakov, que inicialmente era seu
protetor e depois o via como
uma ameaça crescente. Sem sucesso, mesmo porque Ieltsin acabou por demiti-lo antes que pudesse derrubar Putin.
Após ser apontado também
como secretário do poderoso
Conselho de Segurança, em março de 99, ficou claro que Putin
era um desconhecido apenas para o grande público e o Ocidente.
À frente do FSB, Putin foi alvo
de críticas por supostamente ter
dificultado as investigações de
dois assassinatos políticos, o do
jornalista Anatoli Levin-Uktin,
que apurava corrupção governamental, e o da deputada liberal
Galina Staroitova.
Ao substituir o reformista Sergei Stepashin como premiê, em 9
de agosto passado, Putin já provara que sabia estar bem posicionado quando fosse necessário.
Sua campanha contra os separatistas tchetchenos provou-se
popular, embora permaneça um
mistério o fato de a guerra não
ser uma prioridade para os russos, segundo pesquisas.
Mais paradoxalmente ainda,
Putin deve sua vitória ao fato de
ter sido escolhido sucessor e presidente em exercício após a renúncia de Ieltsin e também pelo
fato de ter se distanciado totalmente do ex-presidente durante
a campanha -apesar de ter protegido Ieltsin e sua família com
imunidade contra investigações.
Para o Ocidente, parafraseando o diálogo entre Margaret
Thatcher e Ronald Reagan sobre
Gorbatchov, ele parece ser um
"homem com quem se poder fazer negócios". Não tem os rompantes de Ieltsin, mas carrega a
sombra do passado e a mancha
da campanha no Cáucaso.
(IG)
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