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PEREGRINAÇÃO
João Paulo 2º deixa bilhete a Deus no Muro das Lamentações, vai a mesquita e ao Santo Sepulcro
Papa encerra visita com recado a Deus
DEBORAH SONTAG
ALESSANDRA STANLEY
do "The New York Times", em Jerusalém
Com 86 passos lentos, o papa
João Paulo 2º, 79, aproximou-se
ontem do Muro das Lamentações, estendeu uma mão trêmula
para tocar suas pedras frias e, como é costume para visitantes judeus, colocou numa fenda um bilhete para Deus. Depois ele fez o
sinal da cruz no local mais sagrado do judaísmo, e foi possível escutar o murmúrio das pessoas
que acompanhavam a cena.
O bilhete do papa trazia a mensagem de reconciliação que marcou os seus dias de peregrinação
pessoal à Terra Santa, concluída
pacificamente ontem com o líder
católico indo da mesquita do Domo da Rocha (um dos locais mais
sagrados do islamismo) para o
Muro e depois para a igreja do
Santo Sepulcro (no local onde
Cristo foi enterrado antes de ressuscitar, segundo a tradição).
Andando numa van blindada,
sob forte segurança, ele ligou com
a sua presença centros das três
grandes fés monoteístas, que consideram Jerusalém sagrada e
compartilham relutantemente
sua Cidade Velha.
Mas a conexão feita pelo papa
foi tênue. E se desfez mesmo antes
de ele partir para Roma, à noite,
visivelmente emocionado com
sua jornada pelos passos de Jesus,
apesar de ter cruzado uma Terra
Santa minada por sensibilidades
religiosas e políticas.
Tendo deixado sua marca numa região que não se deixa impressionar facilmente, o papa deixou também as rivalidades locais
para trás e um bilhete aberto que
se destacou das centenas de bilhetes dobrados e enfiados no Muro.
"Deus de nossos pais, Você escolheu Abraão e seus descendentes para trazerem o Seu nome para os povos", dizia o bilhete papal,
que depois foi levado ao Museu
do Holocausto para ser preservado. "Estamos profundamente entristecidos pelo comportamento
daqueles que, ao longo da história, causaram sofrimento a Seus
filhos. E, pedindo o Seu perdão,
queremos nos comprometer com
uma fraternidade verdadeira com
o povo da aliança (judeus)."
O último dia da visita teve ainda
uma missa na igreja do Santo Sepulcro. Sobrevoando o céu azul
da Cidade Velha estava uma bandeira palestina, com balões coloridos. Ela desapareceu e depois
reapareceu quando a van do papa
percorria a Via Crucis em direção
ao Santo Sepulcro.
Como tudo em Jerusalém, a
igreja do Santo Sepulcro é marcada por disputas. Três grandes ritos católicos e muitas outras denominações compartilham o lugar. Mas as tensões foram suspensas ontem, com os grupos adiando seus serviços individualizados
para permitir ao papa celebrar a
missa no que ele chamou de "a
mãe de todas as igrejas".
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