São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2000


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PEREGRINAÇÃO
João Paulo 2º deixa bilhete a Deus no Muro das Lamentações, vai a mesquita e ao Santo Sepulcro
Papa encerra visita com recado a Deus

DEBORAH SONTAG
ALESSANDRA STANLEY

do "The New York Times", em Jerusalém
Com 86 passos lentos, o papa João Paulo 2º, 79, aproximou-se ontem do Muro das Lamentações, estendeu uma mão trêmula para tocar suas pedras frias e, como é costume para visitantes judeus, colocou numa fenda um bilhete para Deus. Depois ele fez o sinal da cruz no local mais sagrado do judaísmo, e foi possível escutar o murmúrio das pessoas que acompanhavam a cena.
O bilhete do papa trazia a mensagem de reconciliação que marcou os seus dias de peregrinação pessoal à Terra Santa, concluída pacificamente ontem com o líder católico indo da mesquita do Domo da Rocha (um dos locais mais sagrados do islamismo) para o Muro e depois para a igreja do Santo Sepulcro (no local onde Cristo foi enterrado antes de ressuscitar, segundo a tradição).
Andando numa van blindada, sob forte segurança, ele ligou com a sua presença centros das três grandes fés monoteístas, que consideram Jerusalém sagrada e compartilham relutantemente sua Cidade Velha.
Mas a conexão feita pelo papa foi tênue. E se desfez mesmo antes de ele partir para Roma, à noite, visivelmente emocionado com sua jornada pelos passos de Jesus, apesar de ter cruzado uma Terra Santa minada por sensibilidades religiosas e políticas.
Tendo deixado sua marca numa região que não se deixa impressionar facilmente, o papa deixou também as rivalidades locais para trás e um bilhete aberto que se destacou das centenas de bilhetes dobrados e enfiados no Muro.
"Deus de nossos pais, Você escolheu Abraão e seus descendentes para trazerem o Seu nome para os povos", dizia o bilhete papal, que depois foi levado ao Museu do Holocausto para ser preservado. "Estamos profundamente entristecidos pelo comportamento daqueles que, ao longo da história, causaram sofrimento a Seus filhos. E, pedindo o Seu perdão, queremos nos comprometer com uma fraternidade verdadeira com o povo da aliança (judeus)."
O último dia da visita teve ainda uma missa na igreja do Santo Sepulcro. Sobrevoando o céu azul da Cidade Velha estava uma bandeira palestina, com balões coloridos. Ela desapareceu e depois reapareceu quando a van do papa percorria a Via Crucis em direção ao Santo Sepulcro.
Como tudo em Jerusalém, a igreja do Santo Sepulcro é marcada por disputas. Três grandes ritos católicos e muitas outras denominações compartilham o lugar. Mas as tensões foram suspensas ontem, com os grupos adiando seus serviços individualizados para permitir ao papa celebrar a missa no que ele chamou de "a mãe de todas as igrejas".


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