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ANÁLISE
EUA pouparam a TV por tempo demais
MICHAEL R. GORDON
DO "THE NEW YORK TIMES", EM CAMP DOHA
O que mais surpreende nos pronunciamentos televisivos de Saddam Hussein na última semana é
o próprio fato de o ditador iraquiano estar falando na TV.
Na Guerra do Golfo de 91, a torre da TV iraquiana foi atacada logo no início dos bombardeios.
Mas, neste conflito, os primeiros
golpes contra a TV iraquiana não
foram desferidos até a madrugada
de ontem, quase uma semana depois do início da guerra, e, mesmo
assim, só conseguiram causar
uma interrupção temporária na
programação do governo.
A decisão do governo Bush de
não atacar a TV iraquiana no início da guerra diz muita coisa. Parece refletir o raciocínio de que o
regime de Saddam era tão frágil
que cairia rapidamente. Os estrategistas de Bush parecem ter deixado a TV de fora da lista inicial de
alvos porque queriam usá-la para
falar ao Iraque imediatamente
após a guerra e limitar os danos à
infra-estrutura civil.
Mas relatos vindos do Iraque sugerem que a moderação americana foi vista por iraquianos como
um indício da resistência de Saddam, contradizendo a mensagem
anglo-americana de que seus dias
estavam contados.
Há, de fato, duas batalhas paralelas ocorrendo. Uma é o assalto
intenso em Bagdá para o qual forças americanas estão se preparando. A outra, igualmente crucial, é
a luta para assegurar o apoio de cidadãos iraquianos, chamada por
militares de OI ("operações de informações"). O problema é que,
por enquanto, as OI de Saddam
estão ganhando das OI anglo-americanas.
Washington parece ter presumido que as forças anglo-americanas seriam recebidas por iraquianos em festa. Em vez disso,
grande parte do Iraque permanece nas mãos da Organização Especial de Segurança, de milicianos
do Partido Baath e de unidades
paramilitares como os "fedayin".
Tem havido alguns distúrbios em
Basra, mas ainda não houve levantes maciços como os ocorridos
após a Guerra do Golfo.
Há muitas razões para isso. Em
primeiro lugar, o governo dos
EUA parece ter julgado mal a estratégia iraquiana. Funcionários
do Pentágono estavam temerosos
de que o Iraque destruísse suas represas, explodisse suas pontes e
privasse sua população de comida. Saddam, eles advertiam, poderia destruir a infra-estrutura para
distrair as forças anglo-americanas com uma crise humanitária
em seu caminho para o norte.
Mas o líder iraquiano não seguiu esse roteiro. Ele tenta manter
o controle no sul do país se apresentando como o salvador do povo iraquiano -uma mensagem
que transmitiu em seu pronunciamento na TV nesta semana.
Em segundo lugar, a estratégia
americana inicialmente contemplava passar ao largo de cidades
americanas no caminho para Bagdá. Mas os EUA foram forçados a
se ajustar adiando temporariamente um ataque terrestre a Bagdá enquanto lidam com unidades
paramilitares no sul.
Um terceiro fator, contudo, foi a
decisão do governo Bush de deixar a TV iraquiana no ar durante
os primeiros dias da guerra. Isso
permitiu que o regime transmitisse a sua mensagem: a de que Saddam Hussein está no controle e
defendendo o povo do Iraque
contra um invasor estrangeiro.
Um exemplo eloquente: a TV
iraquiana retratou a derrubada de
um helicóptero americano no domingo como um ato valente de fazendeiros iraquianos. De fato, o
Iraque espertamente usou armas
pequenas para se defender do
"ataque profundo" pelos helicópteros e vai forçar os EUA a repensarem sua abordagem. Mas não
foi exatamente um esforço de
camponeses para se defender.
O meio é a mensagem. E, durante os primeiros dias da guerra, esse meio tem sido usado por Saddam para enviar uma mensagem
a muitos iraquianos de que seu líder absoluto ainda está no poder.
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