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São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003

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Morte de civis alimenta acusações

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A guerra entre versões contraditórias teve ontem como pivô os dois mísseis que caíram numa área residencial de Bagdá, matando pelo menos 15 civis.
Pouco depois do incidente o governo iraquiano já capitalizava. Pela primeira vez muitos civis morriam com a cobertura minuciosa da mídia ocidental.
O comando das forças anglo-americanas, no Qatar, teve uma primeira reação hesitante. O general Vincent Brooks, depois de exibir imagens de mísseis que atingiam seus alvos de forma invejavelmente certeira, disse que poderia ter ocorrido "um erro".
Ele insistiu, no entanto, no fato de iraquianos terem confeccionado uniformes idênticos aos de militares norte-americanos, o que pressuporia a intenção de "cometer atrocidades" em nome das tropas estrangeiras.
Só cinco horas depois do "briefing" de Brooks é que o comando voltou a se manifestar. Disse que realmente disparou dois mísseis sobre aquela região de Bagdá, mas para neutralizar armamentos colocados a pouca distância de construções residenciais.
A controvérsia terminou em ponto para o Iraque.

Umm Qasr
O mesmo não ocorreria com a ficção montada por adjuntos de Saddam Hussein de que a cidade portuária de Umm Qasr ainda estaria sob o controle de administração e tropas fiéis ao regime.
Segundo a Associated Press, um comboio com sete veículos, escoltados por soldados norte-americanos, entrou na cidade com alimentos, medicamentos e água potável para a população.
A guerra de desinformação teve ingredientes mais confusos em se tratando de Basra, a segunda maior cidade iraquiana. Desde anteontem forças britânicas informavam com convicção que lá ocorria uma revolta popular.
Seria sopa no mel para as forças anglo-americanas. A própria população se encarregaria de derrubar a ditadura, num exemplo que poderia se repetir em Bagdá. A mais otimista das hipóteses para os ocidentais consistia justamente em crer que Saddam cairia por uma rebelião nas ruas, antes de ser apeado do poder pelas armas.
Mas as informações permaneceram imprecisas. O Iraque desmentiu haver rebelião. Uma equipe da TV Al Jazeera entrou em Basra e disse nada ter visto.
A tese da rebelião só perdeu força quando, ontem à tarde, jornais italianos noticiaram que xiitas exilados no Irã (inimigos de Saddam) disseram que a população da cidade reclamava contra a insuficiência ou o favorecimento na distribuição de alimentos.

Militares
Bem mais sóbrio foi o texto publicado pelo "The New York Times", segundo o qual o Iraque teria executado sete militares de intendência, depois de os terem capturado com vida. Quatro dos mortos receberam tiros na testa.
O governo iraquiano não tinha como responder algo tão comprometedor à sua imagem internacional. Em resposta, acusou os norte-americanos de estarem exibindo, como prisioneiros de guerra, civis previamente "sequestrados".
Mas nem sempre é fácil saber quem é civil do lado iraquiano, já que milícias tribais e militantes do partido Baath não usam necessariamente uniformes.


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