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Morte de civis alimenta acusações
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A guerra entre versões contraditórias teve ontem como pivô os
dois mísseis que caíram numa
área residencial de Bagdá, matando pelo menos 15 civis.
Pouco depois do incidente o governo iraquiano já capitalizava.
Pela primeira vez muitos civis
morriam com a cobertura minuciosa da mídia ocidental.
O comando das forças anglo-americanas, no Qatar, teve uma
primeira reação hesitante. O general Vincent Brooks, depois de
exibir imagens de mísseis que
atingiam seus alvos de forma invejavelmente certeira, disse que
poderia ter ocorrido "um erro".
Ele insistiu, no entanto, no fato
de iraquianos terem confeccionado uniformes idênticos aos de militares norte-americanos, o que
pressuporia a intenção de "cometer atrocidades" em nome das tropas estrangeiras.
Só cinco horas depois do "briefing" de Brooks é que o comando
voltou a se manifestar. Disse que
realmente disparou dois mísseis
sobre aquela região de Bagdá,
mas para neutralizar armamentos
colocados a pouca distância de
construções residenciais.
A controvérsia terminou em
ponto para o Iraque.
Umm Qasr
O mesmo não ocorreria com a
ficção montada por adjuntos de
Saddam Hussein de que a cidade
portuária de Umm Qasr ainda estaria sob o controle de administração e tropas fiéis ao regime.
Segundo a Associated Press, um
comboio com sete veículos, escoltados por soldados norte-americanos, entrou na cidade com alimentos, medicamentos e água
potável para a população.
A guerra de desinformação teve
ingredientes mais confusos em se
tratando de Basra, a segunda
maior cidade iraquiana. Desde
anteontem forças britânicas informavam com convicção que lá
ocorria uma revolta popular.
Seria sopa no mel para as forças
anglo-americanas. A própria população se encarregaria de derrubar a ditadura, num exemplo que
poderia se repetir em Bagdá. A
mais otimista das hipóteses para
os ocidentais consistia justamente
em crer que Saddam cairia por
uma rebelião nas ruas, antes de
ser apeado do poder pelas armas.
Mas as informações permaneceram imprecisas. O Iraque desmentiu haver rebelião. Uma equipe da TV Al Jazeera entrou em
Basra e disse nada ter visto.
A tese da rebelião só perdeu força quando, ontem à tarde, jornais
italianos noticiaram que xiitas
exilados no Irã (inimigos de Saddam) disseram que a população
da cidade reclamava contra a insuficiência ou o favorecimento na
distribuição de alimentos.
Militares
Bem mais sóbrio foi o texto publicado pelo "The New York Times", segundo o qual o Iraque teria executado sete militares de intendência, depois de os terem
capturado com vida. Quatro dos
mortos receberam tiros na testa.
O governo iraquiano não tinha
como responder algo tão comprometedor à sua imagem internacional. Em resposta, acusou os
norte-americanos de estarem exibindo, como prisioneiros de guerra, civis previamente "sequestrados".
Mas nem sempre é fácil saber
quem é civil do lado iraquiano, já
que milícias tribais e militantes do
partido Baath não usam necessariamente uniformes.
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