São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003 |
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PÓS-GUERRA Suspeita sobre favorecimento de pessoas próximas a Bush gera críticas dentro e fora dos EUA Reconstrução é alvo de acusações
ÉRICA FRAGA DA REPORTAGEM LOCAL Conforme crescem as expectativas acerca da concessão de novos contratos para a reconstrução do Iraque, acirram-se também os ânimos a respeito desse assunto dentro e fora dos Estados Unidos. Empresas e governos estrangeiras e até políticos americanos acusam a administração de George W. Bush de favorecimento. No momento, o foco da discussão recai sobre a Kellogg, Brown & Root, empresa que foi contratada para apagar incêndios nos poços de petróleo iraquianos. A Kellogg é subsidiária da Halliburton, gigante do setor de energia e engenharia nos EUA que foi presidida por ninguém menos que Dick Cheney, atual vice-presidente da República, até 2000. Lawrence Eagleberger, secretário de Estado do governo de George Bush pai, também tem assento no Conselho de Administração da empresa. Embora a Halliburton preste serviços para governos norte-americanos desde a década de 40, a concessão de contratos para empresas "bem relacionadas" com o governo agora só alimenta as críticas de que a guerra esteja sendo motivada principalmente por interesses econômicos no Iraque. O assunto das concessões, de forma geral, já tem sido alvo de fortes críticas de empresas estrangeiras- principalmente, francesas e russas-que temem acabar alijadas do processo. Isso porque os primeiros contratos de recuperação do Iraque serão concedidos apenas a empresas norte-americanas, segundo o governo, por questões de segurança. As empresas estrangeiras entrariam, apenas, numa segunda etapa do processo, quando poderão ser subcontratadas pelas companhias norte-americanas. Críticas internas Além das críticas que vêm de fora dos EUA, as suspeitas de favorecimento a empresas que já foram ligadas ao governo Bush também têm despertado oposição dentro do país. O deputado democrata, Maxine Waters, por exemplo, já pediu que o Congresso aprove uma emenda limitando a participação de empresas próximas à atual administração no projeto de recuperação do Iraque. A discussão promete se acirrar ainda mais quando for anunciada pela Usaid (agência norte-americana para desenvolvimento internacional) a empresa ganhadora de um contrato para cuidar da recuperação da infra-estrutura do Iraque (de pontes a rede elétrica), que pode valer US$ 900 milhões. O anúncio era esperado para ontem-não havia ocorrido até o fechamento desta edição-e a Halliburton participou do processo de licitação. Outras empresas que estariam concorrendo a contratos na área de infra-estrutura são: Bechtel Group, Parsons Corp., Louis Berger Group e Fluor Corp. Segundo a instituição norte-americana Center for Responsive Politics, essas quatro empresas mais a Halliburton fizeram contribuições políticas, entre 1999 e 2002, que somaram US$ 2,8 milhões, sendo que 68% desse valor foram para o partido Republicano. Dados como esses ameaçam colocar mais lenha nas fogueiras das críticas ao governo Bush. Além da Kellogg, já foram contratadas a International Group Resources, que prestará assistência à Usaid no Iraque após a guerra, e a Stevedoring Services of America, que administrará o porto de Umm Qasr, no sul do país. Esses contratos são de contingência. Portanto, só entrarão em vigor caso os EUA, realmente, ganhem a guerra e os serviços sejam necessários. Do lado das empresas e governos estrangeiros, as reclamações só aumentam. Companhias alemãs, por exemplo, também já temem que, por causa das tensas relações diplomáticas entre o governo de seu país e os EUA, terminem de fora do processo de reconstrução do Iraque. Com agências internacionais Texto Anterior: Morte de civis alimenta acusações Próximo Texto: Annan reconhece danos à imagem da ONU Índice |
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