São Paulo, Sábado, 27 de Março de 1999
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OBJETIVO QUESTIONADO
Para comandante da Otan, ofensiva impede que civis de Kosovo sejam alvo de forças iugoslavas
Ataque aéreo não evita luta em Kosovo

Reuters
Habitantes de Pristina (capital de Kosovo) passam ao lado de restos de um shopping center, que foi atingido por um míssil em ataque da Otan


das agências internacionais


Os ataques aéreos não impediram que a população de Kosovo continue sendo alvo de forças de segurança da Iugoslávia. Essa é a avaliação do comandante supremo da Otan, o general americano Wesley Clark.
Segundo relatos não confirmados, cresceu nos últimos dias a violência contra os separatistas de origem albaneses de Kosovo. Em apenas uma cidade (Suva Reka), 30 civis teriam sido assassinados e suas casas queimadas ontem.
"Sempre foi claro, desde o começo, que não havia modo de nós pararmos essas forças paramilitares, que estão indo lá e matando civis", afirmou o general Clark ontem.
A afirmação contradiz uma das justificativas do ataque lançado pela Otan à Iugoslávia. Ainda anteontem, o secretário-geral da aliança militar ocidental, o espanhol Javier Solana, dizia: "Reitero que estamos determinados a continuar até atingirmos nossos objetivos: deter a violência e uma nova catástrofe humanitária".
Outro objetivo declarado é forçar a Iugoslávia a aceitar o acordo de paz para Kosovo. Mas o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, não dá sinais de que vá recuar.
Com dois objetivos difíceis de alcançar, a ofensiva da Otan vem recebendo críticas na Europa. Itália e Grécia pediram uma ofensiva breve e a retomada de negociações.
Segundo o general Clark, após a fase atual de ataques a instalações militares, os aviões da Otan deverão se aproximar mais do solo para atacar tropas iugoslavas, especialmente nas proximidades de Kosovo. Nessa segunda fase, estarão mais expostos à defesa antiaérea.
Os combates na Província separatista de Kosovo continuaram ontem. Com maioria da população de origem albanesa, a região luta para se separar da Iugoslávia.
"Tropas sérvias, segundo relatos, estão realizando ataques brutais contra os kosovares e sequestrando seus líderes intelectuais", afirmou ontem David Wilby, porta-voz da Otan. Dez desses líderes teriam sido mortos.
Ainda segundo a Otam, pelo menos 300 presos sérvios (etnia dominante na Iugoslávia) foram libertados para lutar em Kosovo.
O ELK (Exército de Libertação de Kosovo) chegou a afirmar que o governo iugoslavo usou até mesmo aviões MiG para bombardear posições kosovares.
Segundo Belgrado, o ELK vem aproveitando os ataques da Otan para lançar uma ofensiva e ganhar terreno na Província.
Os combates estão provocando uma onda de refugiados de Kosovo para os países vizinhos, especialmente a Albânia e a Macedônia. Mais de 2.000 kosovares já morreram em pouco mais de um ano de conflito armado na região.
Segundo a ONU, há pelo menos 140 mil refugiados em países da Europa e cerca de 270 milrefugiados internos em Kosovo.
Antes do início da crise, a Província tinha 2 milhões de habitantes, sendo 90% de origem albanesa.
O general Clark diz não acreditar que o recrudescimento dos combates em Kosovo tenha sido causado pelos ataques da Otan à Iugoslávia. "Esse é um plano que Milosevic tinha já há algum tempo."
Descrevendo a tática das forças iugoslavas em Kosovo, Clark disse: "Os grupos armados cercam o vilarejo e impedem a ajuda de entrar e os habitantes de sair. Então, eles invadem, saqueiam, queimam (as casas) e matam pessoas".
O espanhol Solana disse ter informações de que pessoas são retiradas de suas casas e assassinadas em Kosovo. "Isso não pode acontecer às vésperas do século 21."
"Os EUA estão alarmados com os relatos da escalada dos ataques sérvios a civis kosovares", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, James Rubin.


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