UOL


São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE OCUPADO

Depósito de munição controlado pelos americanos explode e mata pelo menos seis; EUA dizem que foi ataque

Explosão em Bagdá mata civis e causa furor

DA REDAÇÃO

Diversos civis iraquianos morreram na manhã de ontem na explosão de um depósito de armas controlado pela forças americanas no bairro residencial periférico de Zaafaraniya, em Bagdá.
As explosões -que puderam ser ouvidas até no centro da capital- atingiram casas próximas. O depósito continha milhares de balas, morteiros e granadas, além de mísseis, apreendidos pelos EUA nas últimas semanas durante a invasão do país.
Os moradores imediatamente apontaram as tropas americanas como culpadas pela tragédia. Mas oficiais dos EUA afirmaram que "forças hostis" não-identificadas lançaram um objeto em chamas contra o armazém de munições.
O número de mortos e de feridos era incerto até o fechamento desta edição. Segundo médicos, moradores e correspondentes de agências internacionais, poderia variar de 6 a 40. Uma declaração do comando central dos EUA no Qatar apontou para pelo menos seis mortos e quatro feridos. Moradores falavam em 14 mortos e pelo menos 30 feridos.
Tamir Kalaal, morador do bairro atingido, afirmou à Reuters ter perdido a esposa, o pai, um irmão e outros 11 parentes quando uma "chuva de foguetes" destruiu sua casa. Ele estava fora de casa na hora da explosão. Outra moradora, Hasna Aboud, declarou à agência de notícias que sua filha e oito de seus netos haviam morrido. "Bush e Saddam são criminosos", disse ela. "Primeiro tínhamos Saddam e agora, Bush. O que fizemos para merecer isso?".

Reação
Os iraquianos, no entanto, descontaram sua indignação nos americanos, lançando pedras contra soldados que se aproximavam para ajudar no resgate das vítimas. Segundo os iraquianos, as forças dos EUA jamais deveriam ter estocados armas e munições confiscadas durante a guerra em uma área residencial. De acordo com um sargento das tropas americanas, alguns soldados ficaram feridos com as reações dos civis.
Poucas horas depois das explosões, que ocorreram às 8h (1h de Brasília), vários protestos anti-EUA estouraram na capital do Iraque. Ao redor do depósito, iraquianos apontaram os punhos para as tropas americanas que deixavam o local aos gritos de "A América não é melhor do que Saddam".
Em frente ao Hotel Palestine, onde costumam ocorrer protestos do Iraque pós-invasão, uma grande multidão segurava cartazes com frases como "Forças americanas matam inocentes" e "Nada de bombas entre casas".
Um clérico islâmico liderou o grupo gritando em um megafone as palavras de ordem "Sim ao islã, sim ao Iraque. Não a Israel, não aos EUA".
Cerca de 500 homens, entoando slogans anti-americanos e pró-islâmicos, deixaram a vizinhança de Zaafaraniya em um comboio de carros, ônibus e caminhões -um dos quais levava seis caixões. Nas laterais dos veículos haviam faixas com os dizeres "O terror depois da guerra" e "Pare com as explosões próximas a civis".
O incidente demonstra claramente o quão conturbada está Bagdá 17 dias depois da tomada da cidade por parte das tropas norte-americanas.


Com agências internacionais.


Texto Anterior: Perfil: Habermas é um dos expoentes da Escola de Frankfurt
Próximo Texto: Rumsfeld deve visitar Iraque e Afeganistão
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.