São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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Venezuelanos são contra fim de canal de TV

Decisão de Chávez de não renovar licença de emissora oposicionista é a mais impopular em seus oito anos de governo

Segundo pesquisa do instituto Datanálisis, só 16% apóiam medida; TV, que produz melhores novelas do país, deve sair do ar em maio

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A decisão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de não renovar a concessão da emissora de TV RCTV é a mais impopular em seus oito anos de governo, revela uma pesquisa de opinião do instituto Datanálisis divulgada ontem.
De acordo com o levantamento, o fim da emissora, marcado para 28 de maio, tem o apoio de apenas 16% da população, enquanto 69% dos entrevistados se disseram contrários. Os demais se declararam indecisos ou não responderam à enquete.
"Chávez nunca havia tomado uma decisão com tanta rejeição", disse o diretor do Datanálisis, Luis Vicente León, durante encontro com jornalistas estrangeiros. "Não se sai ileso de uma decisão como esta."
De acordo com Vicente León, a rejeição "não tem nada que ver com a liberdade de expressão, mas com a liberdade de escolha". Ele disse que o público venezuelano discorda de que o governo lhe tire a possibilidade de assistir às novelas da RCTV -consideradas as melhores do país- e outras atrações tradicionais da emissora.
O programa de perguntas Quem Quer ser Milionário? tem a maior audiência do país, enquanto o humorístico Radio Rochela, há quatro décadas no ar, é o mais antigo.
A decisão de Chávez de não renovar a concessão da emissora mais antiga da Venezuela provocou duras críticas dentro e fora do país. Anteontem, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) iniciou um processo contra o governo venezuelano por suposta violação da liberdade de expressão.
Chávez tem dito que o governo não recuará. Ele afirma que a decisão é constitucional e lembra que a RCTV apoiou abertamente o frustrado golpe de Estado, em abril de 2002.
O levantamento, realizado na semana passada com 2.000 pessoas, é parte de uma série de pesquisas realizadas regularmente pelo Datanálisis para um grupo de 300 clientes, entre os quais a RCTV e instituições públicas. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para cima ou para baixo.

Atentado
Uma bomba de fabricação caseira explodiu na madrugada de ontem diante da Embaixada da Bolívia em Caracas. O ataque não deixou feridos nem danos materiais. De acordo com o que um alto funcionário da embaixada disse à Folha, o ataque ocorreu às 4h30, quando o artefato foi lançado de um carro em movimento. O objetivo teria sido que a bomba ultrapassasse o muro da representação, mas ela caiu na calçada e explodiu. Pedaços da bomba foram encontrados num raio de até 60 metros, segundo o funcionário boliviano, que pediu anonimato. Um suspeito foi preso em seguida.
À tarde, o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou um advogado venezuelano ligado "a uma organização da oposição venezuelana" de ser o autor material. Neste fim semana, Evo Morales estará no país para participar da cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), formada por Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua.


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