São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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Surpreendidos com discurso, Otan e EUA tentam decodificar retórica russa

DANIEL DOMBEY
NEIL BUCKLEY
DO "FINANCIAL TIMES", EM OSLO

Funcionários do governo dos EUA e da Otan se esforçavam ontem em compreender a ameaça de Vladimir Putin de deixar o Tratado sobre Forças Convencionais na Europa (CFE), uma pedra fundamental da segurança do continente. Ainda que o acordo represente garantia formal contra a remilitarização da Europa, o risco prático de uma grande corrida de armamentos convencionais desapareceu.
Mas caso uma moratória seja decretada por Putin, a Rússia deixará de cooperar com o regime de transparência e inspeções do CFE, que desempenhou papel importante na promoção da confiança internacional ao demonstrar o cumprimento dos limites que o tratado impõe aos arsenais dos países signatários. Putin declarou que considerava "oportuno" declarar uma moratória até que todos os países da Otan, "sem exceção", ratificassem uma versão revisada do tratado, negociada em 1999, e passassem a observá-la.
Os EUA e os demais membros da Otan se recusam a ratificar o texto revisado sem que a Rússia antes cumpra seu compromisso de retirar suas tropas de encraves em antigas repúblicas soviéticas -Moscou ainda mantém tropas em "missão de paz" em território da Moldova. O tratado original, de 1990, limitava os países da Otan e do Pacto de Varsóvia a um arsenal somado de 20 mil tanques, 6.800 aviões de combate e 2.000 helicópteros de ataque entre o oceano Atlântico e os montes Urais, além de outras restrições a equipamento.
Ainda que a versão original tenha sido adaptada para levar em conta o fim do Pacto de Varsóvia e o colapso da União Soviética, em 1991, o texto continua em vigor. A versão revisada introduziria novos limites individuais a países e territórios. Para Tim Williams, do Instituto Real de Serviços Unificado, organização de estudos de defesa das Forças Armadas britânicas, as preocupações da Rússia "não se referem realmente ao CFE, já que os russos fracassaram em cumprir os termos do tratado". "O que os preocupa agora são as relações da Rússia com a Otan, sobretudo o escudo antimísseis", disse.
Os comentários de Putin surpreenderam os diplomatas, já que nas últimas semanas a Rússia vinha vinculando sua oposição ao sistema de defesa antimísseis a outro acordo, o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, de 1987. Mas Serguei Mironóv, presidente da Câmara Alta do Parlamento, disse que a moratória quanto ao CFE era "a primeira resposta assimétrica" russa aos planos dos EUA para o escudo antimísseis -fica em aberto a chance de respostas futuras. "Isso se enquadra em um padrão de comportamento visto em décadas passadas", disse Thomas Valasek, do Centro pela Reforma Européia, em Londres. "Surge uma proposta, e então os russos se opõem a ela, causando um período de introspecção na Europa; ao fim, a decisão é implementada."


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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