|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Surpreendidos com discurso, Otan e EUA tentam decodificar retórica russa
DANIEL DOMBEY
NEIL BUCKLEY
DO "FINANCIAL TIMES", EM OSLO
Funcionários do governo dos
EUA e da Otan se esforçavam
ontem em compreender a
ameaça de Vladimir Putin de
deixar o Tratado sobre Forças
Convencionais na Europa
(CFE), uma pedra fundamental
da segurança do continente.
Ainda que o acordo represente garantia formal contra a remilitarização da Europa, o risco
prático de uma grande corrida
de armamentos convencionais
desapareceu.
Mas caso uma moratória seja
decretada por Putin, a Rússia
deixará de cooperar com o regime de transparência e inspeções do CFE, que desempenhou papel importante na promoção da confiança internacional ao demonstrar o cumprimento dos limites que o tratado impõe aos arsenais dos
países signatários.
Putin declarou que considerava "oportuno" declarar uma
moratória até que todos os países da Otan, "sem exceção", ratificassem uma versão revisada
do tratado, negociada em 1999,
e passassem a observá-la.
Os EUA e os demais membros da Otan se recusam a ratificar o texto revisado sem que a
Rússia antes cumpra seu compromisso de retirar suas tropas
de encraves em antigas repúblicas soviéticas -Moscou ainda
mantém tropas em "missão de
paz" em território da Moldova.
O tratado original, de 1990,
limitava os países da Otan e do
Pacto de Varsóvia a um arsenal
somado de 20 mil tanques,
6.800 aviões de combate e
2.000 helicópteros de ataque
entre o oceano Atlântico e os
montes Urais, além de outras
restrições a equipamento.
Ainda que a versão original
tenha sido adaptada para levar
em conta o fim do Pacto de Varsóvia e o colapso da União Soviética, em 1991, o texto continua em vigor. A versão revisada
introduziria novos limites individuais a países e territórios.
Para Tim Williams, do Instituto Real de Serviços Unificado, organização de estudos de
defesa das Forças Armadas britânicas, as preocupações da
Rússia "não se referem realmente ao CFE, já que os russos
fracassaram em cumprir os termos do tratado". "O que os
preocupa agora são as relações
da Rússia com a Otan, sobretudo o escudo antimísseis", disse.
Os comentários de Putin surpreenderam os diplomatas, já
que nas últimas semanas a Rússia vinha vinculando sua oposição ao sistema de defesa antimísseis a outro acordo, o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, de 1987.
Mas Serguei Mironóv, presidente da Câmara Alta do Parlamento, disse que a moratória
quanto ao CFE era "a primeira
resposta assimétrica" russa aos
planos dos EUA para o escudo
antimísseis -fica em aberto a
chance de respostas futuras.
"Isso se enquadra em um padrão de comportamento visto
em décadas passadas", disse
Thomas Valasek, do Centro pela Reforma Européia, em Londres. "Surge uma proposta, e
então os russos se opõem a ela,
causando um período de introspecção na Europa; ao fim, a
decisão é implementada."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Saiba mais: Tratado reduziu armas na Europa Próximo Texto: Venezuelanos são contra fim de canal de TV Índice
|