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ANÁLISE
Eleição é oportunidade perdida
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Sessenta e oito por cento é
um índice inteligente para se
vencer uma eleição pré-fabricada, a meio caminho entre o limiar da maioria absoluta e as
margens impossivelmente esmagadoras que convidam ao
deboche, tão comuns no mundo árabe.
Omar al Bashir, o presidente
do Sudão reconduzido ontem,
esperava sair da primeira eleição multipartidária em 24 anos
no maior país da África pondo
uma pedra sobre a ameaça de
ser preso por crimes cometidos
em Darfur, palco do primeiro
genocídio do século 21. Não
conseguirá.
Os 68% que ele de alguma
maneira encontrou lhe dão discurso de que tem a população a
seu favor, e não se pode negar o
genuíno apoio que recebe no
norte árabe, em razão do bom
momento da economia. Mas o
que fica dessa eleição é uma
oportunidade desperdiçada.
Desesperado por uma vitória, Bashir sufocou a campanha
da oposição, com um roteiro
que é quase um clichê. Tomou
para seus anúncios os postes da
capital, Cartum, e a TV estatal.
Distribuiu comida e documentos de votação. Deu transporte
a eleitores analfabetos. Aparelhou a comissão eleitoral.
Tanto fez que levou a oposição a boicotar o evento que serviria de palco ao ditador, no poder desde que deu um golpe de
Estado, há 20 anos.
Foi um pleito comprometido, que dá a Bashir fôlego interno e junto a seus colegas déspotas nos mundos árabe, africano
e latino-americano. Mas que
não muda uma vírgula no conceito que as democracias ocidentais fazem dele. É improvável que o Tribunal Penal Internacional recue da acusação de
crimes contra a humanidade.
Nessa situação, Bashir deverá comandar o Sudão nos tempos turbulentos que se anunciam. Noves fora a tensa situação em Darfur, o iceberg da independência do sul do país se
aproxima, para janeiro de 2011.
Será curioso saber o curso
que a velha raposa seguirá. É
certo que não teria pudores
morais de reiniciar uma guerra
que matou 2 milhões. Mas poderá calcular que o respeito a
uma decisão soberana pró-independência do sul lhe dará finalmente o respaldo internacional que busca para sobreviver no cargo outros 20 anos.
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