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Sem anúncio, Israel congela assentamentos
Vereadores da cidade dizem que construções estão suspensas desde a polêmica durante a visita do vice-presidente dos EUA
Medida pode ser um passo crucial para a retomada das negociações de paz entre israelenses e palestinos, atualmente em ponto morto
DE JERUSALÉM
Embora continue a afirmar
que não cederá à pressão internacional contra a ocupação de
Jerusalém Oriental, Israel na
prática congelou a construção
nessa parte da cidade.
A aprovação de novos projetos foi suspensa por decisão do
premiê israelense, Binyamin
Netanyahu, disseram fontes
municipais de Jerusalém.
A ordem contraria a retórica
de Netanyahu, que insiste no
direito israelense de construir
em toda a cidade e rejeita sua
divisão, como exigem os palestinos para a instalação de sua
capital.
O motivo da suspensão teria
sido a crise recente com os
EUA, causada pelo anúncio de
novas construções israelenses
em Jerusalém Oriental em plena visita à cidade do vice-presidente americano, Joe Biden.
Além de causar imenso mal-estar, o incidente foi um golpe
às tentativas da Casa Branca de
retomar o diálogo entre israelenses e palestinos, parado há
mais de um ano e meio, por
meio de negociações indiretas.
Netanyahu foi bombardeado
por críticas domésticas por
azedar as relações com o principal aliado de Israel, mas manteve o discurso em defesa da
"indivisibilidade" de Jerusalém
que agrada a maioria conservadora de seu gabinete.
Nos bastidores, porém, o premiê prefere evitar ações que
possam irritar os americanos,
disse um dos membros do conselho municipal de Jerusalém.
"Desde que Biden esteve aqui
há uma ordem direta para não
permitir construção judaica
em Jerusalém Oriental", afirmou ao "Jerusalem Post" o vereador Meir Margalit.
Margalit disse ter ouvido de
autoridades da Prefeitura de
Jerusalém que Netanyahu determinou a suspensão de projetos na parte oriental para não
ampliar a crise com os EUA.
Não se sabe quanto tempo o
congelamento irá durar.
No fim de novembro o governo israelense aprovou a suspensão por dez meses de construções na Cisjordânia, mas
não incluiu Jerusalém. Para a
ONU e a maioria dos países, Jerusalém Oriental é parte da
Cisjordânia ocupada.
Em entrevista à Folha há
duas semanas, o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, rejeitou
qualquer limitação à construção na cidade, mas, na prática,
a história é outra, confirmou
outro vereador de Jerusalém.
Meir Turgeman, que integra
a comissão do Ministério do
Interior encarregada de aprovar novas construções, disse
que mandou carta ao ministro
há quase um mês perguntando
por que as reuniões semanais
foram suspensas. Até hoje, disse, não recebeu resposta.
O congelamento "de facto"
em Jerusalém é mais um sinal
surgido nos últimos dias de que
uma acomodação pode estar a
caminho. O enviado americano
à região, George Mitchell, terminou no domingo nova rodada de consultas com palestinos
e israelenses dando a entender
que o reinício do diálogo ocorrerá nas próximas semanas.
Os americanos tentam convencer os palestinos a voltar à
mesa de negociações mesmo
sem a suspensão total das
construções. Para isso, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, foi convidado para um encontro na Casa Branca em 1º de
maio. A expectativa dos EUA é
que as conversas comecem logo em seguida.
(MARCELO NINIO)
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