São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2010

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Sem anúncio, Israel congela assentamentos

Vereadores da cidade dizem que construções estão suspensas desde a polêmica durante a visita do vice-presidente dos EUA

Medida pode ser um passo crucial para a retomada das negociações de paz entre israelenses e palestinos, atualmente em ponto morto


DE JERUSALÉM

Embora continue a afirmar que não cederá à pressão internacional contra a ocupação de Jerusalém Oriental, Israel na prática congelou a construção nessa parte da cidade.
A aprovação de novos projetos foi suspensa por decisão do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, disseram fontes municipais de Jerusalém.
A ordem contraria a retórica de Netanyahu, que insiste no direito israelense de construir em toda a cidade e rejeita sua divisão, como exigem os palestinos para a instalação de sua capital.
O motivo da suspensão teria sido a crise recente com os EUA, causada pelo anúncio de novas construções israelenses em Jerusalém Oriental em plena visita à cidade do vice-presidente americano, Joe Biden.
Além de causar imenso mal-estar, o incidente foi um golpe às tentativas da Casa Branca de retomar o diálogo entre israelenses e palestinos, parado há mais de um ano e meio, por meio de negociações indiretas.
Netanyahu foi bombardeado por críticas domésticas por azedar as relações com o principal aliado de Israel, mas manteve o discurso em defesa da "indivisibilidade" de Jerusalém que agrada a maioria conservadora de seu gabinete.
Nos bastidores, porém, o premiê prefere evitar ações que possam irritar os americanos, disse um dos membros do conselho municipal de Jerusalém.
"Desde que Biden esteve aqui há uma ordem direta para não permitir construção judaica em Jerusalém Oriental", afirmou ao "Jerusalem Post" o vereador Meir Margalit.
Margalit disse ter ouvido de autoridades da Prefeitura de Jerusalém que Netanyahu determinou a suspensão de projetos na parte oriental para não ampliar a crise com os EUA. Não se sabe quanto tempo o congelamento irá durar.
No fim de novembro o governo israelense aprovou a suspensão por dez meses de construções na Cisjordânia, mas não incluiu Jerusalém. Para a ONU e a maioria dos países, Jerusalém Oriental é parte da Cisjordânia ocupada.
Em entrevista à Folha há duas semanas, o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, rejeitou qualquer limitação à construção na cidade, mas, na prática, a história é outra, confirmou outro vereador de Jerusalém.
Meir Turgeman, que integra a comissão do Ministério do Interior encarregada de aprovar novas construções, disse que mandou carta ao ministro há quase um mês perguntando por que as reuniões semanais foram suspensas. Até hoje, disse, não recebeu resposta.
O congelamento "de facto" em Jerusalém é mais um sinal surgido nos últimos dias de que uma acomodação pode estar a caminho. O enviado americano à região, George Mitchell, terminou no domingo nova rodada de consultas com palestinos e israelenses dando a entender que o reinício do diálogo ocorrerá nas próximas semanas.
Os americanos tentam convencer os palestinos a voltar à mesa de negociações mesmo sem a suspensão total das construções. Para isso, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, foi convidado para um encontro na Casa Branca em 1º de maio. A expectativa dos EUA é que as conversas comecem logo em seguida. (MARCELO NINIO)


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