São Paulo, Terça-feira, 27 de Abril de 1999
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COMENTÁRIO
Vuk Draskovic desponta como possível sucessor

Associated Press
O vice-premiê Vuk Draskovic


KENNEDY ALENCAR
enviado especial a Budapeste

Vuk Draskovic, vice-premiê da Iugoslávia, adotou desde o início do conflito com a Otan uma posição conciliadora e diferenciada do presidente Slobodan Milosevic. É hoje a liderança iugoslava mais confiável para o Ocidente.
Draskovic e Milosevic usam um ao outro de maneira pragmática. O primeiro tem dado entrevistas às principais redes de TV americanas e européias como uma espécie de porta-voz da face moderada do regime iugoslavo.
Esse papel dá resultado para ambos, mas, a depender do desfecho da crise, pode ser mais produtivo para um do que para outro.
Se Milosevic conseguir um acordo com a Otan que lhe permita permanecer no poder, Draskovic continuará a ter um papel coadjuvante no governo. Mas, se a Otan estiver disposta a derrubar o ditador, Draskovic seria o sucessor natural.
Ontem, ao falar que a Iugoslávia admitiria tropas estrangeiras sob o comando da ONU em seu território com a participação de países da Otan, disse que achava estar expressando um sentimento de Milosevic. O presidente iugoslavo, que raramente fala diretamente à população (deu sua primeira entrevista para uma TV americana, depois de um mês de conflito), costuma deixar o balão de ensaio.
Se der errado, pode desautorizar Draskovic, já que não foi ouvida uma palavra sua sobre o assunto. Se der certo, surge como o chefão com o qual a Otan terá de negociar.
Draskovic, que capitaneou protestos da oposição em 96 e 97, acabou se compondo com o governo, mas sempre manteve certa independência em relação a Milosevic. Essa aliança foi muito criticada por seus antigos parceiros, mas lhe deu uma projeção política nada desprezível.
Não é à toa que ousou colocar o dedo na ferida, dizendo que o governo não pode omitir da população o que se passa na guerra.
Foi uma referência direta à tentativa do poder central de controlar mais a programação do Studio B, a TV de Belgrado, que reza pela cartilha do partido político de Draskovic, o SPO (Movimento de Renovação Sérvia).
Apesar do tom nacionalista, o Studio B tem enfoque mais informativo e isento da guerra que as outras emissoras.
Nos próximos dias, ficará mais claro se Draskovic está em rota de colisão direta com Milosevic ou se serve apenas de marionete do ditador, que, nos últimos dez anos, sempre cedeu quando preciso para se perpetuar no poder.


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