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COMENTÁRIO
Expansão é inviável sem reforma
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A reforma do quadro legal europeu, do qual a futura Constituição
será a pedra angular, é uma condição "sine qua non" para a expansão da União Européia (UE)
para o leste do continente.
Sem ela, o mecanismo de tomada de decisão atual acabaria bloqueando o progresso do bloco, já
que as principais decisões relacionadas a inúmeras áreas, como a
da política externa e de segurança,
ainda têm de ser consensuais.
Ora, se já é complexo chegar a
um acordo entre 15 países, isso será impossível a partir de maio de
2004, quando dez novos membros, menos ricos que a maioria
dos atuais, entrarão na UE.
Dito isso, vale salientar que a tarefa da Convenção sobre Futuro
da Europa (CFE) é hercúlea, pois
deve levar em consideração não
apenas o lado técnico das reformas que pretende sugerir mas
também os interesses específicos
dos 15 atuais membros do bloco.
Sobram, portanto, desavenças.
A batalha inicial opôs federalistas,
capitaneados pela Alemanha até
há pouco tempo, a eurocéticos, liderados pelo Reino Unido. Buscando mostrar tato político e conciliar visões antagônicas sobre o
futuro do bloco, a CFE acabou
não definindo pontos cruciais para o sucesso de seu projeto.
Com isso, ainda não está claro
como ocorrerá o processo de tomada de decisão no bloco nem
quem definirá realmente suas políticas. A França e a Alemanha esperam que a futura Constituição
permita o aprofundamento da
"cooperação reforçada" entre
partes da UE, o que possibilitaria
a criação de uma força militar de
reação rápida composta por apenas metade de seus países.
Londres se opõe a essa hipótese
porque teme perder influência.
Receando ser visto como parte da
esfera de influência dos EUA, o
Reino Unido não quer permitir
que Paris e Berlim ditem as regras
da política externa da UE.
Todavia, ao menos por enquanto, a proposta da CFE não é realista nessa área. Afinal, ela exige que
todos os países aceitem "sem reservas" a política externa e de segurança estabelecida pelo bloco.
As divisões da UE antes da guerra
são, portanto, um mau presságio.
Paris e Berlim crêem que, com
uma diplomacia mais ativa, a UE
venha a fortalecer-se e defendem
a harmonização das políticas externas nacionais. Londres não admite perder sua independência.
Outro ponto que não foi definido no esboço de Constituição é o
peso de cada país nas instituições
da UE. Em Nice, em 2000, países
não muito populosos, como a Espanha, ganharam força, porém isso não deve permanecer assim.
Afinal, pesos pesados podem
até não entender-se entre si, contudo, decerto, não aceitam perder
força para Estados menores.
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