São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2000


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MÉXICO
Mas o subcomandante Marcos deixou clara sua preferência pelo candidato Cuauhtémoc Cárdenas (centro-esquerda)
Zapatistas afirmam que não interferirão em eleição

JUAN JESUS AZNAREZ
DO "EL PAÍS", NO MÉXICO

O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) afirmou que não criará obstáculos para as eleições presidenciais do próximo domingo no México. Declarou ainda que permitirá a instalação das urnas nas zonas que estão sob sua influência e que não cometerá atos de sabotagem contra os postos eleitorais ou funcionários do Instituto Federal Eleitoral (IFE).
O EZLN não pede votos para candidato algum, mas seu líder mais conhecido, o subcomandante Marcos, assinalou publicamente sua preferência por Cuauhtémoc Cárdenas, o candidato do Partido da Revolução Democrática (PRD), de centro-esquerda.
Os zapatistas ganharam a atenção pública em 1º de janeiro de 1994, quando entre 600 e 2.000 guerrilheiros indígenas derrotaram tropas do Exército mexicano e tomaram de assalto a cidade colonial de San Cristóbal de las Casas, capital de Chiapas.
O grupo inspira-se em Emiliano Zapata, que durante a Revolução Mexicana (1910-17) distribuiu terras nas áreas que tomou controle. A rígida estrutura militar do EZLN é comandada pelo subcomandante Marcos, um guerrilheiro encapuzado que se supõe ser o professor de sociologia Rafael Sebastian Guillen. O título, segundo ele, vem de uma suposta subordinação dos guerrilheiros ao comando indígena do EZLN.
A guerrilha zapatista não deu nenhum tiro desde 12 de janeiro de 1994. Contudo, sua permanência nas selvas do sul do México impede a tranquilidade política no país. O México tem pouco mais de 100 milhões de habitantes e está às portas das eleições presidenciais mais concorridas de sua história.
Segundo a última pesquisa do jornal "Reforma", 60% dos eleitores temem a ocorrência de conflitos caso a vitória de um candidato ocorra por pequena margem de diferença em relação ao segundo.
Francisco Labastida, do Partido Revolucionário Institucional (PRI, no poder), e Vicente Fox, do Partido da Ação Nacional (PAN), disputam o primeiro lugar nas pesquisas. Eles estão tecnicamente empatados e são seguidos de longe por Cárdenas.
"As bases de apoio zapatistas votarão de acordo com sua própria consciência. Não haverá sanção alguma por qualquer inclinação partidária adotada", assinalou um comunicado assinado pelo subcomandante Marcos.
Ele se manifestou contra o "voto útil" e negou que o voto de esquerda vá se somar aos de Fox somente porque, segundo as pesquisas, ele seria o único opositor que poderá desbancar o PRI, que está no poder desde 1929.
Cárdenas, que no domingo encheu a principal praça da capital mexicana, reiterou sua negativa de renunciar em benefício do candidato do PAN. Fox admitiu em seu último encontro que será mais difícil vencer o PRI sem o apoio do PRD.
Marcos dirige uma milícia com escassa capacidade militar, mas muito voltada para para o debate político. Ele sustenta que uma renúncia de Cárdenas significaria o desaparecimento de uma opção eleitoral de esquerda na luta pela Presidência.
"Não ignoramos que há um debate importante que deve questionar se Cárdenas e o PRD são ou não de esquerda. Nós pensamos que ainda são parte da esquerda, ainda que com todos os matizes e críticas que se possa pensar", declarou o líder zapatista.
Mas, eliminada a opção de esquerda, pergunta-se o dirigente do EZLN: "Que opção restará para os milhões de mexicanos que depositam sua esperança e esforço em uma profunda mudança social? A abstenção? A guerrilha?".
"A campanha do engenheiro Cárdenas é algo mais que uma campanha para o posto de presidente. É, para milhões de mexicanos e mexicanas, o argumento de que se pode ser de esquerda e lutar por mudanças sem ter que recorrer à clandestinidade, à ilegalidade e à luta armada", concluiu Marcos em sua declaração.


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