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MÉXICO
Mas o subcomandante Marcos deixou clara sua preferência pelo candidato Cuauhtémoc Cárdenas (centro-esquerda)
Zapatistas afirmam que não interferirão em eleição
JUAN JESUS AZNAREZ
DO "EL PAÍS", NO MÉXICO
O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) afirmou
que não criará obstáculos para as
eleições presidenciais do próximo
domingo no México. Declarou
ainda que permitirá a instalação
das urnas nas zonas que estão sob
sua influência e que não cometerá
atos de sabotagem contra os postos eleitorais ou funcionários do
Instituto Federal Eleitoral (IFE).
O EZLN não pede votos para
candidato algum, mas seu líder
mais conhecido, o subcomandante Marcos, assinalou publicamente sua preferência por Cuauhtémoc Cárdenas, o candidato do
Partido da Revolução Democrática (PRD), de centro-esquerda.
Os zapatistas ganharam a atenção pública em 1º de janeiro de
1994, quando entre 600 e 2.000
guerrilheiros indígenas derrotaram tropas do Exército mexicano
e tomaram de assalto a cidade colonial de San Cristóbal de las Casas, capital de Chiapas.
O grupo inspira-se em Emiliano
Zapata, que durante a Revolução
Mexicana (1910-17) distribuiu terras nas áreas que tomou controle.
A rígida estrutura militar do
EZLN é comandada pelo subcomandante Marcos, um guerrilheiro encapuzado que se supõe ser o
professor de sociologia Rafael Sebastian Guillen. O título, segundo
ele, vem de uma suposta subordinação dos guerrilheiros ao comando indígena do EZLN.
A guerrilha zapatista não deu
nenhum tiro desde 12 de janeiro
de 1994. Contudo, sua permanência nas selvas do sul do México
impede a tranquilidade política
no país. O México tem pouco
mais de 100 milhões de habitantes
e está às portas das eleições presidenciais mais concorridas de sua
história.
Segundo a última pesquisa do
jornal "Reforma", 60% dos eleitores temem a ocorrência de conflitos caso a vitória de um candidato
ocorra por pequena margem de
diferença em relação ao segundo.
Francisco Labastida, do Partido
Revolucionário Institucional
(PRI, no poder), e Vicente Fox, do
Partido da Ação Nacional (PAN),
disputam o primeiro lugar nas
pesquisas. Eles estão tecnicamente empatados e são seguidos de
longe por Cárdenas.
"As bases de apoio zapatistas
votarão de acordo com sua própria consciência. Não haverá sanção alguma por qualquer inclinação partidária adotada", assinalou um comunicado assinado pelo subcomandante Marcos.
Ele se manifestou contra o "voto
útil" e negou que o voto de esquerda vá se somar aos de Fox somente porque, segundo as pesquisas, ele seria o único opositor
que poderá desbancar o PRI, que
está no poder desde 1929.
Cárdenas, que no domingo encheu a principal praça da capital
mexicana, reiterou sua negativa
de renunciar em benefício do candidato do PAN. Fox admitiu em
seu último encontro que será
mais difícil vencer o PRI sem o
apoio do PRD.
Marcos dirige uma milícia com
escassa capacidade militar, mas
muito voltada para para o debate
político. Ele sustenta que uma renúncia de Cárdenas significaria o
desaparecimento de uma opção
eleitoral de esquerda na luta pela
Presidência.
"Não ignoramos que há um debate importante que deve questionar se Cárdenas e o PRD são ou
não de esquerda. Nós pensamos
que ainda são parte da esquerda,
ainda que com todos os matizes e
críticas que se possa pensar", declarou o líder zapatista.
Mas, eliminada a opção de esquerda, pergunta-se o dirigente
do EZLN: "Que opção restará para os milhões de mexicanos que
depositam sua esperança e esforço em uma profunda mudança
social? A abstenção? A guerrilha?".
"A campanha do engenheiro
Cárdenas é algo mais que uma
campanha para o posto de presidente. É, para milhões de mexicanos e mexicanas, o argumento de
que se pode ser de esquerda e lutar por mudanças sem ter que recorrer à clandestinidade, à ilegalidade e à luta armada", concluiu
Marcos em sua declaração.
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