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JUSTIÇA
Decisão, que vale para todo o país, rejeita lei texana que proibia relação homossexual mesmo em ambiente privado
Suprema Corte dos EUA libera sodomia
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A Suprema Corte norte-americana liberou ontem, em termos
legais, o homossexualismo e a sodomia nos 13 Estados dos EUA
em que essas práticas ainda eram
proibidas.
Por 6 votos a 3, o tribunal julgou
inconstitucional uma lei de 30
anos no Texas que considerava
crime ter relação sexual oral ou
anal entre pessoas do mesmo sexo, ainda que essa relação fosse
consensual e se desse num ambiente privado. A pena máxima
era multa de US$ 500.
Na mesma sessão, por 5 votos a
4, foi invalidada uma decisão tomada pela própria Suprema Corte, há 17 anos, que manteve a proibição para o homossexualismo na
Geórgia.
A decisão de ontem foi considerada "histórica" por grupos de direitos humanos e de proteção a
gays e lésbicas nos EUA.
Na prática, a Corte Suprema eliminou a proibição do homossexualismo em nove Estados (Alabama, Flórida, Idaho, Louisiana,
Mississipi, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Utah e Virgínia) e
do sexo anal e oral entre pessoas
do mesmo sexo em outros quatro
(Texas, Kansas, Oklahoma e Missouri).
Para o juiz Anthony Scalia, que
votou contra a inconstitucionalidade da lei, a decisão abrirá caminho para a legalização do casamento homossexual no país.
Significados
Diferentemente do significado
em português (de sexo anal entre
homem e mulher ou entre homens, segundo o Aurélio), a palavra sodomia tem, em inglês, um
sentido mais amplo, que sugere
variadas formas de sexo.
"É o começo de uma nova era,
do fim da marginalização de um
comportamento natural", disse à
Folha Mark Chield, diretor da
Human Rights Campaign, entidade de defesa de direitos civis nos
EUA.
Até 1961, todos os 50 Estados
norte-americanos tinham leis
proibindo o homossexualismo no
país.
Dos que mantiveram as restrições desde então, o Texas ganhou
destaque depois que John Lawrence e Tyron Garner, de Houston, foram detidos, em 1998, no
momento em que mantinham relações sexuais.
A porta do apartamento onde
estavam foi arrombada depois
que um vizinho chamou a polícia
afirmando que havia pessoas
"enlouquecidas" no local e que
poderiam estar armadas.
Lawrence e Garner passaram a
noite na cadeia e foram multados
em US$ 200 cada um sob a acusação de sodomia.
Em seu despacho final de ontem, o juiz Anthony Kennedy
afirmou que "o Estado não pode
negar a sua existência [dos dois
envolvidos, homossexuais] ou
controlar seus destinos transformando a sua vida sexual privada
em um crime".
Ruth Harlow, diretora da
Lambda Legal Defense and Education, que representou Lawrence
e Garner na ação, considerou a
decisão a "mais importante conquista para a causa gay em uma
geração".
Embora o "crime" fosse da alçada dos Estados, não há, segundo
um funcionário do Departamento da Justiça norte-americano
consultado pela Folha, nenhuma
pessoa presa nos Estados Unidos
por exercer um comportamento
homossexual.
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