São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2007

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Presidente chinês promete "dar mais poder ao povo"

Discurso antecipa debate sobre "democracia" que marcará o congresso do PC

Apesar da retórica reformista, Hu Jintao reafirma que mudanças políticas manterão a supremacia comunista

RICHARD MCGREGOR
DO "FINANCIAL TIMES", EM PEQUIM

Hu Jintao, presidente da China, prometeu ontem que as reformas econômicas e políticas continuarão no país. O discurso antecipou os temas que dominarão o próximo congresso do Partido Comunista, que no segundo semestre confirmará a liderança de Hu pelos próximos cinco anos.
Mas o presidente chinês disse que quaisquer reformas precisam ser conduzidas "na direção correta", sob a orientação do partido dominante. "Precisamos manter a liderança do partido, dar mais poder ao povo e governar o país de acordo com a lei", disse Hu aos membros do Birô Político, o órgão central do partido, na escola central da agremiação em Pequim.
Embora sustentar a supremacia do regime de partido único em um discurso no qual elogiou a primazia da lei possa parecer contraditório, Hu e intelectuais do partido insistem em que a China está construindo uma versão própria de "democracia", sob o domínio dos comunistas.
Em um eco das democracias ocidentais, Hu disse que "devemos desenvolver [o país] para o povo e pelo povo; e os frutos de nosso desenvolvimento devem ser compartilhados por todo o povo". Ele afirmou ainda que os "canais" democráticos do partido precisam ser expandidos, algo que já está sendo colocado em prática pelo aumento do número de filiados que têm o direito de votar nas eleições locais do partido.
Hu também prometeu manter sua política de "desenvolvimento científico", expressão que todos os funcionários do governo agora empregam e que os acadêmicos locais dizem servir como código para designar um compromisso com um novo modelo de desenvolvimento. Em lugar do modelo de "desenvolvimento a qualquer custo", o "desenvolvimento científico" estipula que "os custos ambientais e sociais" devem receber mais atenção.
Para analistas, o discurso representa uma rejeição aos conservadores do partido, que esperavam uma posição mais esquerdista da parte de Hu. "Isso significa que o direcionamento geral, em termos de globalização, abertura ao exterior e maior dependência do mercado, não será sacrificado", disse Ding Xueliang, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional em Pequim. Igualmente importante para a economia será a indicação no congresso de três ou possivelmente quatro primeiros-ministros assistentes, responsáveis por boa parte das diretivas do dia-a-dia. Hu pediu por maiores esforços para superar a corrupção endêmica. Os comitês partidários em todos os níveis precisam reconhecer a "natureza de longo prazo, a dificuldade e a complexidade" dessa batalha, ele afirmou.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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