São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

ONU alertou Israel 10 vezes sobre ataque

Por seis horas, funcionários pediram às forças israelenses que parassem bombardeios próximos a posto do organismo

Área foi alvo de 21 ataques de precisão; premiê Olmert afirma que incidente que matou 4 observadores foi "erro" e será investigado


DA REDAÇÃO

As forças de paz da ONU no Líbano alertaram Israel dez vezes, em um período de seis horas, para que interrompesse seus bombardeios perto do posto das Nações Unidas em Khiyam, no sul do país, momentos antes de um ataque israelense matar quatro observadores do organismo no local.
"O bombardeio do posto da ONU, estabelecido há muito tempo e claramente identificado, começou cedo, pela manhã, e prosseguiu até depois das sete da noite", disse Annan em entrevista coletiva em Roma.
Israel está bombardeando o Líbano, especialmente o sul do país, desde o último dia 12 em retaliação ao seqüestro de dois de seus soldados pelo grupo extremista xiita Hizbollah. Mais de 400 pessoas já morreram no conflito, sendo cerca de 90% delas, do lado libanês.
"Nosso pessoal no terreno estava em contato com o Exército de Israel para tentar adverti-lo e dizer-lhe: "Cuidado com nosso posto, não podem ferir nossos funcionários'", acrescentou. "Foram lançados vários apelos antes de que ocorresse [ataque], e pode-se imaginar a angústia de nossos soldados e dos observadores não armados que se encontravam a serviço da paz."
Os quatro observadores mortos são da China, do Canadá, da Finlândia e da Áustria.
Segundo um relatório preliminar do organismo, a cada novo telefonema, uma autoridade israelense prometia que os ataques seriam interrompidos.
De acordo com Jane Holl Lute, vice-chefe das operações de paz da ONU, houve 21 ataques a uma distância de 300 metros do posto durante seis horas, antes que ele fosse completamente destruído. Doze deles ocorreram a menos de 100 metros do posto, e quatro acertaram o prédio diretamente. O bombardeio continuou durante as operações de resgate.
Ontem, o premiê de Israel, Ehud Olmert, expressou "profundo pesar" pelo incidente. "O premiê disse ter instruído o Exército a levar adiante uma investigação completa e afirmou que os resultados serão compartilhados com o secretário-geral da ONU", disse ele em nota. "É inconcebível que a ONU defina um erro como uma ação aparentemente deliberada", afirmou, aludindo à declaração de Annan na véspera.
Questionado ontem, Annan disse que, apesar de aceitar as desculpas de Olmert, a ONU deveria fazer uma investigação independente sobre o caso.
A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) se estabeleceu no sul do país em 1978 com o objetivo de assegurar a retirada das forças israelenses, ajudar o Exército libanês a exercer sua autoridade e garantir a paz na região.
Mas se mostrou incapaz de conter o Hizbollah, e seus capacetes azuis vinham atuando principalmente na desativação de minas e em assistência humanitária à população.
O ataque provocou reações da comunidade internacional. A União Européia qualificou o incidente de "inaceitável" e pediu uma investigação. Já a Casa Branca disse que a morte dos observadores foi uma "coisa horrível", mas que Israel faz bem em investigar o incidente.
A China distribuiu um projeto de resolução no Conselho de Segurança da ONU condenando o ataque de Israel, mas o texto foi rejeitado pelos EUA.
Uma nova proposta de declaração presidencial pede "uma completa investigação desse alarmante incidente e exige o fim de todo ataque a posições e funcionários da ONU".
Ontem, um comboio da ONU com 90 toneladas de comida e suprimentos médicos básicos chegou à cidade de Tiro.


Com agências internacionais

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