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análise
EUA têm de falar a sério com a Síria
THOMAS L. FRIEDMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM DAMASCO
Poderíamos nos perguntar
de que planeta chegou a secretária de Estado Condoleezza Rice, pensando que
pode montar uma força internacional para assumir o
controle do sul do Líbano,
sem ir até Damasco e tentar
conquistar o apoio dos sírios.
Dois altos funcionários sírios não mediram palavras
quando perguntei qual era
sua reação à idéia do envio de
tal força à região, sem o apoio
sírio. Me perguntaram se eu
me lembrava de 1983, quando o governo Reagan tentou
impor ao Líbano um tratado
formulado por Israel, contra
a vontade da Síria.
Eu estava lá e me recordo
muito bem: o Hizbollah, sem
dúvida respaldado pela Síria
ou pelo Irã, estreou suas habilidades diante do mundo,
explodindo a embaixada dos
EUA em Beirute e batalhões
dos marines americanos e
das forças de paz francesas.
Será que podemos conseguir a adesão da Síria? Podemos separar Damasco de
Teerã? As conversas que venho mantendo aqui em Damasco sugerem que isso seria muito difícil, mas que valeria a pena tentar. Trata-se
da manobra estratégica mais
importante que poderíamos
fazer, porque a Síria é a ponte
entre Irã e Hizbollah. Mas isso exigiria um diálogo racional, de alto nível. Condoleezza Rice diz que podemos tratar com a Síria por canais diplomáticos normais. Será?
Já retiramos nosso embaixador de Damasco, e os diplomatas dos EUA que restaram são autorizados a reunir-se apenas com o diretor
de protocolo do Ministério
do Exterior, cujo trabalho é
perguntar como eles preferem seu café turco. O embaixador sírio em Washington
também está isolado.
Devemos encarar o Líbano
com realismo. O Hizbollah
cometeu um erro insensato
ao provocar Israel e deveria
envergonhar-se pelo desastre no Líbano. Entendo a necessidade vital que tem Israel de degradar os foguetes
do Hizbollah. Mas a milícia,
que representa 40% do Líbano -os xiitas-, não pode ser
erradicada a um preço que
possa ser pago por Israel ou
por aliados árabes dos EUA.
Apesar das bravatas do
Hizbollah, Israel o feriu gravemente. O que se queria
deixar claro já foi demonstrado. É hora de pôr fim a essa guerra e montar um acordo. Quem quiser dar um golpe de nocaute acabará por
nocautear a si mesmo.
Será que a Síria vai entrar
no jogo? Os sírios dirão que
sua aliança com o Irã é um
"casamento de conveniência". Autoridades sírias enfatizam que formaram a aliança por não ter alternativa.
O que os sírios querem?
Eles respondem: respeito
por seus interesses de segurança no Líbano e a retomada das negociações em torno
do Golã. A Síria apóia os baathistas sunitas no Iraque.
Por mais que a equipe Bush
queira, não pode combater
todos ao mesmo tempo. Não
haverá força de paz no sul do
Líbano a não ser que tenha o
apoio da Síria. Ninguém enviará tropas para ela.
Repito: não sei se a Síria
pode ser convencida. Mas é
preciso tentar, com incentivos e punições reais. A Síria
não vai acalmar a situação no
Líbano ou no Iraque só para
que a equipe Bush possa em
seguida voltar sua atenção à
tentativa de impor mudança
de regime em Damasco. Como me disse um diplomata
aqui: "Os perus não votam
pelo Dia de Ação de Graças".
Tradução de CLARA ALLAIN
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