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EUROPA
Pré-projeto ameaça liberdades, acusa "Le Monde"
França estuda ampliar poder da polícia e reduzir direitos de réus
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Um pré-projeto de lei do governo francês para a segurança pública causou furor ontem na opinião pública do país. Seus detalhes foram divulgados pelo jornal
"Le Monde", que, em editorial,
afirmou que o projeto está baseado numa "visão policial da sociedade" e ameaça as liberdades individuais. Para a Liga dos Direitos
do Homem, ele transforma a
França numa "república autoritária".
O projeto prevê uma ampliação
dos poderes da polícia, reduzindo
a ação dos juízes. Permite o fichamento genético (do DNA) de suspeitos, estende o período de custódia policial, extingue o "direito
ao silêncio", retarda o tempo de
visita dos advogados e autoriza
escutas telefônicas.
O projeto é também bastante
duro com menores infratores,
prostitutas, mendigos, estrangeiros delinquentes e os chamados
"viajantes" (como ciganos).
Ele facilita a prorrogação do período de custódia policial de menores e suprime a necessidade legal de eles serem apresentados a
um juiz imediatamente após a inflação. A prostituição se torna delito passível de pena de até seis
meses de prisão. A prática e o incentivo da prostituição por estrangeiros pode levá-los a serem
expulsos do país. A mendicância
também seria punida com multas
e até seis meses de prisão.
O governo contestou que o pré-projeto revelado pelo "Monde"
seja aquele que irá apresentar ao
Parlamento. Para o ministro do
Interior, da Segurança Interna e
das Liberdades Locais, Nicolas
Sarkozy, trata-se de "um texto extremamente ultrapassado, um
texto de trabalho".
Ele declarou, porém, que a política de segurança interna da França "não será feita exclusivamente
segundo as concepções do sindicato da magistratura, concepções
as quais hoje se vê bem a que ponto conduziram a insegurança em
nosso país".
Alguns pontos extremamente
polêmicos, como o retardamento
do tempo de visita de advogados a
suspeitos, podem ser suprimidos.
Mas as previsões são que o projeto final mantenha o perfil mais repressivo que preventivo.
Para o Sindicato dos Advogados
da França, as propostas atuais do
governo significam "um recuo
sem precedentes em relação aos
últimos 20 ou 30 anos".
Segundo a Liga dos Direitos do
Homem da França, o texto "desenha os contornos de uma sociedade onde os policiais fazem o
trabalho dos juízes e podem violar com toda impunidade as liberdades individuais, onde os advogados são mantidos à margem e
onde ser pobre virou crime".
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