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"É impossível imaginar uma vida
como a minha", afirmou Vincent
SANDRINE BLANCHARD
DO "LE MONDE"
Em seu leito hospitalar, em
Berck-sur-mer, na sexta-feira, 19
de setembro de 2003, Vincent
Humbert se concentra no alfabeto
lido por sua mãe. Com a mão direita sobre a de seu visitante, ele
faz uma leve pressão com o polegar todas as vezes em que ouve a
letra desejada. Fazendo um sinal
quase imperceptível com a cabeça, ele confirma que a palavra escrita é a que ele queria dizer.
"É impossível imaginar uma vida como a minha", afirma o homem de 22 anos e sete meses de
idade, que é tetraplégico, cego e
mudo por causa de um acidente
de carro. Ele não sai de sua cama
há três anos. Dois aparelhos ligados diretamente a seu estômago
lhe fornecem água e leite.
Ele não quer mais saber dessa
"vida de merda". A expressão pode parecer vulgar, mas Vincent
não encontra outra para definir
seu calvário. "Se estivesse no meu
lugar, você preferiria viver ou
morrer?", pergunta Vincent.
Seu quarto conta parte de sua
história. Nas paredes, fotos de sua
família, um pôster de Bob Marley,
um calendário do Corpo de Bombeiros. Antes do acidente, Vincent, bombeiro voluntário, se preparava para prestar o concurso de
admissão dos bombeiros de Paris.
No chão, três caixas com cartas.
Cartas de pessoas chocadas com
sua história, que se tornou pública em novembro de 2002, quando
ele escreveu ao presidente para
defender seu "direito de morrer".
Sua vida parou no dia 24 de setembro de 2000, numa estrada da
Normandia. Desde então, ele é
"um morto vivo", conforme diz
em seu livro. Naquela noite, ele tinha saído de seu plantão no Corpo de Bombeiros e voltava para
casa. Mas a estrada era estreita, e
um caminhão apareceu. Vincent
desviou, mas um pneu estourou, e
seu carro atingiu o caminhão.
Após nove meses em coma,
Vincent acabou acordando. Mas
seu corpo não era mais o mesmo.
"Recuperei minha cabeça, mas ela
é tudo o que consegui recuperar."
Seu médico reconhece que seu
caso é "excepcional". Sem descanso, sua mãe, Marie Humbert,
fica a seu lado. Ela deixou tudo
para trás para viver em Berck-sur-mer, vive de "bicos" e passa todas
as tardes no quarto de seu filho.
Em setembro de 2002, o médico
de Vincent disse que seu caso não
tinha mais "nenhuma esperança
de progressão". "Em poucos segundos, tudo desmoronou", diz
Vincent. "Quero morrer", disse
ele, à época, à sua mãe. "Foi uma
decisão madura", diz agora. Ele
pede, em vão, medicamentos a
seu médico e às enfermeiras.
Desesperado, Vincent pede à
sua mãe que o "mate por amor".
"Era muito difícil aceitar essa hipótese, mas eu precisava pensar
nele, não em mim", conta Marie.
Ela acabou "jurando" que o faria.
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