São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

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Exército ataca manifestantes em Mianmar

Soldados reprimem violentamente protestos pacíficos e matam pelo menos três; mais de 300 pessoas foram presas

Sob liderança de monges budistas, milhares de civis desafiaram proibição de atos pró-democracia; ONU pede contenção ao governo

DA REDAÇÃO

O Exército de Mianmar reprimiu violentamente e matou alguns manifestantes birmaneses que desafiaram os alertas e mantiveram os protestos contra o governo ontem em Yangun (sul). Há relatos conflitantes sobre o número de mortos, que varia de três a oito, segundo as diversas agências. A Reuters diz que ao menos dois dos mortos eram monges budistas.
A repressão só resultou em derramamento de sangue ontem, nono dia das maiores manifestações contra a junta militar que governa o país há 45 anos. O governo confirmou uma morte e disse que a polícia usou "força mínima" depois que alguns manifestantes tentaram arrancar as armas das mãos dos soldados.
Além dos mortos a tiros, ao menos 300 monges e civis foram presos e vários ficaram feridos em confrontos com os soldados, que lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes. A maioria dos feridos foi baleada.
Na manhã de hoje seguia a repressão, com a invasão de dois mosteiros na cidade de Yangun por soldados.
A violência de ontem despertou lembranças dos episódios de 1988, quando estimadas 3.000 pessoas foram mortas a tiros por soldados durante uma manifestação contra a junta.
Testemunhas estimaram que mais de 10 mil pessoas marcharam ontem em Yangun, além de outras 10 mil em Mandalay. Desde 19 de agosto, a população protesta contra um aumento de 500% no preço dos combustíveis, mas o movimento já assumiu caráter pró-democracia.
O maior ato, na última segunda-feira, atraiu 100 mil em Yangun. "Seria impossível evitar as mortes. Depois que alguns monges apanharam dos militares em uma marcha na cidade de Pakkoku em 5 de setembro, não dava mais para voltar atrás", afirmou à Folha Maureen Aung-Thwin, diretora da organização Projeto Birmânia (o antigo nome do país), com sede em Nova York. "Abusar de uma figura religiosa reverenciada é um crime indescritível em Mianmar."

Repercussão
Em Nova York, onde ocorrem os debates da 62ª Assembléia Geral da ONU, a violência em Mianmar levou a um aumento da pressão contra o governo do país. Após reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, pediu "contenção máxima" aos militares e indicou o diplomata Ibrahim Gambari para negociar com a junta.
Na véspera, o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciara novas sanções de Washington contra o país. Mas, apesar da pressão de EUA e União Européia, não foi alcançado um consenso sobre sanções no âmbito da ONU. Em um comunicado conjunto, americanos e europeus exigiram que o governo birmanês abra o diálogo com a oposição e pediram à China, à Índia e a outros países da região que usem sua influência por uma solução.
Rússia e China, membros do Conselho de Segurança da ONU,opõem-se a sanções.


Com agências internacionais


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