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FRONT DOMÉSTICO
Legislação é criticada por defensores das liberdades civis, que temem abuso de poder
Bush sanciona nova lei antiterror
DO "THE NEW YORK TIMES"
O presidente dos EUA, George
W. Bush, sancionou ontem uma
nova lei de combate ao terrorismo
que expande o poder do governo
norte-americano para deter estrangeiros sem apresentar acusações formais, rastrear comunicações eletrônicas e reprimir esquemas de lavagem de dinheiro.
"Hoje, demos um passo essencial no combate ao terrorismo, ao
mesmo tempo em que protegemos os direitos constitucionais de
todos os americanos", disse Bush.
"Esse governo executará essa lei
com toda a urgência de uma nação em guerra."
Elaborada em resposta aos ataques de 11 de setembro aos EUA, a
lei amplia os poderes de autoridades federais para grampear telefones, compartilhar informações de
inteligência, proteger as fronteiras
norte-americanas e rastrear movimentos na internet e o uso de e-mail e telefones celulares.
"As mudanças que entram em
vigor hoje [ontem" ajudarão a
combater uma ameaça que nenhuma outra nação já enfrentou",
disse Bush, na Casa Branca, com o
vice-presidente, Dick Cheney, ao
seu lado em uma rara aparição
pública conjunta desde que os
ataques ao Afeganistão começaram, em 7 de outubro.
A nova legislação, batizada de
Lei Patriótica dos EUA de 2001,
havia sido proposta cinco dias depois dos ataques terroristas. A
versão final foi aprovada anteontem pelo Senado, por 98 votos a 1,
um dia depois de ter passado pela
Câmara dos Deputados (357 votos a 66).
Leis amplas costumam levar vários meses e, às vezes, anos para
serem aprovadas. Mas essa passou pelo Congresso em menos de
seis semanas sob pressão da Casa
Branca e despertou críticas por
parte de defensores das liberdades civis, que dizem que ela prejudica direitos fundamentais.
Autoridades afirmaram que
agiriam rapidamente para utilizar
os novos poderes de investigação,
vigilância e detenção de suspeitos
de terrorismo. "Hoje, o Departamento de Justiça está posicionado
para iniciar uma nova ofensiva
contra o terrorismo", disse o secretário da Justiça, John Ashcroft.
Mas defensores das liberdades
civis dizem que as novas regras
são tão flexíveis e pendem tanto
para o lado do governo que é quase certo que as autoridades usem
esses poderes contra cidadãos
cumpridores da lei.
O FBI (a polícia federal dos
EUA) "está sofrendo muita pressão", disse Jerry Berman, diretor-executivo do Centro para a Democracia e a Tecnologia, um grupo de defesa da privacidade. "Sofrerá pressão da imprensa, de legisladores, para não deixar pedra
sobre pedra. E, incapaz de chegar
ao âmago de uma célula terrorista
sofisticada, temo que passe muito
tempo fora do círculo, com pessoas que não estão envolvidas em
nada de criminoso."
Defensores da privacidade como Berman observam que a lei dá
ao governo a capacidade de obter
uma grande quantidade de registros e informações sobre indivíduos sob pouca fiscalização judicial, além de permitir que autoridades de forças policiais compartilhem com serviços de inteligência informações obtidas em investigações judiciais.
Defensores das liberdades civis
expressam ainda grande preocupação com a expansão dos poderes de um tribunal especial que
concede autorizações secretas ao
governo para realizar vigilância
eletrônica de pessoas suspeitas de
envolvimento com um governo
estrangeiro.
Laura W. Murphy, da ACLU
(União Americana para as Liberdades Civis, na sigla em inglês),
afirmou que a nova lei define o
crime de abrigar e apoiar terroristas de forma tão ampla que está
destinada a ter um efeito prejudicial sobre a atividade política de
americanos envolvidos em grupos pacifistas ou pró-imigrantes.
David Cole, advogado do Centro para os Direitos Constitucionais, disse que a redação da lei pode dar margem a que pessoas sejam deportadas simplesmente
por apoiar organizações políticas
e de caridade relacionadas apenas
indiretamente com o terrorismo.
O Congresso Nacional Africano
de Nelson Mandela, por exemplo,
foi por muitos anos classificado
como uma organização terrorista
pelo Departamento de Estado,
afirmou Cole.
Com agências internacionais
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