São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ar na área do atentado em NY tem excesso de substâncias tóxicas

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O nível de benzeno no ar no centro e em volta dos escombros do World Trade Center chega a ser até 58 vezes maior do que o máximo permitido pela Secretaria da Saúde dos EUA. Esta é uma das revelações de um relatório reservado da Agência de Proteção Ambiental, entregue nesta semana à Prefeitura de Nova York.
O benzeno é um solvente volátil que pode causar leucemia, lesão da medula óssea e outras doenças em pessoas que ficarem expostas por muito tempo. O nível máximo recomendado é que haja uma parte de benzeno por milhão.
No dia 2 de outubro último, o nível em três lugares diferentes no chamado "ponto zero" era, respectivamente, 42, 31 e 16 vezes maior do que o recomendável. No dia 12, era em geral 21 vezes maior. O recorde até agora aconteceu no dia 11, com um índice 58 vezes maior do que o recomendado pela agência.
Além do benzeno, outros elementos químicos tóxicos e metais foram encontrados nas amostras do ar, exalados pelo interior dos destroços do atentado do dia 11 de setembro, que continua com fogo em vários setores. Chumbo, cromo, dioxina (presente no agente laranja) e bifenil-policlorinado, todos tóxicos, foram alguns dos elementos detectados.
A água também não passou incólume, segundo o relatório reservado. O rio Hudson, que margeia o terreno que abrigava o complexo de prédios, acusou presença de elementos contaminadores na água e na margem. O rio está sendo usado como via de escoamento do entulho, carregado nas barcas municipais.
A água despejada no Hudson por um dos canos que servem às equipes de resgate mostrou níveis de dioxina cinco vezes maiores do que o maior nível já registrado em algum rio do Estado de Nova York.
Em declaração oficial, a porta-voz da Agência de Proteção Ambiental confirmou que os índices achados são realmente altos. "Mas tendem a cair a zero quanto mais o medidor se afasta das nuvens de fumaça dos escombros", disse Mary Mears.
O relatório foi obtido pela ONG ambiental The New York Environmental Law and Justice Project, que o requisitou à agência federal se fazendo valer da Lei de Liberdade de Informação.
Reclamações e preocupações com o ar no sul de Manhattan são constantes desde o dia 11 de setembro, mas a prefeitura vinha se concentrando em monitorar o nível de asbesto -a queda das duas torres lançou uma quantidade inédita do cancerígeno pó de concreto na atmosfera.
A reportagem da Folha esteve nos escombros na noite da última quarta-feira. Tanto trabalhadores que deixavam o turno àquela hora quanto policiais que participavam das barricadas ao redor do WTC reclamaram do "ar pesado" e disseram que ficavam constantemente com os olhos vermelhos e a garganta seca.

Máscaras
Desde anteontem os chefes das equipes de resgate começaram a exigir que todos passassem a usar máscaras e luvas, regra que não vinha sendo cumprida principalmente pelo pessoal que opera o equipamento mais pesado, como as máquinas de remoção de entulho, que não lidam diretamente com as escavações.
A mudança de atitude é resultado do relatório obtido pela ONG, que chegou até os ouvidos dos trabalhadores, mas também de um outro levantamento, agora do Instituto de Ciências Ambientais. Segundo a entidade, pelo menos mil pessoas que estiveram nos escombros depois do atentado sofreram algum acidente.
As ocorrências, que vão de queimadura de terceiro grau a fratura de ossos, passando por náuseas e bolhas, poderiam ter sido evitadas se regras básicas de segurança tivessem sido seguidas, de acordo com o instituto.


Texto Anterior: Front doméstico: Bush sanciona nova lei antiterror
Próximo Texto: CIA, Suprema Corte e correio de NY detectam presença de antraz
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.