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Ar na área do atentado em NY tem
excesso de substâncias tóxicas
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
O nível de benzeno no ar no
centro e em volta dos escombros
do World Trade Center chega a
ser até 58 vezes maior do que o
máximo permitido pela Secretaria da Saúde dos EUA. Esta é uma
das revelações de um relatório reservado da Agência de Proteção
Ambiental, entregue nesta semana à Prefeitura de Nova York.
O benzeno é um solvente volátil
que pode causar leucemia, lesão
da medula óssea e outras doenças
em pessoas que ficarem expostas
por muito tempo. O nível máximo recomendado é que haja uma
parte de benzeno por milhão.
No dia 2 de outubro último, o
nível em três lugares diferentes no
chamado "ponto zero" era, respectivamente, 42, 31 e 16 vezes
maior do que o recomendável. No
dia 12, era em geral 21 vezes
maior. O recorde até agora aconteceu no dia 11, com um índice 58
vezes maior do que o recomendado pela agência.
Além do benzeno, outros elementos químicos tóxicos e metais
foram encontrados nas amostras
do ar, exalados pelo interior dos
destroços do atentado do dia 11 de
setembro, que continua com fogo
em vários setores. Chumbo, cromo, dioxina (presente no agente
laranja) e bifenil-policlorinado,
todos tóxicos, foram alguns dos
elementos detectados.
A água também não passou incólume, segundo o relatório reservado. O rio Hudson, que margeia o terreno que abrigava o
complexo de prédios, acusou presença de elementos contaminadores na água e na margem. O rio
está sendo usado como via de escoamento do entulho, carregado
nas barcas municipais.
A água despejada no Hudson
por um dos canos que servem às
equipes de resgate mostrou níveis
de dioxina cinco vezes maiores do
que o maior nível já registrado em
algum rio do Estado de Nova
York.
Em declaração oficial, a porta-voz da Agência de Proteção Ambiental confirmou que os índices
achados são realmente altos.
"Mas tendem a cair a zero quanto
mais o medidor se afasta das nuvens de fumaça dos escombros",
disse Mary Mears.
O relatório foi obtido pela ONG
ambiental The New York Environmental Law and Justice Project, que o requisitou à agência federal se fazendo valer da Lei de Liberdade de Informação.
Reclamações e preocupações
com o ar no sul de Manhattan são
constantes desde o dia 11 de setembro, mas a prefeitura vinha se
concentrando em monitorar o nível de asbesto -a queda das duas
torres lançou uma quantidade
inédita do cancerígeno pó de concreto na atmosfera.
A reportagem da Folha esteve
nos escombros na noite da última
quarta-feira. Tanto trabalhadores
que deixavam o turno àquela hora quanto policiais que participavam das barricadas ao redor do
WTC reclamaram do "ar pesado"
e disseram que ficavam constantemente com os olhos vermelhos
e a garganta seca.
Máscaras
Desde anteontem os chefes das
equipes de resgate começaram a
exigir que todos passassem a usar
máscaras e luvas, regra que não
vinha sendo cumprida principalmente pelo pessoal que opera o
equipamento mais pesado, como
as máquinas de remoção de entulho, que não lidam diretamente
com as escavações.
A mudança de atitude é resultado do relatório obtido pela ONG,
que chegou até os ouvidos dos
trabalhadores, mas também de
um outro levantamento, agora do
Instituto de Ciências Ambientais.
Segundo a entidade, pelo menos
mil pessoas que estiveram nos escombros depois do atentado sofreram algum acidente.
As ocorrências, que vão de queimadura de terceiro grau a fratura
de ossos, passando por náuseas e
bolhas, poderiam ter sido evitadas se regras básicas de segurança
tivessem sido seguidas, de acordo
com o instituto.
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