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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Esquerdista é eleito prefeito em Bogotá, e elevada abstenção ameaça derrotar governo em referendo

Mesmo popular, Uribe sofre revés eleitoral

DA REDAÇÃO

Apesar da elevada popularidade -superior a 70%-, o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, de direita, sofreu uma derrota eleitoral ontem em Bogotá e corria o risco de levar outro revés no referendo sobre 15 medidas propostas pelo seu governo.
Na capital colombiana, o esquerdista Luis Eduardo "Lucho" Garzón obteve 47% dos votos, contra 40% do jornalista Juan Lozano, apoiado por Uribe. A Prefeitura de Bogotá é o segundo posto mais importante do país.
Ex-líder sindical, Garzón, 52, é o primeiro esquerdista a ser eleito em Bogotá na história, o que o torna um nome forte para a próxima eleição presidencial. Em 2002, ele foi derrotado por Uribe.
"Governarei Bogotá para os ricos, para os pobres e para os mais pobres", disse Garzón após saber dos resultados. Ele acrescentou que sua administração não romperá com as anteriores, consideradas responsáveis pela modernização da cidade. "Minha gestão será um complemento", disse o prefeito eleito. O atual prefeito é o filósofo Antanas Mockus.

Referendo
Já o referendo realizado anteontem terá o resultado divulgado apenas na quarta ou quinta-feira, segundo autoridades eleitorais. Com 97,6% dos votos apurados, os 15 itens propostos pelo presidente Álvaro Uribe foram aprovados, mas, como o comparecimento pode ter sido inferior ao que manda a lei, o resultado pode não ter validade.
A possível derrota fortalecerá ainda mais a figura de Garzón, que fez campanha pela abstenção. Ele argumenta que as medidas podem aumentar a pobreza.
Para ter validade, cada um dos 15 itens do referendo precisam ter 25% do total de votos dos eleitores inscritos, e não apenas dos que compareceram às urnas.
Entre os que votaram, o apoio às propostas de Uribe superou os 80% em quase todos os itens. Porém, com a elevada abstenção, nenhum deles conseguiu ultrapassar o patamar mínimo de 25% do total do eleitorado inscrito.
Para 5 dos 15 itens propostos, o total de votos se aproximou dos 25%. São eles: políticos que tenham cometido crimes políticos não poderão ser eleitos nem designados para cargos públicos (24,94%); a obrigação de os congressistas votarem publicamente (24,64%); a eliminação de suplências (24,79%); o estabelecimento de audiências públicas para a formulação do Orçamento (24,37%); e a criação de um serviço independente para a administração do Congresso (23,99%).
Por outro lado, vários itens importantes (e impopulares) estavam longe de obter aprovação no referendo, como o congelamento dos vencimentos e das aposentadorias de servidores públicos que recebem acima de dois salários mínimos por dois anos e a diminuição no número de cadeiras no Congresso de 268 para 218.
O objetivo de Uribe com o referendo é diminuir os gastos públicos em cerca de US$ 7 bilhões ao longo de sete anos e fazer reformas políticas.
"Respeito à democracia. Amor à Colômbia. E disciplina para buscar soluções." Essa foi a declaração de Uribe logo após votar em Bogotá ontem. Ele evitou comentar os resultados do referendo.
O ministro do Interior, Fernando Londoño, disse que poderá ser feito um novo censo eleitoral. Os povoados onde não houve eleições seriam eliminados do percentual total. Desse modo, ficaria mais fácil para alguns dos itens superarem os 25% necessários.
A oposição está afirmando que a demora na apuração pode ser uma tentativa do governo de fraudar o resultado. O tribunal eleitoral do país afirma que o atraso se deve a "problemas geográficos".
O senador e ex-guerrilheiro Antonio Navarro disse: "As fraudes sempre são cometidas com base nesses últimos 3% da apuração." E a senadora Piedad Córdoba, do Partido Liberal, acrescentou: "Há uma sombra de dúvida. Uma falta de transparência. Está cheirando a uma fraude."


Com agências internacionais


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