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Tudo na cidade passa
bem antes pelo Rashid
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se Bagdá é o centro do Iraque, o
Rashid é o centro de Bagdá. Desde
que Saddam Hussein mandou fazer o resort, em 1983, sua feia edificação é de algum modo protagonista dos acontecimentos do país.
Foi de lá que, em 1991, Peter Arnett se tornou o único jornalista a
transmitir a Guerra do Golfo desde Bagdá, e a CNN deixou de ser
uma pequena emissora de Atlanta
para iniciar o império de hoje.
Foi lá também que a artista plástica Leila al Attar, instada por Saddam e seus filhos, fez em mosaico
o rosto de George Bush, o pai, no
chão da entrada principal, no final dos anos 80. A idéia era que todo visitante teria de plantar seus
pés no rosto do presidente norte-americano -um insulto tremendo, pelo repúdio que o árabe tem
da sola, símbolo da imundície.
Coincidência ou não (o governo
norte-americano diz que foi acidente), três mísseis se desviaram
de seus objetivos na Operação Raposa do Deserto, em 1998, em que
os EUA atingiram alvos militares
no Iraque. Dois caíram no Rashid;
o terceiro destrui a casa da pintora, matando-a carbonizada.
Quando a reportagem da Folha
chegou ao local na noite de 19 de
março último, véspera da Guerra
do Iraque, encontrou um hotel
fantasma. O retrato de Bush pai
continuava lá, mas coberto por
um grosso tapete. E os hóspedes,
os 180 jornalistas estrangeiros na
cidade, tinham todos ido embora.
A equipe da mesma CNN havia
descoberto junto ao Pentágono
que o local seria alvo militar. A
justificativa dos EUA era que, durante a Guerra do Golfo, Saddam
se aproveitou da presença da
emissora lá para esconder seu ministério nos abrigos antibomba.
Os repórteres se uniram e exigiram então a transferência para o
hotel Palestine, do outro lado do
rio Tigre e a uma distância que se
julgava segura de outros alvos. Dito e feito: os EUA realmente bombardearam o Rashid na guerra,
destruindo suas caldeiras.
Com a queda do regime, em 9
de abril, e por ser o mais luxuoso
hotel à disposição, virou uma sede informal dos invasores.
Foi esse status que lhe valeu o
ataque de ontem.
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