São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Pela primeira vez desde 1967, o país aceita se desfazer de assentamentos em áreas palestinas; crise no governo cresce

Israel aprova retirada de colônias de Gaza

France Presse
Sharon é cumprimentado por partidários no Knesset, em Jerusalém, após aprovação do plano


DA REDAÇÃO

O Knesset (Parlamento de Israel) aprovou ontem, em decisão histórica, o plano do premiê Ariel Sharon de remover os 21 assentamentos judaicos da faixa de Gaza e outras quatro colônias isoladas da Cisjordânia.
Foram 67 votos a favor e 45 contra o plano, que tem forte oposição de colonos e de grupos extremistas religiosos, além de políticos direitistas de Israel. Sete parlamentares se abstiveram, e um faltou. É a primeira vez que Israel aceita se desfazer de suas colônias em parte dos territórios ocupados desde a guerra de 1967. Cerca de 8.000 colonos judeus, que vivem em meio a 1,4 milhão de palestinos, serão removidos de Gaza.
A votação, carregada de simbolismo, foi uma demonstração de força de Sharon, em meio a uma crise que inclui uma intensa disputa de poder em sua coalizão de governo e até a ameaça de guerra civil no país -grupos religiosos, que vêem Gaza e Cisjordânia como territórios israelenses por direito bíblico, ameaçam matar Sharon e fazem pressão para que os soldados israelenses não cumpram as ordens de desmantelar as colônias.
"Isto não é sobre Gaza, é sobre um grande debate acerca da alma israelense", opinou ao "New York Times" Asher Susser, do Centro Moshe Dyan para Estudos do Oriente Médio. "Estamos, pela primeira vez desde 1967, discutindo o que Israel é. Israel é um Estado democrático secular ou um Estado governado pela lei religiosa?"
Logo após a decisão, Sharon demitiu o ministro Uzi Landau, que não comandava nenhuma pasta, e o vice-ministro Michael Ratzon por terem votado contra o plano. Os dois são da ala rebelde do Likud (partido de Sharon).
O ex-premiê e atual ministro da Economia, Benyamin Netanyahu -considerado o principal rival de Sharon no Likud-, e o da Educação, Limor Livnat, que também é do partido, ameaçaram renunciar em duas semanas caso o premiê não concorde com a convocação de um referendo para decidir se os assentamentos judaicos devem ser desmantelados.
Netanyahu e Livnat chegaram a dizer que votariam contra o plano. Eles recuaram, mas mantiveram a ameaça de deixar o governo. "Decidimos dar ao premiê duas semanas para convocar um referendo. Caso contrário, não será mais possível continuarmos nesse governo", disse Netanyahu.
O Partido Nacional Religioso, ligado aos colonos, também disse que seus seis parlamentares deixarão de integrar a coalizão de governo de Sharon se um referendo não for convocado.
Apesar de contar com o apoio de cerca de dois terços da população israelense ao seu plano, Sharon considera o referendo uma tática da oposição para adiar o processo de retirada dos assentamentos de Gaza.
Sharon entrou no Knesset cercado por 16 seguranças. Em nome do governo, o vice-premiê Ehud Olmert afirmou: "O Knesset tomou a sua decisão, a nação israelense decidiu que Israel deve sair de Gaza imediatamente, e Israel vai sair de Gaza imediatamente".
A votação ocorreu em meio a intensos protestos contrários ao desmantelamento das colônias de Gaza. Milhares de manifestantes -colonos em sua maioria- se postaram diante do Knesset, chamando Sharon de "traidor". Cartazes traziam ameaças: "Nós liquidamos [Yitzhak] Rabin [premiê israelense morto em 1995] e liquidaremos Sharon".
Votaram a favor de Sharon os partidos de esquerda, dois partidos árabes e 23 membros do Likud. Contra, estiveram os partidos religiosos e 17 rebeldes do Likud. Das abstenções, seis foram de árabes que consideram o plano de Sharon uma tática para incorporar a Cisjordânia.

Com agências internacionais


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