São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Se Bush vencer a eleição, a tendência é manter seu atual "núcleo duro'; caso Kerry ganhe, ex-assessores de Clinton são cotados

EUA especulam sobre equipes de governo

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Uma eventual reeleição do presidente dos EUA, George W. Bush, deve trazer mudanças de nomes no primeiro escalão do governo, mas dificilmente no núcleo de poder da Casa Branca.
No caso de uma vitória do democrata John Kerry, o governo dos EUA será invadido novamente por políticos e técnicos que trabalharam para o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001).
Na área que mais interessa ao Brasil hoje, a comercial, haverá uma mudança importante qualquer que seja o vencedor.
O atual representante de comércio dos EUA, Robert Zoellick, principal negociador do lado americano da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), deve deixar o cargo mesmo que Bush seja reeleito na próxima terça.
Zoellick, que já foi chamado de "sub do sub do sub" em uma crítica à Alca feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral de 2002, já anunciou sua intenção de sair.
Ele chegou a ser cotado para ocupar a vaga de secretário do Tesouro, mas o atual titular, John Snow, deve continuar no posto para consolidar a política de corte de impostos de Bush.
Zoellick deve ser substituído pelo funcionário de carreira Grant Aldonas, subsecretário do Comércio para assuntos internacionais e responsável por expandir as exportações americanas.
As mudanças em um eventual segundo mandato de Bush serão provocadas mais por desejos voluntários de seus assessores.
Tido como fiel ao que chama de "velhos sapatos", Bush não estaria pedindo a saída de quase ninguém, especialmente depois de uma campanha vitoriosa.
Ao assumir, em 2001, Bush aumentou de 16 para 20 o número de vagas em nível de secretários (equivalentes a ministros no Brasil), embora nem todos usem essa nomenclatura em seus cargos. Zoellick é um dos exemplos.
Mas Bush tem pelo menos quatro pessoas próximas a ele que, na prática, acabam ditando as políticas de seus secretários.
Dificilmente haverá qualquer mudança nesse núcleo de poder, que marca o estilo "empresarial" de Bush governar com a ajuda de "supervisores".
O principal assessor de Bush, Karl Rove, por exemplo, chefe do planejamento de toda a campanha presidencial, dita regras e conselhos também nas áreas econômica e comercial.
Amiga pessoal do presidente, a assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, tem ascendência sobre o Departamento de Estado, de Colin Powell, que já manifestou interesse em deixar o cargo, e sobre o Pentágono.
Rice poderá ser até eventualmente transferida para o Departamento da Defesa depois que o atual titular, Donald Rumsfeld, completar a reestruturação global das forças americanas e tentar controlar a situação no Iraque.
Nas áreas econômica, orçamentária e de segurança interna, que também têm titulares próprios, a supervisão é do vice-presidente Dick Cheney. Outra amiga de Bush, a texana Margaret Spellings, controla áreas como saúde e educação.
Embora o lado democrata esteja ainda mais preocupado em ganhar a eleição do que em montar um governo, na ciranda de nomes em volta de cadeiras importantes já há vários ex-assessores do presidente Clinton.
Com a situação de caos no Iraque, guerra ao terror e alianças internacionais deterioradas, a prioridade é montar a equipe de política externa e de defesa.
A eventual escolha de Richard Holbrooke, ex-embaixador de Clinton nas Nações Unidas, para o Departamento de Estado seria, por exemplo, uma sinalização da intenção de reconstruir alianças arruinadas sob o atual presidente.
Na área da Defesa, dois dos cotados, os senadores John McCain e Chuck Hagel, pertencem ao partido de Bush, o Republicano, que é historicamente considerado mais experiente em questões militares e de segurança.


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