São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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Advogado e estudante têm cortejo com dinamite

DA ENVIADA A SUCRE Sinos, gritos contra o governo, banda de música e estrondos de dinamites misturavam-se na principal praça de Sucre nas homenagens ao advogado Gonzalo Durán, 29, morto por uma bala, e ao estudante Juan Carlos Cerrudo, 21, que morreu com traumatismo no tórax, ambos enterrados ontem.
Aos milhares de moradores da cidade juntaram-se mineiros de Huanani, que vieram do departamento (Estado) vizinho de Oruro. "Vamos ficar aqui até o governo admitir que esta errado", disse Porfirio Mamani, presidente da Federação de Mineiros de Huanani.
Deve ser enterrado hoje José Luis Cardozo, 19, que morreu na madrugada de ontem após ser ferido a bala no sábado. Segundo o médico-chefe do hospital universitário de Sucre, Ernesto Pantoja, a unidade chegou a receber 300 feridos.
"Eu mesmo fui atingido pela polícia enquanto tentava socorrer as pessoas", diz ele, mostrando um ferimento sob o olho. O hospital, como a cidade, estava coberto de fuligem.
Já o chefe da Polícia Nacional, general Miguel Vázquez, disse ontem à agência oficial de notícias que a sua força foi brutalmente atacada pela população. Vázquez afirmou que os policiais só voltarão a Sucre quando "a cidade garantir a infra-estrutura". No domingo, ele afirmou que um policial havia sido linchado. Ontem, disse que o dado era "extraoficial".
As sedes da polícia e dos bombeiros em Sucre foram queimadas. As paredes do prédio policial, como as de muitos prédios públicos da cidade, estão pichadas com as inscrições "Morra Venezuela" e "Não à ditadura de Evo".

Reeleição sem limite
Ontem, a Assembléia Constituinte ainda não havia divulgado o texto geral da nova Carta, aprovado no sábado. Mas o governo confirma que, entre as novas regras, está a reeleição sem limite de mandatos para presidente e vice.
"A oposição não precisa ter pesadelos prematuros. Tudo isso ainda terá de passar pelo referendo", disse o porta-voz da Presidência, Alex Contreras. A Carta também estabelece a possibilidade de referendos revogatórios de todos os cargos do Executivo.
Segundo o vice-presidente da Assembléia, Roberto Aguilar, do governista MAS (Movimento ao Socialismo), depois de aprovado ponto a ponto -o que tem de acontecer até 14 de dezembro, quando expira a convocação da Constituinte-, o texto de 408 artigos segue para a Presidência, que o enviará ao Congresso. Os parlamentares, por sua vez, têm de marcar o referendo nacional sobre a nova Carta em até 120 dias.
Ainda que não tenham divulgado o texto geral da Carta, os constituintes fizeram questão de publicar no jornal local de Sucre, em anúncio pago, um comentário sobre o texto aprovado em um quartel da cidade.
"A nova Constituição estabelece um modelo econômico plural (...), constituído da propriedade estatal, comunitária e privada. (...) A economia social e comunitária complementará o interesse individual com o viver coletivo", diz o anúncio.
O jornal boliviano "La Razón" diz que o texto votado não traz definição sobre Sucre: não fala sobre o status de capital nem sobre a elevação da autoridade eleitoral, que passaria a ser sediada na cidade, a quarto Poder. (FLÁVIA MARREIRO)


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