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Advogado e estudante têm cortejo com dinamite
DA ENVIADA A SUCRE
Sinos, gritos contra o governo, banda de música e estrondos de dinamites misturavam-se na principal praça de Sucre
nas homenagens ao advogado
Gonzalo Durán, 29, morto por
uma bala, e ao estudante Juan
Carlos Cerrudo, 21, que morreu
com traumatismo no tórax,
ambos enterrados ontem.
Aos milhares de moradores
da cidade juntaram-se mineiros de Huanani, que vieram do
departamento (Estado) vizinho de Oruro. "Vamos ficar
aqui até o governo admitir que
esta errado", disse Porfirio Mamani, presidente da Federação
de Mineiros de Huanani.
Deve ser enterrado hoje José
Luis Cardozo, 19, que morreu
na madrugada de ontem após
ser ferido a bala no sábado. Segundo o médico-chefe do hospital universitário de Sucre, Ernesto Pantoja, a unidade chegou a receber 300 feridos.
"Eu mesmo fui atingido pela
polícia enquanto tentava socorrer as pessoas", diz ele, mostrando um ferimento sob o
olho. O hospital, como a cidade,
estava coberto de fuligem.
Já o chefe da Polícia Nacional, general Miguel Vázquez,
disse ontem à agência oficial de
notícias que a sua força foi brutalmente atacada pela população. Vázquez afirmou que os
policiais só voltarão a Sucre
quando "a cidade garantir a infra-estrutura". No domingo, ele
afirmou que um policial havia
sido linchado. Ontem, disse que
o dado era "extraoficial".
As sedes da polícia e dos
bombeiros em Sucre foram
queimadas. As paredes do prédio policial, como as de muitos
prédios públicos da cidade, estão pichadas com as inscrições
"Morra Venezuela" e "Não à ditadura de Evo".
Reeleição sem limite
Ontem, a Assembléia Constituinte ainda não havia divulgado o texto geral da nova Carta,
aprovado no sábado. Mas o governo confirma que, entre as
novas regras, está a reeleição
sem limite de mandatos para
presidente e vice.
"A oposição não precisa ter
pesadelos prematuros. Tudo isso ainda terá de passar pelo referendo", disse o porta-voz da
Presidência, Alex Contreras. A
Carta também estabelece a
possibilidade de referendos revogatórios de todos os cargos
do Executivo.
Segundo o vice-presidente da
Assembléia, Roberto Aguilar,
do governista MAS (Movimento ao Socialismo), depois de
aprovado ponto a ponto -o que
tem de acontecer até 14 de dezembro, quando expira a convocação da Constituinte-, o
texto de 408 artigos segue para
a Presidência, que o enviará ao
Congresso. Os parlamentares,
por sua vez, têm de marcar o referendo nacional sobre a nova
Carta em até 120 dias.
Ainda que não tenham divulgado o texto geral da Carta, os
constituintes fizeram questão
de publicar no jornal local de
Sucre, em anúncio pago, um comentário sobre o texto aprovado em um quartel da cidade.
"A nova Constituição estabelece um modelo econômico
plural (...), constituído da propriedade estatal, comunitária e
privada. (...) A economia social
e comunitária complementará
o interesse individual com o viver coletivo", diz o anúncio.
O jornal boliviano "La Razón" diz que o texto votado não
traz definição sobre Sucre: não
fala sobre o status de capital
nem sobre a elevação da autoridade eleitoral, que passaria a
ser sediada na cidade, a quarto
Poder.
(FLÁVIA MARREIRO)
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