São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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APÓS OS BOMBARDEIOS
Bagdá atira contra aeronaves vindas do Kuait e da Arábia Saudita; choque ocorre dias após ação dos EUA
Iraque diz ter atacado "aviões inimigos'

Folha Imagem
Iraquianos conversam em Bagdá; o país está empobrecido após 8 anos de embargo comercial


das agências internacionais

O governo iraquiano afirmou ter entrado em combate ontem com "aviões inimigos", disse a agência oficial de notícias do país, "INA".
"Às 11h25 (6h25, em Brasília) desta manhã, aviões inimigos atacaram uma de nossas instalações de defesa antiaérea, que respondeu ao fogo e os obrigou a deixar cair seu armamento indiscriminadamente", afirmou um porta-voz das Forças Armadas iraquianas.
Foi a primeira vez que as forças iraquianas atacaram aviões invasores desde os bombardeios norte-americano e britânico de quatro dias que terminaram no último fim-de-semana.
O porta-voz não informou exatamente onde ocorreu o combate nem se houve baixas. Segundo Bagdá, os aviões, que teriam vindo de bases na Arábia Saudita e no Kuait, violaram espaço aéreo iraquiano.
Um porta-voz da Casa Branca negou que as forças dos EUA estejam envolvidas no incidente.
Na última quinta-feira, o governo do ditador Saddam Hussein havia dito que mísseis tinham sido disparados contra a cidade de Basra. À época, os EUA e o Reino Unido negaram a informação.
Aviões britânicos, norte-americanos e franceses estacionados no Kuait e na Arábia Saudita patrulham uma área sob embargo aéreo ao sul do Iraque.
O território iraquiano sofreu, a partir de 16 de dezembro e nos três dias consecutivos, bombardeios sistemáticos de forças norte-americanas e britânicas presentes na região do golfo Pérsico.
O ataque foi detonado, segundo os EUA, após o Iraque impedir mais uma vez o trabalho da equipe de inspetores de armas da ONU, presente no país para verificar a eliminação do arsenal de destruição em massa de Saddam Hussein.
A eliminação do arsenal é condição para o levantamento do embargo comercial a que o país está submetido desde 1990, quando invadiu o vizinho Kuait.
Bagdá nega ter impedido as inspeções e critica a equipe de inspetores da ONU -segundo o governo iraquiano, os EUA manipulam as inspeções a fim de impedir o levantamento do embargo comercial e debilitar Saddam a ponto de conseguir sua deposição do poder.
Washington não nega buscar retirar do poder o ditador iraquiano.
Críticos da ação denominada Raposa do Deserto, entre eles a Rússia e a China, afirmam que o ataque foi precipitado e ocorreu sem a autorização do Conselho de Segurança da ONU.
Houve especulações, também, de que a ação contra Bagdá visaria desviar a atenção do processo de impeachment contra o presidente dos EUA, Bill Clinton.
O ataque foi detonado um dia antes do início das discussões, pela Câmara dos Representantes (deputados) norte-americana, sobre as acusações contra o presidente. Após o primeiro bombardeio, as discussões sobre o impeachment foram adiadas, mas apenas por um dia. No último sábado, a Câmara aprovou 2 das 4 acusações.



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