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São Paulo, terça-feira, 28 de janeiro de 2003

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ANÁLISE

"EUA buscam pressionar Iraque com tom belicoso"

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A retórica belicosa dos EUA deve ser entendida como um verdadeiro esforço para pressionar o Iraque, pois a primeira opção dos americanos ainda é "facilitar" um golpe de Estado no Iraque.
A análise é de Davis Bobrow, especialista do Centro Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (EUA).
 

Folha - O sr. crê que os EUA possam vir a atacar o Iraque sem a anuência da ONU?
Davis Bobrow -
A administração de George W. Bush ainda não abandonou essa possibilidade. Afinal, altos funcionários do governo dos EUA continuam a fazer declarações duras em relação à administração iraquiana. Ademais, os preparativos militares já estão bastante adiantados em locais próximos ao Iraque.
Por outro lado, penso que o governo americano ainda não fechou todas as portas para uma solução diplomática, podendo, ao menos, adiar o ataque enquanto não obtém um mandato claro da ONU. Vale ressaltar ainda que os soldados dos EUA não estarão realmente preparados para realizar a ofensiva militar planejada antes do final de fevereiro.
Assim, a retórica belicosa dos EUA deve ser entendida como um verdadeiro esforço para pressionar o Iraque, pois a primeira opção dos americanos ainda é "facilitar" um golpe de Estado no Iraque, esperando que Saddam caia por motivos internos ou que ele decida deixar o poder.

Folha - A resolução 1441 do Conselho de Segurança (CS) não exige que haja uma nova resolução que aprove o ataque, não é?
Bobrow -
Ela não autoriza nem proíbe o ataque. Deliberadamente, ela foi concebida de modo bastante vago para obter a aprovação tanto dos EUA e do Reino Unido, que queriam manter a possibilidade de atacar aberta, quanto a dos outros países com poder de veto no CS [França, China e Rússia], que não queriam dar carta-branca a Washington.
É claro que os EUA preferem agir com a anuência dos outros países-membros do CS. Se perceberem que conseguirão uma nova resolução sem perder muito tempo com negociações, os EUA privilegiarão a ação diplomática. Todavia, se pensarem que isso não é possível, os americanos não hesitarão em agir sós.

Folha - Como reagiria a comunidade internacional se Washington atacasse sem a aprovação da ONU?
Bobrow -
A reação inicial seria negativa. Internacionalmente, há duas preocupações principais. Primeiro, há o temor de que os EUA pensem que se trata de um precedente que pode ser estendido a outros países ou a outras regiões. Segundo, há o modo como reagirão os países que, supostamente, poderiam ser os próximos alvos dos esforços militares americanos, como o Irã ou a Coréia do Norte, que, ao lado do Iraque, fazem parte do "eixo do mal" descrito por Bush há um ano.
Ademais, um ataque unilateral ao Iraque daria munição ideológica aos opositores dos EUA, o que também preocupa a comunidade internacional. Isso sobretudo se a guerra começar a demorar muito sem obter o sucesso esperado pelas Forças Armadas americanas.

Folha - E se a guerra for rápida e bem-sucedida na visão dos EUA?
Bobrow -
Se for rápida, bem-sucedida e terminar com um novo governo iraquiano, que seja mais palatável internacionalmente, as críticas deixarão de ser tão fortes. Afinal, todos amam o vencedor, não é? Mas, para os aliados europeus dos EUA, sobretudo para a França e para a Alemanha, isso deveria acelerar a busca por uma política externa e de segurança comum, apesar da oposição do Reino Unido. Isso porque eles já notaram que a atual agenda externa dos EUA não bate com a deles.


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