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ANÁLISE
"EUA buscam pressionar Iraque com tom belicoso"
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A retórica belicosa dos EUA deve ser entendida como um verdadeiro esforço para pressionar o
Iraque, pois a primeira opção dos
americanos ainda é "facilitar" um
golpe de Estado no Iraque.
A análise é de Davis Bobrow, especialista do Centro Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (EUA).
Folha - O sr. crê que os EUA possam vir a atacar o Iraque sem a
anuência da ONU?
Davis Bobrow - A administração
de George W. Bush ainda não
abandonou essa possibilidade.
Afinal, altos funcionários do governo dos EUA continuam a fazer
declarações duras em relação à
administração iraquiana. Ademais, os preparativos militares já
estão bastante adiantados em locais próximos ao Iraque.
Por outro lado, penso que o governo americano ainda não fechou todas as portas para uma solução diplomática, podendo, ao
menos, adiar o ataque enquanto
não obtém um mandato claro da
ONU. Vale ressaltar ainda que os
soldados dos EUA não estarão
realmente preparados para realizar a ofensiva militar planejada
antes do final de fevereiro.
Assim, a retórica belicosa dos
EUA deve ser entendida como
um verdadeiro esforço para pressionar o Iraque, pois a primeira
opção dos americanos ainda é
"facilitar" um golpe de Estado no
Iraque, esperando que Saddam
caia por motivos internos ou que
ele decida deixar o poder.
Folha - A resolução 1441 do Conselho de Segurança (CS) não exige
que haja uma nova resolução que
aprove o ataque, não é?
Bobrow - Ela não autoriza nem
proíbe o ataque. Deliberadamente, ela foi concebida de modo bastante vago para obter a aprovação
tanto dos EUA e do Reino Unido,
que queriam manter a possibilidade de atacar aberta, quanto a
dos outros países com poder de
veto no CS [França, China e Rússia], que não queriam dar carta-branca a Washington.
É claro que os EUA preferem
agir com a anuência dos outros
países-membros do CS. Se perceberem que conseguirão uma nova
resolução sem perder muito tempo com negociações, os EUA privilegiarão a ação diplomática. Todavia, se pensarem que isso não é
possível, os americanos não hesitarão em agir sós.
Folha - Como reagiria a comunidade internacional se Washington
atacasse sem a aprovação da ONU?
Bobrow - A reação inicial seria
negativa. Internacionalmente, há
duas preocupações principais.
Primeiro, há o temor de que os
EUA pensem que se trata de um
precedente que pode ser estendido a outros países ou a outras regiões. Segundo, há o modo como
reagirão os países que, supostamente, poderiam ser os próximos
alvos dos esforços militares americanos, como o Irã ou a Coréia do
Norte, que, ao lado do Iraque, fazem parte do "eixo do mal" descrito por Bush há um ano.
Ademais, um ataque unilateral
ao Iraque daria munição ideológica aos opositores dos EUA, o que
também preocupa a comunidade
internacional. Isso sobretudo se a
guerra começar a demorar muito
sem obter o sucesso esperado pelas Forças Armadas americanas.
Folha - E se a guerra for rápida e
bem-sucedida na visão dos EUA?
Bobrow - Se for rápida, bem-sucedida e terminar com um novo
governo iraquiano, que seja mais
palatável internacionalmente, as
críticas deixarão de ser tão fortes.
Afinal, todos amam o vencedor,
não é? Mas, para os aliados europeus dos EUA, sobretudo para a
França e para a Alemanha, isso
deveria acelerar a busca por uma
política externa e de segurança
comum, apesar da oposição do
Reino Unido. Isso porque eles já
notaram que a atual agenda externa dos EUA não bate com a deles.
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