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ONU deve ir "até o final", diz Lula em Berlim
ALCINO LEITE
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
O chanceler (premiê) alemão,
Gerhard Schröder, e o presidente
do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defenderam, em entrevista
concedida ontem em Berlim, que
os inspetores de armas da ONU
necessitam de mais tempo para
realizar sua missão de determinar
se o Iraque possui armas de destruição em massa.
Após um jantar oferecido ao
presidente brasileiro ao final de
seu único e agitado dia de visita à
capital alemã, Schröder disse que
ele e Lula haviam chegado a uma
"convergência sobre a questão".
"Concordamos em que os inspetores da ONU devem ter o tempo necessário para fazer o seu trabalho e que o Conselho de Segurança da ONU deveria conceder
esse tempo", disse Schröder.
Para Lula, "as investigações devem ser feitas até o final". "Reconheço o sofrimento do povo americano depois dos atentados de 11
de setembro, mas acho prudente
que a ONU oriente sobre o que
deve ocorrer no caso do Iraque",
afirmou o presidente brasileiro.
"Sou insensível a pressões", respondeu Schröder, ao ser questionado se temia retaliações econômicas dos Estados Unidos devido
à sua posição contrária a um ataque americano contra o Iraque.
Diante da mesma questão, Lula
lembrou um ditado: "No Brasil,
dizem que um bom político pensa
e responde. Mas um político melhor ainda pensa e não responde".
Schröder foi reeleito no ano
passado com um discurso crítico
ao uso da força militar contra o
ditador iraquiano, Saddam Hussein, o que causou um mal-estar
diplomático com o governo Bush.
Em 2003, a Alemanha ocupará
uma vaga de membro provisório
do Conselho de Segurança da
ONU e presidirá o órgão.
Os dois líderes disseram que
pretendem se apoiar mutuamente para obter um assento permanente no Conselho para a Alemanha e o Brasil, que são, respectivamente, as maiores economias da
Europa e da América do Sul.
Lula reivindicou o fim do protecionismo europeu: "O Brasil vai
continuar fazendo gestões com os
amigos europeus e americanos
para remover as barreiras que dificultam o livre comércio".
Schröder também abordou o
assunto, ao dizer que a Alemanha
é a principal interessada em abrir
seu mercado e que ele espera que
a União Européia, bloco do qual a
Alemanha é um dos maiores líderes, caminhe nesse sentido, ajudando o Brasil.
O alemão apresentou Lula dizendo que tanto ele quanto seu
colega brasileiro trabalharam na
Volkswagen. Schröder já fez parte
do conselho dessa indústria de
automóveis alemã, uma das mais
importantes empresas do país.
Lula lembrou ao chanceler que,
enquanto presidente do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC nos
anos 70, ele estava do lado contrário. "Meus melhores anos políticos foram nas greves na porta da
fábrica da Volkswagen", disse.
O presidente brasileiro visitou a
capital alemã após participar do
Fórum Econômico de Davos, na
Suíça. Hoje, ele estará em Paris,
onde almoça com o presidente da
França, Jacques Chirac. Em seguida, retorna ao Brasil.
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