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São Paulo, terça-feira, 28 de janeiro de 2003

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ONU deve ir "até o final", diz Lula em Berlim

ALCINO LEITE
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defenderam, em entrevista concedida ontem em Berlim, que os inspetores de armas da ONU necessitam de mais tempo para realizar sua missão de determinar se o Iraque possui armas de destruição em massa.
Após um jantar oferecido ao presidente brasileiro ao final de seu único e agitado dia de visita à capital alemã, Schröder disse que ele e Lula haviam chegado a uma "convergência sobre a questão".
"Concordamos em que os inspetores da ONU devem ter o tempo necessário para fazer o seu trabalho e que o Conselho de Segurança da ONU deveria conceder esse tempo", disse Schröder.
Para Lula, "as investigações devem ser feitas até o final". "Reconheço o sofrimento do povo americano depois dos atentados de 11 de setembro, mas acho prudente que a ONU oriente sobre o que deve ocorrer no caso do Iraque", afirmou o presidente brasileiro.
"Sou insensível a pressões", respondeu Schröder, ao ser questionado se temia retaliações econômicas dos Estados Unidos devido à sua posição contrária a um ataque americano contra o Iraque.
Diante da mesma questão, Lula lembrou um ditado: "No Brasil, dizem que um bom político pensa e responde. Mas um político melhor ainda pensa e não responde".
Schröder foi reeleito no ano passado com um discurso crítico ao uso da força militar contra o ditador iraquiano, Saddam Hussein, o que causou um mal-estar diplomático com o governo Bush. Em 2003, a Alemanha ocupará uma vaga de membro provisório do Conselho de Segurança da ONU e presidirá o órgão.
Os dois líderes disseram que pretendem se apoiar mutuamente para obter um assento permanente no Conselho para a Alemanha e o Brasil, que são, respectivamente, as maiores economias da Europa e da América do Sul.
Lula reivindicou o fim do protecionismo europeu: "O Brasil vai continuar fazendo gestões com os amigos europeus e americanos para remover as barreiras que dificultam o livre comércio".
Schröder também abordou o assunto, ao dizer que a Alemanha é a principal interessada em abrir seu mercado e que ele espera que a União Européia, bloco do qual a Alemanha é um dos maiores líderes, caminhe nesse sentido, ajudando o Brasil.
O alemão apresentou Lula dizendo que tanto ele quanto seu colega brasileiro trabalharam na Volkswagen. Schröder já fez parte do conselho dessa indústria de automóveis alemã, uma das mais importantes empresas do país.
Lula lembrou ao chanceler que, enquanto presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC nos anos 70, ele estava do lado contrário. "Meus melhores anos políticos foram nas greves na porta da fábrica da Volkswagen", disse.
O presidente brasileiro visitou a capital alemã após participar do Fórum Econômico de Davos, na Suíça. Hoje, ele estará em Paris, onde almoça com o presidente da França, Jacques Chirac. Em seguida, retorna ao Brasil.


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