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Em posse, Lobo assina anistia e prega união
Novo presidente de Honduras promete instalar comissão da verdade prevista em acordo firmado por Zelaya e golpistas
"É justo que os hondurenhos e o mundo saibam realidade dos eventos anteriores, durante e depois do 28 de junho", justifica mandatário
Orlando Sierra/France Presse
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O novo presidente de Honduras, Porfirio Lobo, acena para o público presente no estádio Nacional deTegucigalpa após ser empossado
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Prometendo encerrar a crise
política que o país vive há sete
meses, o conservador Porfirio
"Pepe" Lobo, 62, assumiu ontem a Presidência de Honduras
com um discurso conciliador e,
como primeiro ato, sancionou
uma lei de anistia ao ex-presidente Manuel Zelaya e aos responsáveis por sua deposição,
em 28 de junho de 2009.
"O diálogo resolve tudo, é o
principal instrumento que os
seres humanos têm para superar as diferenças e construir a
paz (...). Serei o presidente para
todos, porque Honduras somos
todos", discursou Lobo, em cerimônia no estádio Nacional de
Tegucigalpa, que tinha vários
espaços vazios na sua arquibancada, capaz de abrigar cerca
de 35 mil pessoas.
No meio do discurso, Lobo
assinou o decreto de anistia para crimes políticos, aprovado
na madrugada de ontem pelo
novo Congresso, controlado
pelo governista Partido Nacional (PN). "Esse é o começo da
conciliação, o perdão, por parte
do Estado, para perdoar a todos", disse o novo presidente.
O decreto inclui o perdão a
supostos crimes como "traição
à pátria", terrorismo, usurpação de funções e abuso de autoridade cometidos entre 1º de janeiro de 2008 e ontem.
A medida deve beneficiar
principalmente Zelaya, deposto em meio a acusações de que
queria muar a Constituição para introduzir a reeleição presidencial. A iniciativa, considerada ilegal pelo Judiciário e pelo
Legislativo, foi a principal justificativa para a sua deposição.
Lobo também prometeu instalar em breve a comissão da
verdade prevista no acordo Tegucigalpa/San José, assinado
entre representantes de Zelaya
e do governo interino de Roberto Micheletti em outubro.
"É justo que o povo hondurenho e o mundo saibam a realidade dos eventos anteriores,
durante e após o 28 de junho."
Tanto a anistia quanto a comissão da verdade fazem parte
do esforço de Lobo para que
seu governo tenha reconhecimento internacional, que aparenta estar crescendo, incluindo os EUA e a maioria dos países da América Central.
Por outro lado, países da
América do Sul, liderados pelo
Brasil, desconhecem o resultado, sob a justificativa de que a
eleição não ocorreu num ambiente democrático.
Ontem, participaram da cerimônia os presidentes da República Dominicana, Leonel Fernández, do Panamá, Ricardo
Martinelli, e de Taiwan, Ma
Ying-jeou, além do vice colombiano, Francisco Santos. EUA,
El Salvador, França e Costa Rica estão entre os cerca de 20
países que enviaram representantes. Do Brasil, assistiu à posse o ex-prefeito do Rio e assessor internacional do DEM, Cesar Maia, convidado da Chancelaria hondurenha. Para ele, o
Brasil terá de reconhecer o governo Lobo cedo ou tarde.
Economia
O impacto do isolamento internacional na economia também foi ressaltado por Lobo no
discurso. "É um país com uma
quase inadministrável dívida
externa, e uma dívida interna
descontrolada. E, devido à crise
política, Honduras deixou de
receber mais de US$ 2 bilhões
em ajuda e financiamento externos (...). Recebemos o país
na condição econômica mais
difícil de sua história."
No ano passado, o PIB do
país encolheu 2%, no pior resultado desde 1999, quando o
furacão Mitch devastou a região. Já a dívida interna saltou
de US$ 670 milhões em 2008
para US$ 1,8 bilhão em 2009,
segundo estimativas oficiais.
O mau desempenho econômico tem sido atribuído tanto à
crise política quanto à crise
econômica dos EUA, seu principal parceiro econômico.
Apesar do momento dramático do país, a cerimônia transcorreu de forma tradicional.
Houve um desfile dos cerca de
300 prefeitos eleitos e shows de
música regional. No convite, os
homens eram orientados a vestir "traje de rua" -para as mulheres, era "traje formal".
A grande ausência foi a de
Micheletti, filiado ao Partido
Liberal, agora na oposição. Ele
discursou pela manhã numa
cerimônia religiosa, longe do
estádio, quando exortou a comunidade internacional a
apoiar Lobo e voltou a acusar
de Zelaya de querer "entregar o
país ao chavismo e ao socialismo do século 21".
A cerimônia chegou a atrasar
um pouco devido à pouca
afluência ao estádio e à rígida
inspeção, que atrasava a entrada. O estádio se esvaziou rapidamente depois do discurso de
Lobo, antes mesmo das apresentações musicais.
Eleito para um mandato de
quatro anos, sem reeleição, Lobo tem origens semelhantes a
Zelaya: é de uma família de produtores rurais do departamento agrário de Olancho. Como
quase toda a elite hondurenha,
estudou nos EUA -é graduado
em administração pela Universidade de Miami.
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