São Paulo, quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

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Em posse, Lobo assina anistia e prega união

Novo presidente de Honduras promete instalar comissão da verdade prevista em acordo firmado por Zelaya e golpistas

"É justo que os hondurenhos e o mundo saibam realidade dos eventos anteriores, durante e depois do 28 de junho", justifica mandatário


Orlando Sierra/France Presse
O novo presidente de Honduras, Porfirio Lobo, acena para o público presente no estádio Nacional deTegucigalpa após ser empossado

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Prometendo encerrar a crise política que o país vive há sete meses, o conservador Porfirio "Pepe" Lobo, 62, assumiu ontem a Presidência de Honduras com um discurso conciliador e, como primeiro ato, sancionou uma lei de anistia ao ex-presidente Manuel Zelaya e aos responsáveis por sua deposição, em 28 de junho de 2009.
"O diálogo resolve tudo, é o principal instrumento que os seres humanos têm para superar as diferenças e construir a paz (...). Serei o presidente para todos, porque Honduras somos todos", discursou Lobo, em cerimônia no estádio Nacional de Tegucigalpa, que tinha vários espaços vazios na sua arquibancada, capaz de abrigar cerca de 35 mil pessoas.
No meio do discurso, Lobo assinou o decreto de anistia para crimes políticos, aprovado na madrugada de ontem pelo novo Congresso, controlado pelo governista Partido Nacional (PN). "Esse é o começo da conciliação, o perdão, por parte do Estado, para perdoar a todos", disse o novo presidente.
O decreto inclui o perdão a supostos crimes como "traição à pátria", terrorismo, usurpação de funções e abuso de autoridade cometidos entre 1º de janeiro de 2008 e ontem.
A medida deve beneficiar principalmente Zelaya, deposto em meio a acusações de que queria muar a Constituição para introduzir a reeleição presidencial. A iniciativa, considerada ilegal pelo Judiciário e pelo Legislativo, foi a principal justificativa para a sua deposição.
Lobo também prometeu instalar em breve a comissão da verdade prevista no acordo Tegucigalpa/San José, assinado entre representantes de Zelaya e do governo interino de Roberto Micheletti em outubro. "É justo que o povo hondurenho e o mundo saibam a realidade dos eventos anteriores, durante e após o 28 de junho."
Tanto a anistia quanto a comissão da verdade fazem parte do esforço de Lobo para que seu governo tenha reconhecimento internacional, que aparenta estar crescendo, incluindo os EUA e a maioria dos países da América Central.
Por outro lado, países da América do Sul, liderados pelo Brasil, desconhecem o resultado, sob a justificativa de que a eleição não ocorreu num ambiente democrático.
Ontem, participaram da cerimônia os presidentes da República Dominicana, Leonel Fernández, do Panamá, Ricardo Martinelli, e de Taiwan, Ma Ying-jeou, além do vice colombiano, Francisco Santos. EUA, El Salvador, França e Costa Rica estão entre os cerca de 20 países que enviaram representantes. Do Brasil, assistiu à posse o ex-prefeito do Rio e assessor internacional do DEM, Cesar Maia, convidado da Chancelaria hondurenha. Para ele, o Brasil terá de reconhecer o governo Lobo cedo ou tarde.

Economia
O impacto do isolamento internacional na economia também foi ressaltado por Lobo no discurso. "É um país com uma quase inadministrável dívida externa, e uma dívida interna descontrolada. E, devido à crise política, Honduras deixou de receber mais de US$ 2 bilhões em ajuda e financiamento externos (...). Recebemos o país na condição econômica mais difícil de sua história."
No ano passado, o PIB do país encolheu 2%, no pior resultado desde 1999, quando o furacão Mitch devastou a região. Já a dívida interna saltou de US$ 670 milhões em 2008 para US$ 1,8 bilhão em 2009, segundo estimativas oficiais.
O mau desempenho econômico tem sido atribuído tanto à crise política quanto à crise econômica dos EUA, seu principal parceiro econômico.
Apesar do momento dramático do país, a cerimônia transcorreu de forma tradicional. Houve um desfile dos cerca de 300 prefeitos eleitos e shows de música regional. No convite, os homens eram orientados a vestir "traje de rua" -para as mulheres, era "traje formal".
A grande ausência foi a de Micheletti, filiado ao Partido Liberal, agora na oposição. Ele discursou pela manhã numa cerimônia religiosa, longe do estádio, quando exortou a comunidade internacional a apoiar Lobo e voltou a acusar de Zelaya de querer "entregar o país ao chavismo e ao socialismo do século 21".
A cerimônia chegou a atrasar um pouco devido à pouca afluência ao estádio e à rígida inspeção, que atrasava a entrada. O estádio se esvaziou rapidamente depois do discurso de Lobo, antes mesmo das apresentações musicais.
Eleito para um mandato de quatro anos, sem reeleição, Lobo tem origens semelhantes a Zelaya: é de uma família de produtores rurais do departamento agrário de Olancho. Como quase toda a elite hondurenha, estudou nos EUA -é graduado em administração pela Universidade de Miami.


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