São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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ESCUTA

No Reino Unido, oposição pede que o premiê Blair explique ao Parlamento a acusação de que mandou espionar Annan

Mais diplomatas dizem ter sido grampeados na ONU

DA REDAÇÃO

A acusação de que o Reino Unido instalou equipamento de escuta no gabinete do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, antes da Guerra do Iraque está causando problemas para o premiê Tony Blair, mas, no âmbito diplomático, não causou tanto furor. Pragmaticamente, os diplomatas deram a entender que a espionagem faz parte das relações entre países.
"Nossos amigos e aliados podem mesmo estar fazendo alguma coisa desse tipo. Isso não vai alterar em nada se eles confiam ou não em nós", disse Crispin Tickell, embaixador britânico na ONU entre 1987 e 1990.
O egípcio Boutros Boutros-Ghali, ex-secretário-geral da ONU (1992-96), não demonstrou surpresa ao comentar o suposto grampo. "No primeiro dia fui avisado: "Cuidado, seu escritório está grampeado"."
O embaixador russo na ONU, Sergei Lavrov, disse acreditar que a prática seja ilegal. "Mas mostra que os serviços de inteligência britânicos, pelo menos tecnicamente, são bastante profissionais."
O australiano Richard Butler, ex-chefe de inspetores da ONU para o desarmamento do Iraque (1997-99), afirmou que, para garantir que suas conversas não fossem gravadas, saía para caminhar no Central Park. "Tinha total certeza de que [meu telefone] estava grampeado por ao menos quatro membros permanentes do Conselho de Segurança: americanos, britânicos, franceses e russos. Não sei o que os chineses faziam."
Segundo a imprensa australiana, também o sueco Hans Blix, chefe de inspetores da ONU no Iraque entre 2000 e 2003, teve suas conversas grampeadas.
"Considerando a gravidade das afirmações, que não sei se são verdadeiras ou não, o primeiro-ministro [Blair] deveria vir à Câmara dos Comuns dar explicações", afirmou Charles Kennedy, líder do Partido Liberal Democrata.
Em Inverness, na Escócia, Blair preferiu discutir a questão em termos partidários. "A ameaça (...) é a aliança que tem atacado ao longo da história o Partido Trabalhista: a aliança entre alguns de nossa própria turma com o Partido Conservador, que está desesperado para nos tirar do governo."
A acusação de espionagem foi feita anteontem pela ex-ministra do Desenvolvimento Internacional Clare Short, que afirmou ter lido transcrições de conversas de Kofi Annan anteriores à Guerra do Iraque.


Com agências internacionais


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