|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JAPÃO
Asahara, líder da Aum Shinrikyo, idealizou ataque com gás sarin no metrô de Tóquio que matou 12 e intoxicou 5.000 em 1995
Guru de seita japonesa é condenado à morte
DA REDAÇÃO
O ex-guru de uma seita japonesa radical foi condenado à morte
por enforcamento ontem por
idealizar um atentado com gás sarin no metrô de Tóquio, em 1995,
no qual 12 pessoas morreram e
mais de 5.000 foram intoxicadas.
Shoko Asahara, 48, que fundou
a Aum Shinrikyo (Verdade Suprema) em 1987, foi considerado
culpado pela Corte Distrital de
Tóquio em 12 acusações.
Além do atentado no metrô, ele
foi sentenciado por um outro ataque com gás sarin na cidade de
Matsumoto (centro do Japão),
que matou sete pessoas em 1994, e
pelo assassinato de membros rebeldes de sua seita e de pessoas
que denunciavam as atividades
suspeitas do grupo. Ao todo, foi
responsabilizado por 27 mortes.
"Seus crimes não se limitaram
ao assassinato de indivíduos específicos, mas se expandiram para
atos indiscriminados de terrorismo. Eu o condeno à morte", disse
o juiz Shoji Ogawa, ao final do julgamento, que durou oito anos.
Os advogados de Asahara, cujo
verdadeiro nome é Chizuo Matsumoto, entraram com recurso. A
apelação poderá durar anos.
Embora não houvesse provas
de que Asahara tenha praticado
os crimes pessoalmente, o desafio
da acusação foi provar que ele os
idealizou e ordenou que seus seguidores os praticassem.
Já os advogados do ex-guru argumentaram que Asahara havia
perdido o controle sobre a Aum
Shinrikyo na época do atentado
no metrô. Ex-seguidores da seita
desmentiram a versão.
Asahara é o 12º membro da
Aum Shinrikyo a ser condenado à
morte, mas nenhum foi executado até agora. O Japão possui pena
de morte, mas raramente a aplica.
A visão de corpos nas plataformas do metrô e da fuga de passageiros sangrando pelas vias respiratórias abalou o mito do Japão
como um país seguro e alertou o
mundo para o perigo do uso de
armas de destruição em massa
por terroristas. "Essas ações mergulharam o Japão e o mundo em
profundo medo", disse o juiz.
Em 20 de março de 1995, cinco
membros da Aum Shinrikyo embarcaram em diferentes trens de
metrô que convergiam para o
centro de Tóquio levando sacos
com sarin -um gás desenvolvido pelos nazistas que age sobre os
sistemas nervoso e respiratório e
pode levar à morte.
Ao chegar ao tribunal ontem,
Asahara -algemado, vestido de
preto e com os cabelos e as barbas,
antes longos, agora curtos e já grisalhos- sorriu. Durante oito
anos de julgamento, ele se declarou inocente uma vez, mas nunca
testemunhou e só fez declarações
incoerentes e pouco claras.
A polícia de Tóquio mobilizou
400 policiais como medida preventiva para impedir uma eventual ação de apoiadores do ex-guru. Mais de 4.600 pessoas compareceram à Corte Distrital de Tóquio na tentativa de ocupar uma
das 38 cadeiras reservadas ao público. Os lugares foram sorteados.
Familiares de vítimas e sobreviventes -vários dos quais ainda
sofrem de dor de cabeça, problemas respiratórios e tontura- disseram que mesmo a pena de morte não lhes trará consolo.
"Embora o veredicto tenha sido
anunciado, nossos sentimentos
não mudarão", disse Fusae Kobayashi, que perdeu seu filho Yutaka, 23, no ataque com sarin de
Matsumoto, em 1994.
Shizue Takahashi, viúva de um
funcionário do metrô morto, culpou a polícia por ter fracassado
em impedir o atentado, embora já
existissem, anteriormente, informações sobre a ameaça representada pela seita. "Considero que a
polícia tem uma responsabilidade
tão grande quanto a Aum Shinrikyo", disse.
Seita apocalíptica
A Aum Shinrikyo misturava
conceitos do hinduísmo e do budismo com partes da Bíblia que se
referem ao apocalipse e profecias
de Nostradamus (século 16).
O ex-guru, que é cego de um
olho, previu que os EUA iriam
atacar nuclearmente o Japão e
transformar o país numa terra arrasada. Alegou ter viajado no
tempo até o ano de 2006, quando
teria sabido detalhes sobre a Terceira Guerra Mundial.
A seita atraiu cientistas graduados em algumas das melhores
universidades do país, o que possibilitou o desenvolvimento de
um arsenal de armas químicas e
biológicas encontrado no QG da
Aum Shinrikyo, aos pés do monte
Fuji, perto de Tóquio. No mesmo
local, Asahara foi detido cerca de
dois meses após o atentado.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Escuta: Mais diplomatas dizem ter sido grampeados na ONU Próximo Texto: Líder produziu armas para destruir governo Índice
|