São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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HAITI

Rebeldes se aproximam da capital, tomada por saques e violência; mais de 500 haitianos que tentaram fugir são repatriados

EUA e França pedem renúncia de Aristide

Ricardo Mazalan/Associated Press
Dezenas de haitianos realizam saques em armazém no porto de Porto Príncipe, capital do país


DA REDAÇÃO

Com a intensificação dos combates armados e as forças rebeldes cada vez mais próximas de Porto Príncipe, a capital haitiana, a França e os EUA pediram ontem a renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide.
Centenas de haitianos estão tentando deixar o país sem sucesso. Segundo o Departamento de Estado dos EUA, mais de 500 já foram repatriados após tentar chegar ao território americano pelo mar. Cuba, em contrapartida, se declarou "de portas abertas".
Com o intuito de evitar uma crise de refugiados e de proteger seus cidadãos que vivem no Haiti, cerca de 20 mil, os EUA estão estudando a possibilidade de enviar uma força militar maior ao país caribenho. Até agora, foram despachados 52 marines para proteger a embaixada americana.
Washington também decidiu assumir uma posição mais rígida em relação a Aristide, a quem ajudou a recolocar no poder, em 1994, após um sangrento golpe de Estado -ocorrido três anos antes. As informações foram dadas por um membro do alto escalão do governo dos EUA, que não quis ser identificado. Não ficou claro, porém, se Washington esteve em contato com o presidente haitiano após a decisão.
Segundo essa fonte citada pela agência de notícias Associated Press, os EUA questionam a habilidade de Aristide governar durante os dois anos que faltam para terminar seu mandato e defendem que ele entregue imediatamente o poder ao chefe da Corte Suprema, Boniface Alexandre, seu sucessor constitucional.
O temor de Washington, disse a fonte, é que a oposição derrube o presidente e instale no país um regime não-democrático.
A França também endureceu a posição contra sua ex-colônia. Em encontro com representantes do governo haitiano em Paris, o chanceler francês, Dominique de Villepin, recomendou a renúncia para pôr fim à insurreição que varre o país desde o último dia 5.
"O chanceler lembra que cada hora conta, e, se quisermos evitar uma espiral incontrolável de violência, é hora, mais do que nunca, de estabelecer um governo transitório de unidade nacional", disse um comunicado do gabinete de Villepin. Anteriormente, a Chancelaria francesa já dissera que cabia a Aristide a solução do impasse político criado no país, culpando-o pela crise, mas não falara oficialmente em renúncia.

Cerco fecha
Os rebeldes, que já controlam aproximadamente metade do país, tomaram mais uma cidade e fecharam o cerco sobre a capital, onde a violência se intensificou.
Roubos de carros e saques se tornaram comuns nas ruas de Porto Príncipe, onde simpatizantes do presidente disparam para o alto para atemorizar a população. Portando pistolas e facas, centenas de pessoas participaram de saques aos armazéns do principal porto do país. O mesmo ocorreu no aeroporto da capital.
Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a situação nos hospitais também é precária. Com as entradas da cidade bloqueadas pelos rebeldes, a comida também começa a faltar.
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch emitiu um alerta no qual diz que a tomada da capital levará a um banho de sangue indiscriminado. Ontem, os corpos de dois homens aparentemente executados jaziam a poucos quarteirões do palácio presidencial.
A cidade tomada ontem, Mirebalais, fica a apenas 40 km da capital e é considerada estratégica. Os rebeldes chegaram durante a madrugada, em um caminhão, e libertaram 67 presos. Até a noite de ontem não havia relatos sobre mortos.

Com agências internacionais

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