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IRAQUE SOB TUTELA
Exigência é feita depois de ação americana contra local de oração, que deixou 17 mortos no domingo
Xiitas querem entregar segurança a milícias
DA REDAÇÃO
A ação comandada pelos EUA
contra uma mesquita em Bagdá
que deixou pelo menos 17 mortos
anteontem levou a uma violenta
troca de acusações entre árabes
xiitas e americanos. Do presidente a líderes religiosos, os iraquianos dizem que o ataque é inadmissível e pedem investigações.
Parlamentares reivindicaram que
a segurança do país volte para
mãos iraquianas.
O alvo da ação, a mesquita Mustafa, não era exatamente uma
mesquita tradicional. Era um
complexo que pertencia ao antigo
partido de Saddam Hussein, o
Baath, usado hoje para orações e
cerimônias religiosas xiitas.
Para os americanos, não houve
ataque a nenhuma mesquita. "Só
realizamos a operação depois de
muita observação do local. É difícil para nós considerá-lo como
um lugar de oração", afirmou o
tenente-coronel Barry Johnson à
agência Associated Press. Ele disse que o local reunia seqüestradores. Quando tropas iraquianas e
americanas se aproximaram, teriam sido atacadas por atiradores.
Não foi o que os iraquianos viram pela televisão estatal. Todos
os mortos eram fiéis que oravam,
desarmados, em local sagrado.
Reações furiosas vieram de todos os lados. "Reivindicamos
uma rápida devolução do controle das questões de segurança ao
governo iraquiano", disse o porta-voz da Aliança Iraquiana Unida, Jawad al Maliki, aliado do primeiro-ministro Ibrahim al Jaafari, um xiita.
O administrador de Bagdá,
Hussein al Tahan, disse que ele interromperia toda colaboração
com as tropas e diplomatas americanos enquanto não houvesse
uma investigação séria. O presidente iraquiano decidiu encabeçar a apuração.
O ministro do Interior iraquiano, Bayan Jabr, classificou a ação
americana de "invasão de uma
mesquita para matar fiéis, uma
horrível violação". O bloco xiita
no Parlamento cancelou ontem a
sessão de negociações para formar um governo "de unidade",
que se arrastam desde dezembro.
Apesar das versões tão diferentes sobre o que teria acontecido na
mesquita, uma coisa é certa: a tal
"unidade" ficou ainda mais longe.
Segundo Joost Hiltermann, do International Crisis Group, ONG
que estuda a prevenção de conflitos, os últimos acontecimentos
podem complicar as inéditas conversas entre os EUA e o Irã sobre a
estabilização do Iraque.
"Os xiitas acreditam que os
americanos, que os colocaram no
poder, farão o que eles vêem como "segunda traição". Primeiro,
foram abandonados depois da
primeira Guerra do Golfo nas
mãos de Saddam, e agora os americanos estariam dando as costas
para eles de novo", lembra.
Mais de 150 pessoas morreram
no Iraque apenas entre domingo
e ontem em diversos atentados e
na violência entre árabes xiitas e
árabes sunitas. Um terrorista suicida matou 40 pessoas e deixou
vinte feridas em uma base militar
em Tal Afar (norte). As instalações, usadas conjuntamente por
iraquianos e americanos, servem
como centro de recrutamento.
Tal Afar é a cidade que o presidente dos EUA, George W. Bush,
usou como exemplo de lugar seguro no terceiro aniversário da invasão do Iraque, há oito dias.
Em Bagdá, também no domingo, foram encontrados trinta cadáveres, alguns decapitados. A cena se repete quase diariamente
desde um ataque contra uma
mesquita xiita em Samarra, em 22
de fevereiro. Parte dos assassinatos são creditados a milícias xiitas
e a esquadrões da morte.
Com agências internacionais
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