São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE SOB TUTELA

Exigência é feita depois de ação americana contra local de oração, que deixou 17 mortos no domingo

Xiitas querem entregar segurança a milícias

DA REDAÇÃO

A ação comandada pelos EUA contra uma mesquita em Bagdá que deixou pelo menos 17 mortos anteontem levou a uma violenta troca de acusações entre árabes xiitas e americanos. Do presidente a líderes religiosos, os iraquianos dizem que o ataque é inadmissível e pedem investigações. Parlamentares reivindicaram que a segurança do país volte para mãos iraquianas.
O alvo da ação, a mesquita Mustafa, não era exatamente uma mesquita tradicional. Era um complexo que pertencia ao antigo partido de Saddam Hussein, o Baath, usado hoje para orações e cerimônias religiosas xiitas.
Para os americanos, não houve ataque a nenhuma mesquita. "Só realizamos a operação depois de muita observação do local. É difícil para nós considerá-lo como um lugar de oração", afirmou o tenente-coronel Barry Johnson à agência Associated Press. Ele disse que o local reunia seqüestradores. Quando tropas iraquianas e americanas se aproximaram, teriam sido atacadas por atiradores.
Não foi o que os iraquianos viram pela televisão estatal. Todos os mortos eram fiéis que oravam, desarmados, em local sagrado.
Reações furiosas vieram de todos os lados. "Reivindicamos uma rápida devolução do controle das questões de segurança ao governo iraquiano", disse o porta-voz da Aliança Iraquiana Unida, Jawad al Maliki, aliado do primeiro-ministro Ibrahim al Jaafari, um xiita.
O administrador de Bagdá, Hussein al Tahan, disse que ele interromperia toda colaboração com as tropas e diplomatas americanos enquanto não houvesse uma investigação séria. O presidente iraquiano decidiu encabeçar a apuração.
O ministro do Interior iraquiano, Bayan Jabr, classificou a ação americana de "invasão de uma mesquita para matar fiéis, uma horrível violação". O bloco xiita no Parlamento cancelou ontem a sessão de negociações para formar um governo "de unidade", que se arrastam desde dezembro.
Apesar das versões tão diferentes sobre o que teria acontecido na mesquita, uma coisa é certa: a tal "unidade" ficou ainda mais longe. Segundo Joost Hiltermann, do International Crisis Group, ONG que estuda a prevenção de conflitos, os últimos acontecimentos podem complicar as inéditas conversas entre os EUA e o Irã sobre a estabilização do Iraque.
"Os xiitas acreditam que os americanos, que os colocaram no poder, farão o que eles vêem como "segunda traição". Primeiro, foram abandonados depois da primeira Guerra do Golfo nas mãos de Saddam, e agora os americanos estariam dando as costas para eles de novo", lembra.
Mais de 150 pessoas morreram no Iraque apenas entre domingo e ontem em diversos atentados e na violência entre árabes xiitas e árabes sunitas. Um terrorista suicida matou 40 pessoas e deixou vinte feridas em uma base militar em Tal Afar (norte). As instalações, usadas conjuntamente por iraquianos e americanos, servem como centro de recrutamento. Tal Afar é a cidade que o presidente dos EUA, George W. Bush, usou como exemplo de lugar seguro no terceiro aniversário da invasão do Iraque, há oito dias.
Em Bagdá, também no domingo, foram encontrados trinta cadáveres, alguns decapitados. A cena se repete quase diariamente desde um ataque contra uma mesquita xiita em Samarra, em 22 de fevereiro. Parte dos assassinatos são creditados a milícias xiitas e a esquadrões da morte.


Com agências internacionais

Texto Anterior: EUA: Bush diz que imigrantes "não são uma ameaça" e pressiona Senado
Próximo Texto: Panorâmica - EUA: Terrorista diz que estava designado para atacar a Casa Branca no 11 de Setembro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.